Unidos ao Príncipe Cruel - Capítulo 914
Capítulo 914: Não Sou da Sua Família
E não apenas isso, havia as inúmeras vidas que Islinda havia tirado durante a guerra em andamento para proteger o reino dos fadas. Cada morte havia sido justificada—ou assim ela dizia a si mesma—mas aquelas mortes não eram sua família. Eles não eram pessoas com quem ela havia crescido, compartilhado sangue.
Mas isso? Matar seus próprios irmãos, as mulheres que os haviam criado, tudo por poder? Ela não conseguia conciliar isso. Ela odiava essa bobagem de “somente o mais forte governa” que parecia arraigada em criaturas como as aparições e os Fae.
“Por que casar com tantas esposas sabendo que só terminaria em caos?” Ela perguntou com raiva. “Por que seu pai as submeteu a tal destino?”
Os lábios de Zal’therak se curvaram em um sorriso tênue, embora não houvesse humor nele. “Talvez você esteja certa, Islinda. Meu pai foi um tolo, assim como seus pais antes dele. Mas este é o nosso caminho, e eu não vou me desculpar por fazer o que tive que fazer para sobreviver. Minha mãe precisava de mim, e eu precisava protegê-la. O resto… eles teriam nos destruído se eu não tivesse atacado primeiro.”
Seu tom era objetivo, mas havia um lampejo de algo mais profundo em seus olhos, uma sombra de dor, talvez arrependimento, embora estivesse enterrado muito fundo para Islinda ter certeza. Ela encontrou seu olhar e percebeu que não tinha resposta. Com todos os seus julgamentos, ela não podia negar que poderia ter feito o mesmo se estivesse em seu lugar.
Ainda assim, o pensamento a perturbou, e ela desviou o olhar, suas mãos se apertando firmemente no colo. “Eu não acho que jamais entenderei seus modos,” ela admitiu.
“E eu não espero que você entenda,” Zal’therak disse, sua voz agora mais suave. “Mas talvez, com o tempo, você venha a ver que a sobrevivência às vezes exige escolhas que nunca desejamos fazer.”
A atmosfera na sala mudou completamente. A conversa leve dissipou-se, deixando um peso de constrangimento em seu lugar. Islinda sentou-se quieta, reunindo seus pensamentos antes de reunir a coragem de abordar o elefante na sala.
“Por que você não mencionou a guerra?” ela finalmente perguntou, a curiosidade em seu tom. “Em vez disso, estamos aqui conversando como se fôssemos velhos amigos.”
Zal’therak encontrou seu olhar. “Exatamente. Esse é o ponto,” ele disse incisivamente. “Eu disse que não confio facilmente, mas você continua me conquistando, Islinda Grace Remington.” Seus olhos penetrantes se fixaram nos dela como se ele estivesse tentando ver diretamente em sua alma.
Islinda piscou, pega de surpresa. Ela não sabia como se sentir em relação a isso. Embora o sentimento carregasse uma leve nota de lisonja, o subtexto era claro: ele não confiava nela completamente, assim como ela não confiava nele. Eles estavam dançando na lâmina de uma navalha, nenhum dos dois disposto a estender a mão completamente.
Zal’therak recostou-se ligeiramente, sua postura mudando para algo mais casual, mas não menos intenso. “Falaremos sobre política amanhã. Por enquanto, quero conhecer a pessoa em quem talvez confie a segurança do meu povo.” Um leve sorriso cruzou seus lábios enquanto ele acrescentava: “Além disso, eu queria te apresentar à minha mãe.”
Antes que Islinda pudesse responder, a pesada porta de madeira rangeu ao abrir. Uma figura entrou no quarto. Islinda virou a cabeça e congelou quando seus olhos pousaram na recém-chegada.
A mulher que entrou era deslumbrante, com cabelos escuros sedosos caindo sobre os ombros, olhos castanhos quentes que pareciam tanto convidativos quanto cautelosos. Ela tinha uma elegância ao seu redor, conduzindo-se com quieta autoridade, sua beleza quase avassaladora.
Duas coisas aconteceram naquele instante.
Primeiro, Islinda sentiu uma onda avassaladora vinda de dentro dela. Azula, que estava adormecida dentro dela desde que chegaram aqui, despertou para a vida como uma fera adormecida de repente despertada. Sua presença era elétrica, venenosa e cheia de ódio desenfreado.
“Fayre,” Azula sibilou, sua voz gotejando veneno. Não era apenas raiva, era um ódio profundo e consumido que gelou Islinda até o âmago.
Em segundo lugar, a mulher deslumbrante congelou em seus passos. A cor sumiu de seu rosto, deixando-a pálida como se tivesse visto um fantasma. Suas mãos tremiam visivelmente, e ela cambaleou para trás, sua compostura rachando. “A-Azula…” a mulher balbuciou, sua voz tremendo como se tivesse acabado de ser confrontada por seu pior pesadelo.
A cabeça de Islinda começou a girar, as peças de um quebra-cabeça impossível se encaixando com clareza aterrorizante.
Fayre.
Havia apenas uma Fayre que Azula já havia desprezado tanto — a companheira de Benjamin. A primeira mulher que Azula possuíra antes de abandoná-la e tomar o controle de seu filho não nascido. O filho de Fayre.
Ela.
Tudo parecia desacelerar, o peso da realização caindo sobre ela como uma onda gigante. Se Fayre tinha sido uma vez a hospedeira de Azula, e Fayre tinha um filho… então essa mulher deslumbrante e trêmula era…
“Mãe…” Islinda sussurrou, a palavra escapando de seus lábios antes que pudesse pará-la. Soou estranho aos seus próprios ouvidos. Sua garganta apertou, seu peito arfando com o esforço de respirar.
Sua mãe estava viva.
Sua mãe havia sobrevivido.
E não apenas isso, ela se casou com o Rei Espectro e teve o filho dele. Zal’therak. A verdade afiada atingiu Islinda como uma adaga. Ela tinha um meio-irmão. Seus pensamentos giravam, saindo de controle enquanto o bile subia em sua garganta.
Islinda se sentiu enjoada. A sala se inclinava perigosamente, sua cabeça latejando com a verdade que havia acabado de aprender. Diferente da primeira vez, ela não conseguiu combater a vontade desta vez e se dobrou, vomitando violentamente no chão, esvaziando o conteúdo de seu estômago.
Sua mãe. Zal’therak. Seu meio-irmão. Os deuses tinham que estar brincando com ela.
Islinda nem percebeu que alguém estava dando tapinhas nas suas costas até o último momento, quando uma voz rompeu sua névoa. “Calma aí,” Zal’therak disse, seu tom estranhamente suave e calmo.
Ela olhou para cima, seu rosto lacrimoso e avermelhado encontrando os olhos castanhos e sábios dele. Seu coração afundou ainda mais quando viu o lampejo de entendimento em seu olhar. “Você sabia?” ela acusou, sua voz tremendo com partes iguais de raiva e descrença.
Zal’therak assentiu levemente. “Eu não tinha certeza,” ele admitiu, “Mas então você possui o olhar de nossa mãe. Sem mencionar que ela sempre falava da filha que havia deixado no reino humano. Eu sabia que ela tinha um filho lá, mas aqui você está, no reino Fae. Tive que ter certeza.”
O peito de Islinda arfava com uma emoção que ela não sabia como processar. Um movimento chamou sua atenção, e sua cabeça virou para Fayre.
“I-Islinda…” Fayre balbuciou, sua voz vacilando enquanto suas mãos trêmulas se estendiam em direção à filha.
Não havia mais medo em seus olhos. Agora, havia apenas reconhecimento pela criança que havia deixado para trás, agora crescida e de pé diante dela. “Minha filha,” ela sussurrou, seu tom encharcado de arrependimento.
Mas o sangue de Islinda fervia. A visão de Fayre como se ela tivesse o direito de reivindicá-la agora, preenchia-a com um ódio fervente. Ela se encolheu como se a mulher fosse uma víbora pronta para atacar.
“Não me chame assim,” Islinda cuspiu, veneno pingando de cada palavra. Seu olhar queimava em Fayre, cortando qualquer ilusão de reconciliação.
O rosto de Fayre desmoronava, mas Islinda não se importava. Ela avançou, empurrando Fayre para fora do seu caminho com uma força que não deixou espaço para dúvidas sobre seus sentimentos e saiu.