712: Brutalmente Honesto 712: Brutalmente Honesto “Estou adivinhando que você já se decidiu, então?” Zeras perguntou a Felicie, que queria concordar, mas não pôde deixar de notar algo estranho na voz de Zeras.

De alguma forma, ela parecia diferente, embora as palavras fossem o que ela considerava as mesmas.

“O que você quer dizer com isso?” ela perguntou a ele com os olhos estreitados.

“Estou dizendo que você decidiu, de verdade nunca mais voltar, como seu tio e todos previram…” ele respondeu, fazendo os olhos de Felicie se arregalarem.

“Eu nunca me decidi por isso.”

“Bem, você acabou de fazer isso. Há Outro-mundistas que vão lhe matar se você se atrever a permanecer entre eles.

Eles nunca vão permitir que você entre na torre com eles, e as chances de você até sobreviver na torre são nulas.

E quem pode dizer mesmo se eu te protegesse e conseguisse que você entrasse na torre, alguém não faria nada contra você estando lá dentro.

Você acha que eles simplesmente vão passar por você e fazer vista grossa. Uma pessoa fraca e sexualmente atraente como você. Devo dizer o que acontecerá?” Zeras perguntou retoricamente.

“Você será estuprada e depois terá seu pescoço quebrado, Felicie. É assim que você vai morrer,” ele respondeu, fazendo o coração de Felicie bater fortemente em seu peito.

Ela sabia bem que nenhuma de suas palavras estava errada. Realmente, quando eles chegaram diante da torre, ela tinha sentido o olhar dos Outro-mundistas sobre ela, e nem todos os olhares eram de forma divertida. Alguns eram frios e desdenhosos.

Sem dúvida haveria um Outro-mundista que tentaria impedi-la de entrar na torre. Mas ela realmente tinha Zeras, e se ele a ajudasse, ela conseguira entrar.

Mas ela estava certa de que, se se encontrasse dentro da torre, jamais se depararia com um Outro-mundista hostil durante toda a jornada? Todos sempre seriam gentis com ela como Zeras? Ela não se deixaria enganar acreditando nisso.

Seu destino realmente seria ser estuprada e depois assassinada. Ninguém se importaria e não seria surpreendente.

Todo mundo sabe que nenhum aborígene que vai até a torre jamais retorna vivo. Então, sua morte não seria nada que reforçasse ainda mais a crença deles.

No fim das contas, tudo não teria sido em vão?

“O que você sugere?” Felicie de repente perguntou a ele. Já que Zeras se deu ao trabalho de dizer tudo isso, ele definitivamente tinha um plano em sua mente para ela. Ambos estavam além do ponto em que ele simplesmente a assustava com palavras.

“Normalmente, eu já deveria ter me afastado de você desde que chegamos aqui e o contrato foi cumprido. Quanto a se você entra na torre ou como você vai voltar, isso não depende de mim. Isso não foi estipulado no contrato, sabia?” Zeras disse a ela seriamente, resultando em um aceno de Felicie.

Ele realmente estava certo. Enquanto eles elaboravam o contrato, a única menção era que Zeras tinha que protegê-la na jornada até a torre. Eles nunca falaram em voltar.

Claro, Felicie sabia que não havia como ela voltar sozinha quando redigiu o contrato, mas ela achou que se pedisse demais, Zeras simplesmente ignoraria o contrato, e ela teria perdido tudo até agora.

Foi por isso que ela só mencionou que esperava que ele esquecesse, mas parecia que Zeras estava mais do que ciente dos termos.

“Mas estou disposto a dar mais uma ajuda. Vou levá-la em segurança de volta à porta do seu tio, assim como trouxe você até aqui em segurança.

Agora que já percorri o caminho, o retorno será mais rápido.

Estou disposto a acompanhá-la de volta mais uma vez.

Se isso acontecer, você conseguirá fazer o que sempre quis.

Provar a todos que estavam errados e mostrar que até um aborígene pode viajar até a torre e retornar vivo.

Seu tio desesperançoso finalmente terá suas preces atendidas, e você poderá viver a vida de heroína que sempre quis. E tudo terminaria em um final feliz,” Zeras disse, embora brincando, também muito seriamente.

Seria um desperdício assistir Felicie morrer aqui depois de todas essas jornadas.

Ele não estava disposto a voltar para o tio dela e ver a história se repetir com o pobre velho homem.

Ele já tinha visto seu próprio irmão partir, e quase ficou aleijado tentando buscar vingança.

O que aconteceria se ele tivesse que ver a filha de seu próprio irmão seguir pelo exato mesmo caminho? Não seria o suficiente para matá-lo? Não seria esse um dos destinos mais terríveis que alguém poderia testemunhar?

Foi por isso que Zeras estava disposto a ajudá-la pela última vez. Não lhe custaria nada, e agora que estava mais familiarizado com o caminho de volta, seria ainda mais simples do que vir para cá, o que também não foi necessariamente tão ruim.

Pelo menos, ele tinha visto coisas muito piores.

Diante do plano de Zeras, Felicie só pôde voltar seu olhar para as chamas crepitantes, e Zeras observou a imagem das chamas ardentes em seus olhos cor de laranja.

Então ela ficou em silêncio, tornando-se irresponsiva por quase cinco minutos antes de virar para olhar para Zeras, que ainda a observava com uma sobrancelha levantada.

E lentamente, Felicie desviou o olhar dele antes de alcançar o lado direito de seu cabelo, os fios prateados e brancos espalhados sobre suas palmas. Então ela se virou para olhar para Zeras.

“Que explicação você tem para isso?” ela perguntou a ele enquanto Zeras olhava para o cabelo prateado e branco e franzia a testa.

Mesmo após quase uma semana inteira, Zeras ainda não conseguia pensar em uma razão viável para parte do cabelo dela mudar de cor.

Isso também era misterioso para ele.

Na verdade, ele não tinha explicação alguma, mas ainda assim não via como isso tinha algo a ver com sua própria proposta, mas ainda aceitou encontrar uma resposta de qualquer maneira.