Capítulo 535: Insano (1)

Ken acordou abruptamente, seus olhos se abrindo como se ele tivesse tido um pesadelo. Por uma fração de segundo, sua mente pensou que tudo tivesse sido uma ilusão, mas o armazém escuro e o tilintar de suas correntes o trouxeram de volta à realidade.

Seu coração afundou ao perceber que não era tudo um sonho.

“Ugh.”

Ken gemeu, a dor das surras começando a cobrar seu preço. Seus lábios estavam secos e ensanguentados, um sinal de que ele não bebia há muito tempo.

Ele olhou para a esquerda, vendo Katsuya com a cabeça baixa. Apenas com um olhar, ele podia dizer que o cara não estava bem.

“Ei… Você está bem?” Ele perguntou, sem nem reconhecer sua própria voz.

Doía falar, provavelmente por causa dos gritos que deixaram sua voz rouca.

Katsuya não respondeu imediatamente, mas seu corpo se contorceu. Ele levantou a cabeça, o rosto outrora bonito parecia ter sido jogado em um liquidificador.

“O que você acha?” Katsuya respondeu sarcasticamente.

No entanto, Ken não se ofendeu.

Um longo silêncio se estendeu entre eles, cheio de desespero. Ambos os adolescentes estavam em um estado ruim, mas nenhum parecia ter desistido ainda.

“Quanto tempo?” Katsuya perguntou, sua voz soando cansada.

“Quanto tempo do quê?” Ken ficou um pouco confuso com a pergunta.

“…”

“Há quanto tempo você e Ai estão namorando?”

Nessas palavras, Ken sentiu-se um pouco estranho. Não parecia ser uma pergunta apropriada, considerando a situação em que estavam. Mas, mesmo assim, ele respondeu.

“Desde o dia antes dela partir para Tóquio.”

Katsuya ficou em silêncio por um tempo antes de soltar um suspiro leve. “Acho que algumas coisas não devem ser…”

Ken ergueu a sobrancelha, mas sentiu uma dor aguda no rosto. Ele não era estúpido. Essas palavras eram suficientes para ele fazer algumas suposições.

O fato de Katsuya estar disposto a pular e tentar salvá-los, ele indo para a mesma escola que Ai. Era claro que ele tinha sentimentos por ela.

Ken sentiu uma mistura de emoções, mas escolheu não agir sobre nenhuma delas. Se algo, Katsuya era uma pessoa lamentável. Se ele não tivesse sentimentos por Ai, ele ainda seria um homem livre, e seria Ken sozinho ali.

Era verdade que a desgraça atrai companhia.

Antes que ele pudesse continuar a conversa, o som da porta abrindo entrou em seus ouvidos. Ambos Katsuya e Ken se encolheram ao ouvir o som, que era agora sinônimo de dor.

O som dos passos ecoou no armazém sombriamente, trazendo uma sensação de presságio.

“Acenda a luz.”

No momento seguinte, tanto Ken quanto Katsuya ficaram cegos enquanto as luzes enchiam o armazém. Acostumados à escuridão, eles não puderam ver por um tempo.

Como estavam amarrados a uma cadeira, só podiam fechar os olhos em defesa.

Ken sentiu alguém segurar seu queixo e levantar sua cabeça, mas devido à luz, ele não pôde ver a figura. Ele tentou lutar, mas o aperto era forte.

“Você não está parecendo muito bem aí, Ken.” Uma voz profunda disse.

A voz não era familiar, mas instintivamente ele pôde adivinhar quem era. Apesar da dor, Ken sentiu um ódio profundo e ardente emergir de dentro dele, fazendo-o se debater em suas restrições.

“Tetsuhiro, seu desgraçado!” Ele cuspiu entre os dentes.

“Oh? Você sabe quem eu sou?” Tetsuhiro disse, soando um pouco surpreso.

Ele bateu no lado do rosto de Ken algumas vezes antes de soltar o aperto em seu queixo.

Quando recuperou o controle, os olhos de Ken começaram a clarear. Ele viu o cara enfiar a mão no bolso e pegar um guardanapo, limpando a mão.

“Se você é tão esperto, sabe por que está aqui agora?” Ele perguntou soando quase apático.

Ken ficou em silêncio por alguns momentos, decidindo se responderia ou não.

“Como eu poderia adivinhar o que passa pela cabeça de um psicopata?” Ele disse em um tom mordaz.

“Hahaha. Sim, eu não deveria esperar que você entendesse minha mente brilhante.” O riso parecia genuíno, se não psicótico.

Ken não pôde evitar tremer, sentindo um suor frio escorrer pelas costas. Havia algo na maneira como Tetsuhiro estava falando que o fazia sentir um grave senso de perigo.

Ele não conseguia entender quais eram seus objetivos. Matar a mãe de Daichi a sangue frio e capturá-lo, ele era muito instável.

‘Preciso ter cuidado com o que digo.’ O rosto de Ken se transformou, como se finalmente entendesse em que situação estava.

Tetsuhiro tirou outra coisa do bolso, um telefone. Parecia ser um telefone bastante antigo, o que era estranho, considerando que ele era literalmente um bilionário.

No entanto, no momento seguinte Ken reconheceu o telefone.

‘É o meu telefone?’

Tetsuhiro bateu o telefone contra a mão algumas vezes antes de se voltar para Ken. Só agora ele finalmente pôde ver o rosto do homem que vinha alvo de sua família há tanto tempo.

O cara tinha ombros largos e cabelos pretos grossos. Seu rosto estava barbeado, dando-lhe uma aparência elegante. Se não fosse pelo sorriso repulsivo em seu rosto, ele poderia ser chamado de bonito.

“Você sabe,” ele começou, “fiquei bastante surpreso que seu pai conseguiu sobreviver depois que matei sua carreira.” Ele começou a andar lentamente, de um lado para o outro.

Com a menção de seu pai, Ken sentiu sua raiva crescer.

“Mas então eu descobri que você teve alguma ajuda…” Tetsuhiro disse, parando mais uma vez em frente a Ken.

“Foi tão bom da parte do seu Vovô lhe dar dinheiro em seu momento de necessidade. Infelizmente, ele estava interferindo em meus planos…”

“O que você fez…” Ken cuspiu entre os dentes, incapaz de se conter por mais tempo.

“Heh… Hehe. Oh, nada muito elaborado, só pedi a alguns amigos para abrir uma investigação sobre seus investimentos. As contas bancárias dele devem estar congeladas, então não espere que novos pagamentos cheguem.”