Capítulo 516: Egocêntrico (2)

“As 3 sessões de treinamento por dia, o estudo constante de filmes… É tão cansativo.” admitiu Daichi, seu tom soando cansado.

Ken manteve a boca fechada, deixando seu irmão despejar todos os seus sentimentos. Ele nunca tinha ouvido Daichi reclamar dessas coisas em sua vida anterior, apesar de conhecer o cara desde o Ensino Médio.

Ele trabalhava duro todos os dias sem uma única reclamação, até se tornar profissional para os Tigres de Hanshin. O que foi que o levou a trabalhar tanto em sua vida anterior? O que era diferente agora?

‘A mãe do Daichi…’ pensou Ken.

“Qual é o sentido de jogar beisebol agora?” Ele disse finalmente, estendendo-se em direção ao teto.

Ken bufou, sentindo uma onda de irritação com aquelas palavras. Como Daichi, o prodígio que entrou para os profissionais após apenas 3 anos de jogar beisebol, poderia proferir tais palavras.

Para ele, que caiu em tal desespero e depressão depois de perder a capacidade de jogar beisebol…

Foi insultante.

“Você é tão egoísta.” disse Ken, seu tom cortante.

“Huh!?” Não esperando tais palavras de seu irmão, Daichi rapidamente se sentou na cama, seu olhar ardente fixado em Ken.

“Deixe-me adivinhar, você não vê sentido em jogar beisebol porque não pode mais provar para sua mãe que poderia fazer algo da sua vida.” Ken acrescentou, cutucando-o no peito.

O rosto de Daichi mudou de um choque para uma intensa raiva. Ele sentiu seu corpo esquentar em resposta, fazendo-o cerrar as mãos em punhos.

“O que você sabe?” Ele cuspiu entre os dentes.

“Eu sei que você está sendo um babaca egoísta. O que sua mãe tem a ver com você jogar beisebol? O quê, agora que ela morreu você de repente perde toda sua motivação?”

THWACK

Do nada, o punho de Daichi veio voando em direção ao rosto de Ken, atingindo de raspão seu queixo e o mandando para o chão.

“Heh, seus punhos são leves.” disse Ken, limpando o sangue de seu lábio.

“Cuida da sua boca ou eu te bato de novo.” ameaçou Daichi, respirando pesadamente.

Ken deu um sorriso, embora não chegasse aos seus olhos.

“Você realmente vai desistir do seu dom por algo tão egoísta? O que aconteceu com retribuir ao Pai por te acolher? O que aconteceu com nosso pacto? Ou você esqueceu de tudo isso agora…”

“CALA A BOCA!”

THWACK

Daichi mergulhou em cima de Ken, que ainda estava deitado no chão, e lançou outro soco. O som de carne colidindo soou como um eco surdo no quarto.

“VOCÊ NÃO SABE DE NADA!”

THWACK

“Como você poderia entender o que estou passando?”

Daichi continuou a desferir socos, sua visão embaçando a cada golpe. Seus nós dos dedos doíam, mas a dor em seu peito era ainda pior.

Seu soco final errou o alvo, aterrissando no carpete ao lado da cabeça de Ken e deixando uma marca sangrenta. Foi então que ele abaixou a cabeça e começou a chorar no peito do irmão.

Ken não resistiu, envolvendo os dois braços em torno de seu irmão e puxando-o para seu abraço. Ele sorriu, abrindo ainda mais seu lábio no processo, mas não reclamou.

“O que está acontecendo!?”

A porta se abriu com grande urgência, mostrando seu pai em estado de pânico. Seus olhos se moveram para os dois garotos no chão, apenas para ver Ken mostrando um sinal de positivo.

Chris viu o rosto machucado de seu filho e sentiu sua raiva aumentar. Ainda assim, depois de ver Daichi chorando no peito de Ken, rapidamente se acalmou.

Ele não tinha certeza do que aconteceu, mas a situação parecia ter se acalmado por enquanto.

Com relutância, ele fechou a porta e deixou o quarto, deixando seus dois garotos resolverem as coisas.

Os dois ficaram ali por um tempo enquanto os choros de Daichi se transformavam em soluços. Eventualmente, ele adormeceu, exausto depois de tudo que foi dito e feito.

Isso teria sido tranquilo, porém Ken tentou mover o grandão de cima dele, mas falhou. Sua cabeça estava um pouco tonta por ter levado uma surra, não permitindo que ele usasse toda sua força.

Ele procurou seu telefone no bolso e foi forçado a ligar para seu pai.

“Ajude-me…” Ele sussurrou.

Mais uma vez Chris subiu as escadas e viu a situação. Ele balançou a cabeça e deu uma pequena risada antes de levantar Daichi lentamente e colocá-lo na cama.

“Você tem algumas explicações para dar.” disse Chris para Ken enquanto eles saíam do quarto.

Todo o lado esquerdo do rosto de Ken estava inchado e havia sangue seco em seus lábios, mas ele ainda sorria, reabrindo o corte.

Yuki ficou horrorizada quando Ken desceu as escadas. Ela rapidamente correu para frente e inspecionou seus ferimentos, entrando no modo mãe preocupada em um instante.

“Vamos te limpar, querido.” Ela disse, pegando o kit de primeiros socorros.

O trio sentou-se à mesa de jantar um pouco depois e se acomodou para o jantar. Embora fosse um pouco doloroso mastigar, Ken ainda parecia estar desfrutando da refeição.

Só depois de terminar Chris falou, seu tom grave.

“Por que você não me conta tudo.”

Ken então começou a detalhar o que havia acontecido, sem deixar de fora nenhum detalhe. Ele falou sobre o que aconteceu com Daichi e que sabia que algo estava errado quando seu irmão decidiu voltar para casa abruptamente.

Depois de dizer tudo, houve um silêncio sobre a mesa de jantar.

A expressão originalmente simpática de Yuki ficou rígida ao ouvir o que Ken havia dito para Daichi.

“Você mereceu levar uma surra…” Ela disse de maneira direta.

Chris, por outro lado, estava franzindo a testa, imerso em pensamentos. Ele juntou o que era o objetivo de Ken e experimentou uma sensação de resignação.

“Não seja tão dura com ele, querida, às vezes nós homens precisamos de um chamado para acordar. Além disso, aposto que ele nem revidou com um soco.”

Yuki bufou em resposta, murmurando algo sobre o quão bárbaros eram os homens.

Chris riu em resposta, virando-se para seu filho, “Você fez bem, Kenny. Só espero que ele se recupere depois de um bom descanso.”