Capítulo 674: Não Compartilhando

Islinda acordou naquela manhã com uma sensação de grande tensão, meio que esperando encontrar-se transformada de alguma maneira bizarra — talvez crescendo um rabo ou algo igualmente estranho. O sonho sobre o demônio Azula estava começando a mexer com ela. Mas, para sua surpresa, tudo parecia normal. Normal demais, na verdade, para o seu gosto.

Hoje era seu aniversário, um dia que havia pairado sobre ela com uma sensação inquietante por semanas, desde que veio a revelação de que ela não era totalmente humana. Ela havia ido para a cama na noite anterior com as garantias de Eli ecoando em sua mente. “Nada vai acontecer”, ele havia prometido. “Tudo vai dar certo.”

Apesar das palavras confiantes dele, o pressentimento que ela sentia era difícil de ignorar. Mas agora, enquanto Islinda se deleitava no banho, tudo parecia incomumente calmo.

“Minha dama, você tem uma tensão grande nos ombros, alguém poderia pensar que, após uma noite bem passada com Sua Alteza o Príncipe Aldric, você deveria estar completamente relaxada,” Ginger disse, massageando o ponto tenso no ombro dela.

Islinda lutou para impedir que o rubor subisse às suas bochechas. Embora Eli tivesse saído de sua cama antes do feitiço matinal, elas podiam entender o que havia acontecido quando ela solicitou sua bebida usual — aquela que ela tomava para evitar gravidez. Ela não estava correndo riscos aqui.

Em uma palavra, praticamente todos no Palácio de Inverno sabiam que ela e Aldric estavam juntos. Ela era sua companheira exótica, também conhecida como amante humana. Por causa disso, não era incomum que suas criadas agora íntimas fizessem comentários sobre seu relacionamento, especialmente Ginger. Ela já estava bastante acostumada.

“Isso não é da sua conta, a vida privada de sua damel está fora da sua opinião,” resmungou Ailee.

Ginger virou-se para ela com um olhar carrancudo: “Sua dama não está reclamando!”

“Só porque sua dama não está falando, não significa que isso não a incomoda,” retrucou Ailee.

“Uhm, meninas…” Islinda tentou intervir, mas obviamente as mulheres estavam determinadas a discutir até o fim desta vez.

“Ao contrário do que você pensa, nossa dama está feliz por ter alguém com quem discutir seus momentos privados,” argumentou Ginger.

“Você está simplesmente sendo intrometida!”

“Ou talvez você esteja apenas com ciúmes de mim, sua Fae azeda e rígida!”

“O quê?”

“Admite que tem inveja do fato de que eu me conecto com as pessoas mais rápido do que você.”

Raiva brilhou nos olhos de Ailee: “Você deve estar fora de si!”

Enquanto tudo isso acontecia, o Príncipe Wayne, o observador silencioso que havia sido barrado do banheiro, sorrateiramente entrou.

E lá estava ela, sua prometida. No entanto, seu nariz se enrugou de desgosto ao ainda conseguir cheirar Aldric nela. Nem mesmo os sabonetes florais conseguiam remover o cheiro do Fae sombrio, como se ele houvesse penetrado profundamente na pele de Islinda, suas peles se misturando. Para seu desagrado.

Talvez ele devesse banhá-la ele mesmo e lamber o cheiro de sua pele com sua língua. Sem mencionar que teria um banho agradável com sua princesa. O Príncipe Wayne tinha um brilho distorcido nos olhos ao pensar no que estava prestes a fazer.

Então, enquanto Ginger e Ailee discutiam, com Islinda parecendo impotente para interferir, ele aproveitou o momento e saltou na banheira.

“Ahh!” Islinda gritou, assustada. “Saia! Saia desta banheira, seu pequeno travesso.” Ela se debatia na água, tentando alcançar o Príncipe Wayne, que parecia se mover facilmente fora do alcance dela, nadando na banheira.

Ginger e Ailee pararam de discutir instantaneamente, voltando-se para a banheira alarmadas. Pelos deuses, o que elas fazem agora? Isso não teria acontecido se elas não estivessem ocupadas discutindo.

Ailee foi a que conseguiu tirar o Príncipe Wayne da banheira e olhou para o gato com tal expressão de fúria que parecia prestes a assassinar o pobre, esqueça isso, o travesso gato. Exceto que Ginger rapidamente interveio, pegando-o de seus braços.

“Ele é apenas um gato,” protestou Ginger sob o olhar furioso de Ailee.

“Acho que já terminei por aqui,” Islinda saiu da banheira, cobrindo sua nudez com uma toalha. Ela estava decidida a sair antes que o Príncipe Wayne tentasse um segundo salto. Por outro lado, ele havia interrompido a discussão das Fadas.

“Precisa de mais alguma coisa, minha dama?” Ailee perguntou depois de ajudá-la a se vestir.

“Talvez da próxima vez não discutam em minha presença. Você e Ginger não sabem o quanto invejo seu relacionamento. Vocês não são irmãs, pelo menos não biologicamente, mas são próximas o suficiente para passar como tal. Eu nunca tive tal privilégio com meus meios-irmãos. Não estraguem isso por questões mesquinhas, especialmente não na minha presença. Embora eu aprecie vocês cuidarem de mim, Ginger está certa ao mesmo tempo, você precisa relaxar um pouco, Ailee. Mais uma discussão e eu dou vocês para outro lugar e escolho novas criadas,” Islinda as ameaçou, mesmo que não fosse sua intenção.

Ginger e Ailee eram suas aliadas mais próximas nesse lugar e ela não tinha tempo para começar a construir tal confiança com novos servos. Sem mencionar que não havia garantia de que seriam leais a ela.

“Desculpe, minha dama. Isso não se repetirá de novo.” Ginger e Ailee se desculparam em coro, como se tivessem ensaiado a frase milhões de vezes.

Satisfeita com a resposta delas, Islinda então virou-se para o Príncipe Wayne com uma carranca. Parecia que, em sua tentativa de se tornar uma boa dona, ela poderia ter mimado demais o gato no processo.

“E você!” Ela apontou para ele e o Príncipe Wayne miou em resposta. Islinda não podia dizer como ela sabia, mas sentia isso profundamente, de que o gato não estava nem um pouco arrependido e provavelmente iria repetir o feito.

“Invada meu banho mais uma vez e eu juro aos céus que mando você de volta para onde veio.” Ela o avisou.

Houve novamente aquele miado e o Príncipe Wayne riu em sua forma real. Sua princesa acha que pode mandá-lo embora. Mal sabia ela que estavam ligados para o resto da vida. Ele estava apenas esperando seu tempo e parecia que esse momento finalmente havia chegado. Hoje era o dia D. Logo, sua princesa lhe pertenceria.

“Então, por onde começamos?” Ginger bateu palmas, entusiasmada.

Como era seu aniversário, Eli havia dado a Islinda a chance de visitar a Corte de Inverno com a condição de que Kalamazoo e outros guardas a acompanhassem. A reunião estava marcada para mais tarde à tarde, e Eli temia que, com o tempo se esgotando, Elena pudesse recorrer a medidas extremas, incluindo ferir Islinda. Ele não podia deixar isso acontecer, daí a forte segurança.

“Acho que qualquer lugar divertido,” Islinda deu de ombros.

Para ser honesta, Islinda não estava realmente com humor para celebrar este aniversário. Ela tinha muitas coisas em mente. Ginger e Ailee haviam ficado de olho em Elena, e de acordo com a busca delas, a Fae estava estranhamente reclusa. Isso era uma evidência de como as fontes de Aldric eram mais capazes e confiáveis em comparação com as delas, considerando que as duas criadas não tinham ideia de que Elena havia assassinado Karle intencionalmente mantendo-se quieta, tentando encobrir seus rastros.

“Nesse caso, deixe comigo! Vou garantir que você tenha a melhor experiência de aniversário de todas!” Ginger prometeu.

Islinda suspirou, sabendo que estava prestes a ter a experiência mais estranha com Ginger liderando este evento. Juntas, elas saíram para encontrar Gabbi e Milo do lado de fora. Eles a acompanhariam, exceto Andre. Eli havia claramente avisado sobre envolver-se com o Príncipe Fae do Outono. Islinda sabia que Eli estava sendo mesquinho, mas não tinha escolha senão concordar para evitar mais discussões.

Islinda adoraria ter uma conversa individual com Andre sobre o que ele havia descoberto sobre ela, mas ela precisaria ser esperta ao abordar isso para evitar aborrecê-lo. Eles precisavam se encontrar antes da reunião da tarde. Islinda recordou Andre apontando que, se ela fosse mestiça, então seus poderes certamente se revelariam hoje.

Se isso fosse verdade, ela adoraria ter o controle e não se revelar para as Fadas durante a reunião.

“Você está bem?” Gabbi tocou Islinda, assustando-a.

“Estou bem.” Islinda sorriu para ela.

“Vamos!” Ginger declarou, sem saber dos pensamentos que corriam pela cabeça de Islinda.

—

Enquanto isso, escondidos a metros do Palácio de Inverno de Aldric, Isaac e sua companheira Maxi estavam esperando. Eles não podiam entrar porque o príncipe fada sombrio havia dado uma ordem para não entrarem. Desrespeitar isso seria um insulto a ele. Infelizmente, Islinda estava em perigo, e eles estavam determinados a salvá-la, independentemente das consequências.

“Então, o que fazemos agora?” Isaac perguntou à sua companheira genial, que os havia levado até ali.

“Nós esperamos,” Maxi anunciou, imperturbável. “Não ouviu o ditado humano, ‘o cachorro paciente come o osso mais gordo’? Confie em mim, em situações como esta, uma abertura normalmente aparece…”

Maxi ainda estava falando quando as portas do palácio abriram e uma carruagem saiu. Com sua incrível visão, ela visualizou a forma de Islinda.

Um sorriso formou-se em seus lábios. “Falando em aberturas, uma acabou de se apresentar. Vamos lá, vamos dizer olá a Islinda.” Ela beijou Isaac nos lábios e depois desapareceu antes que ele pudesse se recuperar.

Que companheira. Isaac suspirou extasiado e foi atrás dela.