Suas Lições Travessas - Capítulo 104
104: Pai Solteiro 104: Pai Solteiro ** Eli **
Um dia poderia ficar ainda pior? Eli apertou os olhos contra o sol ardente enquanto saía do lobby exclusivo do lounge, perguntando-se se a resposta deveria ser não, não poderia mesmo ser.
Ele deveria ter previsto isso. Bastava fazer as perguntas certas, encontrar a pessoa certa, ter a revelação certa. Depois de passar uma semana inteira processando todos os sentimentos complicados e confusos em sua cabeça, ele não deveria se surpreender que a isso que ele chegou — a realidade que ele tinha sido hipócrita demais para admitir a si mesmo o tempo inteiro…
“Eli!”
Seus passos pararam diante da voz familiar. O que era Harper fazendo, ainda vindo atrás dele depois daquela merda toda?
“Eli,” ela chamou novamente, dessa vez fazendo-o virar-se em seu caminho. Ela correu até ele, e parecia… preocupada, tão incrivelmente diferente daquela garota animada que pintava um passarinho tosco em seu rosto há pouquíssimo tempo.
“Desculpa pelo que aconteceu no lounge,” ela disparou antes mesmo de parar completamente à frente dele. “Eu não deveria ter feito aquela pintura facial em você… Vanessa não teria ficado tão brava então, e você teria conseguido conversar mais calmamente com ela. Eu—”
“Você não fez nada de errado, Harper,” Eli a interrompeu. Como essa garota poderia ser um anjo assim, se culpando pelo que aconteceu quando ela é quem tinha que estar brava com ele? “Eu estraguei tudo, e não tinha nada a ver com você. Eu sinto muito por ter te arrastado pra isso e” — ele passou a mão pelo rosto, ofendido e envergonhado ao mesmo tempo — “Vanessa não tinha direito nenhum de te julgar assim.”
“…Como assim?” Harper o encarou sem entender, e pareceu levar um momento para lembrar que a outra mulher a tinha chamado de “rebaixamento”. Uma palavra que quase fez Eli perder a cabeça e armar um escândalo bem no centro do clube. “Ah, não é nada. Ela estava apenas brava. Você sabe melhor do que levar a sério as palavras de mulheres zangadas.” Ela lhe deu um sorriso leve.
Eli não estava no clima certo para concordar com ela, no entanto. “Ela estava brava, mas com razão.” Ele balançou a cabeça com um riso de escárnio. “E ela não estava errada sobre as outras coisas que disse… sobre mim.”
Um playboy com nada mais que um rosto bonito, se envolvendo e trocando de mulheres mais rápido que troca de roupas.
“Eli!” Harper não demorou a registrar a referência dessa vez. “O que ela disse sobre você não foi nada justo! Você não é—”
“Você não me viu o suficiente com outras pessoas, Harper. Você não conhece esse meu lado.” Ele a interrompeu novamente com uma estocada, a irritação tomando conta. Ela não tinha ideia sobre a verdadeira realidade que o perturbava esse tempo todo, tinha? “A maçã não cai longe da árvore. Você já se perguntou por que meu pai morava aqui em Davenshire, em vez de em casa com o filho dele?”
A mudança brusca de assunto claramente surpreendeu Harper. Ela parou, como se não tivesse certeza se tinha ouvido direito. Este era um tópico que eles nunca tinham discutido em todos os treze anos que se conheciam — ela sempre fora gentil e atenciosa assim, nunca querendo se intrometer em coisas que o deixavam desconfortável.
“Você não precisa me contar,” ela disse depois de um pouco. “Chelsea não quis direcionar a pergunta para esse lado. Eu não disse a ela que a gente não fala sobre sua família.”
“Então talvez seja hora de a gente começar a falar sobre isso.” Eli soltou uma risada pequena e amarga. “Não é que seja tão complicado. Meu pai tem uma segunda família aqui, é só. Outra esposa com quem ele se casou em um estado diferente. Ele se importava mais com essa família — ou talvez fosse mais necessário aqui, eu não sabia e não queria saber o que era — então era aqui que ele decidia viver.”
O choque cobriu a mão de Harper com a boca em um gáspe silencioso.
“Antes de nos mudarmos para aquela casa no seu bairro, minha mãe e eu vivíamos na costa oeste, enquanto a outra família dele vivia — ainda vive — aqui.” Dizer isso no presente parecia estranho, como se o passado assombrado ainda estivesse fresco diante dele. “Ele tinha negócios rodando nas duas cidades e viajava frequentemente entre elas. Pode imaginar que nenhuma das mulheres jamais descobriu sobre a outra? Todos aqueles anos, quando ele estava fora por meses construindo seu império financeiro de costa a costa, nós nunca soubemos o que realmente estava acontecendo. Minha mãe se orgulhava do sucesso dele. Eu me orgulhava, e pensávamos que a mera distância nunca o impedia de nos amar tanto quanto ele podia.”
“Eli…” Harper disse suavemente. O olhar dela era triste, cheio de piedade.
Eli não queria a piedade dela, mas era difícil conter os pensamentos amargos e raivosos que transbordavam em sua mente agora. “Ele era cuidadoso com as coisas,” ele continuou. “Números de telefone diferentes para cada cidade, assistentes diferentes para cada empresa, planejamento perfeito que não deixava rastros suspeitos de nenhum lado. Equilibrando duas vidas como se fossem duas dele. E tudo funcionou tão impecavelmente por mais de uma década… Até que um dia minha mãe recebeu uma ligação da ‘escola primária da filha dela’ em Davenshire, dizendo que ela tinha que ir para o hospital em uma emergência. Levou uma longa conversa para ela confirmar que a ligação não era apenas um número errado… que o marido dela realmente tinha outro casamento em algum outro lugar, com uma filha apenas alguns anos mais nova que o filho dela.”
Ele baixou os olhos então, não querendo ver o olhar que Harper lhe dava quando terminava o resto. “Ela estava dirigindo na rodovia quando aquela ligação aconteceu. Ela não deveria ter atendido… mas ela atendeu, e ela se acidentou. Foi quando eu fui enviado para viver com meu suposto pai solteiro aqui na costa leste.”