Capítulo 669: Ele Acordou!
Uma nevasca desceu sobre Capital Planet como o rugido de uma besta gigantesca. O mundo inteiro foi coberto de branco em um piscar de olhos, e o transporte público foi forçado a parar de operar. Ninguém queria sair em um tipo de clima como esse, onde não se podia nem abrir os olhos nem a boca. Havia também a possibilidade de ser levado pelo vento, se não fosse cuidadoso.
Dentro da hospedagem provisória oferecida pelo Dr. Xiao, Lu Yizhou havia acabado de sair do banho, vestido apenas com um manto preto amarrado frouxamente na cintura, revelando uma extensão de tórax lindamente esculpido e clavículas proeminentes. Sua pele pálida adquiriu um rubor saudável, e seus olhos prateados, normalmente penetrantes, pareciam suaves e lânguidos devido à névoa quente. Gotas de água ainda deslizavam pelo topo de seu cabelo, escorrendo suavemente pelo pescoço antes de desaparecer no manto.
Ele estava em frente à janela, onde não podia ver nada além de uma vasta extensão de brancura. O uivo do vento era tão feroz que fazia o marco da janela tremer. Contudo, o interior do quarto era quente e confortável.
Ao ver um clima tão ruim, Lu Yizhou caiu em um transe.
Parecia há três anos… quando ele saiu do Palácio Imperial após o assassinato real, a neve também caía pesadamente assim.
Lu Yizhou raramente deixava sua mente vagar. Mas talvez… sua vida recentemente estava tão tranquila que ele não conseguia evitar relembrar o passado.
Deixando para trás o Palácio Imperial que estava cheio de nada além de um mar de sangue e corpos sem vida, ele caminhou pela neve impiedosa, seus olhos vazios e desfocados. Todo seu corpo estava respingado de sangue, deixando um rastro de carmesim na neve espessa que era rapidamente coberto no segundo seguinte.
Devido à temperatura extremamente baixa, o líquido escarlate em seu corpo solidificou rapidamente, grudando desconfortavelmente em sua pele. A neve que pousava nele era derretida pelo calor do corpo e se transformava em água que se prendia aos cílios. E quando ele piscava, ela escorria pelas suas bochechas, fazendo parecer que seu rosto estava lavado de lágrimas.
Ele havia vivido sua vida inteira apenas para o propósito de alcançar aquele dia. Só para ver aquelas pessoas chorando e implorando por misericórdia sob os seus pés, antes de enviá-las implacavelmente ao desespero, pouco a pouco.
Mas agora que havia se vingado, ele não sentia nada além de… vazio. Ele estava tão oco por dentro que nem conseguia sentir o frio. Era como se o gelo tivesse se infiltrado em seus ossos e se fundido à sua alma. Foi naquele momento que ele percebeu que estava… perdido.
Sem vingança, sem essa enorme raiva para alimentá-lo… que outra razão ele teria para continuar vivendo?
Para onde ele deveria ir?
A rua inteira estava vazia, exceto por sua figura solitária, quase engolida pela nevasca. Os olhos de Lu Yizhou não viam nada além de uma extensão de branco, e seus ouvidos não ouviam nada além da ventania que era estranhamente semelhante ao grito desesperado das pessoas morrendo. Naquele momento, ele realmente sentiu como se sua existência estivesse sumindo pouco a pouco, e se ele fechasse os olhos, então lentamente se desintegraria junto com os flocos de neve e desapareceria da superfície do planeta.
Então, exatamente quando ele realmente queria fechar os olhos por um momento—
“…miu.”
Foi tão suave, quase imperceptível, porém os ouvidos de Lu Yizhou pegaram, com incrível precisão, o leve gemido no meio do vendaval. Um lampejo de luz surgiu em seus olhos apagados e ele virou o pescoço rígidamente na direção do som. Há alguns metros de distância, na beira da estrada que estava completamente coberta por neve espessa, um leve choro soou novamente, como se soubesse que havia outro ser vivo perto dele. “Miu…”
—Tão fraco, sem fôlego, como se fosse se extinguir no próximo segundo.
Lu Yizhou não fazia a menor ideia do que estava pensando, mas a próxima coisa que percebeu foi que já estava agachado, afastando a neve com suas mãos congeladas. Ele não precisou cavar muito antes de encontrar a fonte do choro. Era um pequeno gato preto, sua cor tão marcante contra a neve que seria impossível ignorar mesmo que quisesse.
Os olhos do gatinho estavam fechados, sua respiração fraca, e seu corpo tremia violentamente porque havia ficado enterrado na neve desde Deus-sabe-quando. Os movimentos de Lu Yizhou pararam e ele olhou para a pequena criatura, perplexo. O que ele estava fazendo?
No fim, foi o gatinho cujos olhos se abriram para revelar um par de olhos âmbar confusos. Suas pupilas alongadas moveram-se de um lado para o outro antes de se fixarem lentamente em Lu Yizhou, boquiabertas. A pequena criatura forçou-se a se levantar com quatro patas trêmulas e se empurrou contra a mão de Lu Yizhou, ainda estendida. Não recuou diante do cheiro de sangue grudado em sua pele, ao contrário, ergueu sua pequena cabeça, cheirou-o com o nariz úmido e lambeu seu dedo suavemente. Então, como se finalmente tivesse encontrado um refúgio onde se esconder, o gatinho aninhou-se no espaço de sua palma e se curvou ali.
…Estava quente.
Neste mundo cheio de nada além de gelo, apenas a palma de sua mão, que tocava o gatinho, estava quente. Era como se estivesse segurando um pequeno feixe de sol.
Lu Yizhou finalmente despertou de seu devaneio e fechou os dedos em torno do gatinho. Ele nem se atreveu a usar força, com medo de acidentalmente sufocar a pequena criatura até à morte. Era uma vida tão pequena e frágil, ainda assim, no fim das contas, inocentemente havia se confiado às mãos de Lu Yizhou — essas mãos imundas que haviam matado inúmeras pessoas antes.
Seus lábios rachados se moveram, e sua voz saiu extremamente áspera e rouca, “…Quer vir comigo?”
Bip— Bip—
O toque de seu terminal trouxe Lu Yizhou para fora da memória daquele ano. Ele balançou a cabeça e soltou um suspiro irônico. Por que estava pensando naquele gato mimado dele? No fim, ele havia o acompanhado por três anos e sucumbido a uma enfermidade. Lu Yizhou até havia feito questão de encontrar um local quente e limpo para enterrá-lo.
Ele se virou para pegar seu terminal — tecnicamente do Dr. Feng — e viu que havia uma chamada entrante do Dr. Xiao. Lu Yizhou olhou para o relógio e viu que já estava na hora de ir ao instituto de pesquisa. Ontem, o Dr. Xiao havia recomendado que ele não fosse com medo de que a neve piorasse, mas Lu Yizhou deu uma resposta vaga e não se comprometeu. Ele supôs que o Dr. Xiao estava ligando novamente para persuadi-lo a ficar em casa.
Lu Yizhou tirou seu manto de banho e vestiu um suéter, enquanto atendia à ligação. “Alô?”
A voz do Dr. Xiao saiu quase histérica, tingida com um toque de soluço. “L–Lu Yizhou…”
O coração de Lu Yizhou instantaneamente despencou para o fundo do estômago. O Dr. Xiao não reagiria assim a menos que… algo houvesse acontecido com Zeke! Ele puxou a camisa para baixo para cobrir o corpo e perguntou gravemente, “O que aconteceu?” Ele já estava colocando as calças e pegando o casaco quando o Dr. Xiao falou novamente.
“Lu Yizhou, ele…” O ex-médico real chorou. “Zachary acordou!”
O corpo inteiro de Lu Yizhou congelou em frente à porta enquanto seu coração era tomado por uma força desconhecida. O que ele acabou de ouvir? Seu amante… havia recuperado a consciência? Lu Yizhou inalou profundamente e forçou-se a se acalmar, embora a mão que estava prestes a abrir a porta tremesse imperceptivelmente. Sua voz saiu ligeiramente abafada, “Eu estarei aí em breve…”
Enquanto abria a porta e saía, ele ouviu o Dr. Xiao balbuciar com pânico e nervosismo indisfarçados, “Ele acordou, mas… está completamente inerte!”