Capítulo 652: Tema-me — 2
A questão sobre um feitiço é que ele nunca dura para sempre. Todo feitiço tem seu tempo. Especialmente um feitiço lançado por uma bruxa que foi morta após cumprir seu propósito. A bruxa já não vivia, o que significava que o feitiço eventualmente expiraria. A ideia nunca passou pela mente de Benjamin, que pensava ter sido inteligente, mas bruxas eram tão astutas quanto os Fae e ela nunca lhe disse que o feitiço precisava ser renovado, caso contrário, perderia sua força.
Diferente de Benjamin, Azula estava plenamente ciente disso e vinha aguardando o momento certo. Ela não estava apenas gritando e afundando em miséria durante seu tempo em solidão. Ela vinha pensando em formas de despedaçar as correntes e na ira que despejaria sobre todos os fadas sombrias assim que se libertasse.
Tudo o que levou para desgastar a magia que a mantinha cativa foram cinco anos e o seu sangue. Muito dele. Azula não poderia ter feito isso sozinha, e foi por isso que provocou intencionalmente o Fae sombrio, fazendo-o golpeá-la até que sangrasse abundantemente. Tolos ignorantes, eles não faziam ideia do que o sangue de um demônio podia fazer. Não é à toa que as bruxas buscavam desesperadamente por sangue puro de demônio para seus grandes feitiços.
Os olhos do Fae sombrio se arregalaram em descrença enquanto Azula arrancava facilmente a corrente da parede. Seu choque era palpável enquanto ele cambaleava para trás, perdendo o equilíbrio até cair no chão com um baque. Era impossível. As correntes foram projetadas especificamente para mantê-la cativa, para impedir qualquer chance de fuga. E, no entanto, lá estava ela, desafiando todas as expectativas.
Enquanto ele estava sentado ali, sua mente girando com o inesperado desenrolar dos eventos, Azula não perdeu tempo em se libertar completamente. Com um movimento rápido, ela soltou a outra mão de seus grilhões, causando um estrondo das correntes no chão que reverberou com um senso de desgraça iminente.
Finalmente, o medo infiltrou-se no coração do Fae sombrio ao perceber que Azula não era uma prisioneira comum. Ela era uma força a ser temida, uma adversária formidável, alguém que pararia por nada para alcançar seus objetivos. Ela era um perigo para ele. Para todas as fadas sombrias. Para todos.
Os instintos do Fae sombrio gritavam para que ele fugisse, escapasse enquanto ainda tinha uma chance. O pânico nublou sua mente, substituindo qualquer pensamento racional, e ele sequer parou para considerar que Azula havia acabado de sair de cativeiro e não estava tão poderosa como antes. Ele não cogitou que poderia subjugá-la em seu estado enfraquecido porque estava assustado. Ele havia ouvido a reputação da princesa da luxúria, e ela não era misericordiosa.
Então, ele se ergueu desajeitadamente, a desesperação direcionando-o a buscar segurança a qualquer custo. Com membros trêmulos, virou-se e disparou em direção à saída mais próxima, seu coração batendo descontroladamente em seu peito.
Mas sua fuga foi curta, interrompida abruptamente por um som repentino e sinistro cortando o ar. Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, o Fae sombrio sentiu um impacto agudo contra sua garganta, uma sensação similar a ser enlaçado por uma serpente mortal.
O pânico ressurgiu enquanto ele percebia que Azula havia transformado as correntes ainda presas em seus pulsos em uma arma letal, manejando-as com precisão mortal. A corrente enrolou-se ao redor de sua garganta como um torno, apertando seu controle a cada momento que passava.
Com uma sensação avassaladora de medo, ele sentiu-se sendo arrastado para trás, as correntes apertando em torno de seu pescoço como uma serpente constrangendo sua presa. Ele tentou se libertar freneticamente, mas era inútil. Foi violentamente arrastado pelo chão como um boneco de pano à mercê de seu mestre.
Quando o movimento finalmente cessou, Azula pairava diante dele, uma aterrorizante personificação da própria escuridão. Não mais presa pelas correntes que sugavam seu poder, ela parecia exalar uma aura de puro poder e perigo. Suas características outrora humanas haviam se transformado em algo grotesco e monstruoso.
Seus olhos ardiam com um brilho vermelho flamejante, parecendo perfurar através dele com uma intensidade sobrenatural. Dois caninos alongados projetavam-se ameaçadoramente de sua boca, tornando o sorriso outrora sedutor em um esgar ameaçador. Por mais que tentasse, ela não conseguia fechar totalmente as mandíbulas em torno deles, dando-lhe uma aparência assustadora que enviava arrepios pela espinha do Fae sombrio.
As mãos de Azula agora estavam adornadas com longas garras negras, cada uma brilhando com um potencial letal. Seu corpo emanava tensão e agressividade, cada músculo preparado para atacar. Ainda que suas caudas tivessem sido cruelmente cortadas, a ausência apenas amplificava a atmosfera ominosa, um lembrete severo da violência de que ela era capaz.
O Fae sombrio percebeu, com um sentimento de desespero, que seu destino estava selado. Na presença de tamanha fúria primal, ele sabia que não haveria escapatória, nem misericórdia. Ele estava completamente e absolutamente condenado.
Islinda podia sentir isso como se fosse uma com Azula. Cada centímetro de sua essência parecia irradiar um sentido palpável de ameaça, preenchendo o ar com um peso opressivo que deixava o Fae sombrio tremendo de medo. Ela adorava seu medo. Ela queria que ele tremesse diante dela. Que a temesse porque se alimentava da emoção paralisante e queria mais dela. Ela estava faminta. Loucamente faminta. Precisava se alimentar.
Com um rosnado feroz, ela—ou seria Azula—saltou sobre ele. Era difícil discernir suas emoções das de Azula; elas se fundiam em uma entidade indistinguível. A raiva e a fome impulsionavam seu ataque, levando-a a dilacerar o Fae sombrio com selvageria feroz.
Suas garras cortaram o ar, rasgando o peito dele com uma fúria desenfreada, cada golpe alimentado por uma necessidade primal de infligir dor e extrair vingança. Repetidas vezes, ela atacava, cega pelo desejo insaciável de sangue.
Entretanto, em meio ao caos do ataque frenético, um instinto mais profundo despertou dentro de Azula — o instinto de se alimentar. Com um rosnado gutural, ela cedeu ao impulso primal, cravando seus caninos na carne do Fae com uma fome voraz que beirava a insanidade.
Enquanto o sangue do Fae sombrio jorrava em sua boca, Azula bebia profundamente, o sabor de seu sangue sendo vil e amargo, mas era o único sustento que ela encontrava em cinco anos de solidão, então ela o aceitou da mesma forma.
Com cada gole ávido, ela sentia o calor do sangue descendo por sua garganta, revitalizando seu corpo exausto e repondo suas energias esgotadas. A força vital líquida fluía por suas veias, preenchendo-a com um vigor renovado que bania as sombras persistentes de seu cativeiro.
Gemendo por uma mistura de desespero e satisfação, ela continuava a sugar o ferimento, sua fome insaciável enquanto drenava o Fae de cada última gota de sangue. Quando finalmente se afastou, o Fae jazia diante dela, drenado da vida e tão pálido quanto a morte.
Mas ele não estava morto. Ele estava à beira da morte, seus suspiros fracos e labutantes. Azula sabia que, com tratamento adequado, ele provavelmente se recuperaria, afinal, era um Fae. Contudo, isso não era o que ela desejava. Ela queria que ele sofresse, que sentisse a angústia que ela havia suportado em suas mãos — o tormento infligido a ela por Benjamin, a perda de sua cauda, a solidão agonizante que quase a levara à loucura.
Com um riso sinistro, Azula inclinou-se perto, sua voz gotejando com desprezo. “Vocês nunca me soltariam. Você, Benjamin e as fadas sombrias são todos feitos da mesma matéria. Mas vocês falharam em me quebrar,” ela declarou desafiadoramente, suas palavras impregnadas de orgulho. “Pois eu sou uma rainha de meu próprio reino, e uma rainha não se curva a ninguém!”
Em uma demonstração horrenda de vingança, Azula enfiou suas mãos no peito do Fae sombrio, seu aperto implacável enquanto arrancava seu coração do corpo. Seus gritos de agonia ecoaram pela prisão, mas para Azula, eram nada mais do que ruído de fundo enquanto ela se deleitava em sua vingança.
Com um puxão selvagem, ela arrancou o coração, acompanhado por um som nojento de carne sendo rasgada. Os gritos do Fae sombrio diminuíram para um gargarejo enquanto sua vida se esvaía, seus olhos perdendo sua faísca enquanto fixavam-se em Azula com um olhar vazio.
Em sua mão, ela segurava o coração ainda pulsante, sangue quente escorrendo entre seus dedos enquanto se deleitava à vista da destruição de seu inimigo. Sem hesitação, Azula levou o órgão palpitante aos lábios e cravou seus dentes em sua carne, consumindo-o com fome voraz. Cada pedaço preenchia-a com uma satisfação distorcida, um lembrete sombrio do poder que ela agora detinha sobre seus inimigos.
Enquanto consumia o coração do Fae sombrio, Azula sentiu uma onda de energia percorrer suas veias, invigorizando-a com um senso renovado de força. Seus olhos brilhavam com uma intensidade primal, uma promessa silenciosa do destino que aguardava os demais. Pois, assim que Azula finalizasse ali, ela partiria em busca de Benjamin e sua companheira.
Especialmente sua companheira.