Suas Lições Travessas - Capítulo 146

146: Toque Curativo 146: Toque Curativo ** Harper **
Depois de dias refletindo sobre o enigma que era Eli, Harper pensou que finalmente estava começando a entender a razão por trás da sua reação dramática e perspectiva sombria sempre que se falava de famílias e relacionamentos.

Não era apenas sobre a traição do pai dele. Claro, algo tão imperdoável quanto isso estava fadado a deixar uma ferida permanente em qualquer um envolvido, e era uma lição de casamento muito dura para uma criança aprender. Mas a ferida mais profunda no jovem coração de Eli tinha sido muito mais cruel. Era tão evidentemente óbvio que ele uma vez acreditou sem dúvidas no que os pais dele compartilhavam… até que tudo fosse destruído da forma mais trágica, com uma finalidade que nunca poderia ser desfeita.

Como ele poderia confiar novamente na lealdade e no amor, se o que ele pensava ser exatamente essas coisas só havia levado à traição e à perda mais dolorosa? Se ele tinha testemunhado com os próprios olhos quanta dor podia ser causada entre aqueles ligados pelo casamento e votos, então o que a devoção realmente significava para ele, e quanto valiam aqueles juramentos românticos?

Não é de se admirar que ele tinha dito a ela claramente que não poderia fazer promessas. Não era só porque ele não confiava em si mesmo para manter sua palavra, mas porque ele simplesmente não confiava em ninguém nesse aspecto.

Harper passou o polegar de leve pela bochecha dele. Mil pensamentos inundaram sua mente. Ela desejava poder pensar em algo sábio para dizer, algo com uma visão profunda sobre o amor e a confiança para confortá-lo… mas ela estava longe de ser experiente em relacionamentos. Como ela poderia mudar a perspectiva dele sobre um assunto que ela entendia ainda menos do que ele?

“… Enfim, desculpa por ter saído tão fora do assunto.” Eli segurou a mão dela com a dele e riu. Como de costume, ele não parecia completamente confortável com a conversa sobre família. “Eu aprecio seu pensamento. Mas sobre o que você falou, isso foi há tanto tempo que sinceramente não tenho ideia de quanto da minha memória é até precisa, ou quanto dela foi subconscientemente processada ao longo dos anos, então não se apegue aos detalhes.”

Ele disse isso com uma casualidade brincalhona que quase soava como se ele falasse sério… Exceto que ambos sabiam que não tinha como aqueles detalhes não serem verdadeiros. Não quando cada cena tinha sido contada com tanta vivacidade colorida como se tivessem acontecido ontem.

Harper fechou os olhos e pressionou a testa contra a dele.

Talvez ela fosse mesmo muito inexperiente e ingênua, ou talvez ela tivesse lido romances demais e sido enganosamente influenciada pelo clichê do mal-humorado versus o otimista, mas naquele momento, ela desejava com todo o seu coração que pudesse ajudá-lo. Ela desejava poder curar aquela cicatriz de uma década para ele, provar para ele como o amor pode ser bonito, sem traição ou desgostos ou qualquer coisa que levasse a arrependimentos.

Ela não tinha certeza de como fazer isso. Mesmo assim, ela tentou, inclinando o rosto dele e pressionando um beijo suave nos lábios dele. “Eu amei esses detalhes,” ela disse baixinho. “Espero que você não descarte essas memórias, mesmo que elas sejam antigas ou te lembrem demais do passado… Um dia, tenho certeza de que você encontrará felicidade como a que você se lembra, com uma nova família sua própria.”

E eu espero que eu possa ser a pessoa a te dar isso.

Ela não disse essa parte em voz alta, sabendo que poderia assustá-lo novamente com uma confissão tão explícita. Em vez disso, ela apenas o beijou mais uma vez.

Os lábios dele estavam frios, assim como a testa dele onde ela havia tocado há pouco. A sensação era um refúgio acolhedor sob o sol havaiano, embora Harper se perguntasse se aquilo era um efeito da história que ele acabara de contar. Com cuidado, ela aqueceu-os com os próprios lábios, passando a língua pela linha inferior da boca dele antes de adentrar e aprofundar o beijo.

Diferente da exploração sensual que eles usualmente compartilhavam, ela manteve este lento, suave com toda a ternura que ela queria que ele sentisse. Foi um gesto de conforto, uma oferta para acalmar os pensamentos melancólicos da mente dele, e ela deixou o som calmante do oceano guiá-la, mantendo o carinho leve e gentil como o ritmo das ondas rolando.

Um suspiro quase inaudível foi a resposta dele. Como se por reflexo puro, a mão dele que estava agarrada ao pulso dela se soltou, alcançando atrás da nuca dela, e seus longos dedos enrolaram nos cabelos dela, desenhando pequenos padrões que acompanhavam o movimento dela. A areia debaixo do cobertor cedeu quando eles se inclinaram para o toque um do outro, se moldando em volta dos joelhos deles como uma cama macia acolhendo ambos.

Uma cama macia…

O pensamento acendeu uma faísca em algum lugar nas profundezas da mente de Harper. Ela não tinha intenção de que o beijo se tornasse algo mais… mas ela deveria ter lembrado que sempre há mais. Os lábios e as mãos dele já estavam quentes novamente, e à medida que ele correspondia a cada toque dela, o ar entre eles começou a mudar. A dança lenta da língua gradualmente acelerava, acompanhada por cócegas de respirações nas bochechas dela que pareciam ter ficado mais quentes que o vento—
Então a sutil intimidade no ar se quebrou quando o som do grito de uma ave marinha os surpreendeu ambos. Eles se afastaram, a tempo de virar a cabeça para ver uma sombra marrom mergulhar em direção à comida que estava intocada ao lado deles. As longas asas do pássaro bateram perigosamente perto enquanto ele arrancava um pedaço de nigiri, virando uma bandeja com o movimento e espalhando farelos de queijo por todo o cobertor.

“… Aaargh.” Eli gemeu exatamente no mesmo tom que ele fez na noite passada. “Aparentemente eu não tenho muita sorte te beijando nesta ilha, Harper.”

Harper riu, franzindo o cenho para distinguir a silhueta do pequeno intruso voando para longe. “Talvez o pássaro estivesse com ciúmes,” ela sugeriu. “Que tal irmos para um lugar onde ele não possa chegar e continuarmos lá? O carro… ou o quarto?”

Ela gostou de ver que isso trouxe um sorriso genuíno de volta ao rosto dele.