619: Dança da Morte 619: Dança da Morte Curvado e segurando seu traseiro enquanto fungava sem parar, Bastião sentiu uma sensação similar à dor fantasma. Embora a flecha que havia perfurado impiedosamente sua bunda tivesse desaparecido, a memória de toda a situação permanecia e isso tornava quase impossível para Bastião esquecer.

“Meu pobre bumbum,” Bastião reclamou, chorando com uma expressão desolada e triste. “Não sou mais casto. Fui violado da pior maneira, e ninguém está me consolando. Meu coração dói tanto.”

“Ah, eu só acho que é sua bunda que ainda dói, cara,” Nemean brincou, arrancando uma rajada de risadas de Lux, Ezra e Altair. Por outro lado, recebeu apenas um olhar odioso de Bastião.

“Seja como for, seu maldito idiota,” Bastião rosnou, eriçando-se como um cão enfurecido. No entanto, essa raiva não era tão intimidadora quanto ele imaginava ser. Na verdade, gerou uma reação oposta ao esperado, e a culpa era principalmente dele.

“Falando em idiotas, acho que você ganhou um belo acréscimo aí,” Nemean continuou a provocar, espremendo o máximo de gracejos humorísticos que conseguia.

Respondendo com um resmungo que destacava seu desagrado, Bastião levantou-se e sacudiu a perna, sentindo a dor em sua bunda diminuir significativamente. Levando tudo em consideração, como um Disciplinado com habilidades defensivas superiores, sua taxa de recuperação era surpreendente, e Bastião era resiliente como nenhum outro.

O que falava do poder perfurante da flecha de Lux. Ela continha uma quantidade terrível de força insidiosamente compactada na ponta da flecha para garantir uma ferida de perfuração bem-sucedida. Até o formato da flecha sugeria que favorecia o poder de perfuração em detrimento do poder de parada.

Após alguns minutos adicionais para se recuperar, Bastião estava de pé novamente, encarando Lux com uma expressão cheia de desafio, malícia e vingança.

“Eu tenho uma conta para acertar com você, seu maldito ladrão de bundas. E sim! Eu sei o que estou dizendo agora. Faz sentido, cara. Aquele cara, uh—” Bastião juntou seus pensamentos, procurando as palavras certas até ter um momento de epifania. “—Robin Hood! Ele era um bandido com um arco e flecha. Então estou certo.”

Não havia argumento a ser feito, e o silêncio que se seguiu fez Bastião se sentir triunfante, estufando o peito confiantemente até que Nemean provocasse novamente seu ponto fraco.

“Essa é uma expressão bastante confiante para alguém que acabou de perder a bunda por negligência. Deveríamos ter elaborado um plano levando em consideração a capacidade de disparo rápido do cara antes. Quer dizer, como diabos você faz um arco e flecha parecerem uma metralhadora?!”

“Você foca em Agilidade, Controle e Percepção,” Altair respondeu de forma pragmática, apesar do tom aparentemente retórico de Nemean.

Lux concordou com a cabeça. “Ele está certo. No entanto, mais especificidades entram em jogo quando falamos sobre nossos Atributos. Como você sabe, nosso Tipo e Classe tornam o efeito de cada um único para nosso conjunto de habilidades.”

“Verdade,” Altair concordou. “Mas chega de conversa, viemos aqui para nos desafiarmos e entender o que podemos conseguir como Adeptos. Chega de papo furado, vamos trabalhar.”

“Sim, senhor!” Nemean ofereceu uma saudação irônica, correndo para longe com Bastião e Lux.

Enquanto Lux continuava, a dupla parou para elaborar métodos capazes de enfrentar seu habilidoso oponente, que Bastião não subestimava mais. Uma flecha na bunda foi lição suficiente para ele. E repetir isso seria pura insanidade.

Enquanto isso, Altair e Ezra permaneciam a poucos metros de distância, olhando um para o outro calmamente. Embora parecessem relaxados, muitos de seus músculos estavam tensos por baixo de suas finas armaduras de couro, e suas mãos repousavam nas bainhas de suas armas.

Altair foi o primeiro a se preparar, as elegantes baionetas tão pretas quanto a noite morta, sendo lentamente retiradas de suas bainhas escuras e impecáveis. Uma canção sutil e estridente pairava no ar, entoando uma melodia sombria enquanto a escuridão a seus pés se tornava líquida e arrepiante.

“Como você quer fazer isso? Com tudo ou pegar leve?”

“Com tudo,” Ezra respondeu, sua expressão de aço e postura incrivelmente afiada como as cimitarras que ela manejava. Apenas luz artificial era fornecida pela grande luz mágica posicionada acima, mas suas lâminas brilhavam com uma radiancia tentadora.

Algo sobre suas armas parecia fora do comum, forçando Altair a focar intensamente. Após algum tempo, no entanto, ele foi forçado a desviar seu foco.

“Estranho. Por que senti como se sua lâmina estivesse tentando cortar minha própria atenção?”

“Quem sabe,” Ezra deu um sorriso enigmático.

Então, ela avançou pela sala de treinamento, fechando a distância num piscar de olhos. Altair encontrou seu golpe de raspão com um ataque oposto. Ela subiu aos céus, e sua lâmina desceu à terra.

Nem Altair nem Ezra focavam em Força como sua prioridade. Ainda assim, o poder que empregavam era imenso, evidenciado pela cedência do piso em oposição às suas lâminas.

Naturalmente, suas armas impecáveis eram mais resilientes que o chão em que estavam, que poderia ser consertado. Esses custos estavam incluídos no orçamento inicial.

Gemidos sonoros surgiam ocasionalmente até que Altair recuasse, resultando num breve desequilíbrio de Ezra. Foi um deslize abrupto, um que ela sabia que poderia custar caro se houvesse alguma inimizade entre eles ou se a situação fosse crítica, mas essa preocupação não passava por sua mente no momento.

Em vez disso, ela transferiu seu peso para o outro pé de apoio, lançando-se numa corrida violenta para seguir de perto o recuo de Altair.

Uma sequência de golpes se seguiu, cada lado movendo-se mais rápido do que um olho humano comum poderia acompanhar. Altair e Ezra alcançaram uma dança arrebatadora da morte ao forçarem seus atributos até seus limites presumidos. Seu ritmo era abrupto, destrutivo e calculado, cada golpe parecendo ser mortal, mas evitado por esquivas ágeis e elegantes.

“Nada mal,” Altair ofegou, enxugando o suor da testa. “Sua lâmina é tão precisa e rápida. Afiada também. E esses conceitos foram assimilados em seus movimentos. Na verdade…”
Ezra sorriu, seu peito abundante subindo e descendo num ritmo exagerado. “Você também não está nada mal. Mas também sei que você está se contendo. Cadê o uso daquelas sombras escuras que você comanda? E o que me diz do frio profundo que paira mas não está sendo empregado?”

“Não é proposital,” Altair admitiu. “Em seu estado atual, não está exatamente apto para batalha. Exige muita atenção e limita o que posso fazer fisicamente. Além disso… poderia dizer o mesmo sobre você.”

“O que quer dizer?” Ezra ergueu uma sobrancelha. “Estou operando nos limites de minha capacidade física.”

“Fisicamente, talvez. Mas e aquele ritmo que você começou a construir e a mudança sutil em sua lâmina? Isso não foi uma coincidência, nem foi um efeito de você estar envolvida pela batalha,” Altair franziu a testa.

Parecia uma acusação, mas Altair estava confiante em seus sentidos. Se eles lhe diziam que uma ameaça estava diante dele, ele estava inclinado a confiar nessa impressão.

“Bem, você não está errado. A Lâmina Inquebrável não é apenas uma Classe ou objeto físico do qual ainda não obtive reconhecimento… é muito mais, e é o que almejo ser.”

Um momento depois, Ezra e Altair estavam envolvidos em outra rodada intensa de treinos; só que a vibe e a urgência de seus confrontos haviam mudado… se tornado totalmente perigosos.