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600: ORAÇÃO À DEUSA PERDIDA 600: ORAÇÃO À DEUSA PERDIDA POV DE TAG’ARKH
Houve um tempo em que eu queria nada mais do que voltar ao meu lugar de direito como deusa. Mas agora que eu estava de volta, de repente me senti presa.
O ar aqui era fresco e perfeito, sem uma única falha para manchar sua pureza. Tudo neste reino brilhava com uma luz sobrenatural — rios de prata, torres douradas imponentes e campos extensivos de flores eternas. Deveria ter parecido como lar. Mas tudo o que eu conseguia sentir era um vazio roendo por dentro de mim.
Eu estava na beira do meu domínio, onde se podia ver a totalidade do reino com apenas um olhar. Chamas dançavam ao meu redor, lambendo as bordas do meu vestido — um reflexo do meu poder, constante e involuntário. Era magnífico, de tirar o fôlego até. Ainda assim era vazio.
Os fogos que antes me enchiam de orgulho e propósito agora se sentiam sem sentido. Segurei a barra do meu vestido, uma coisa iridescente que cintilava como a aurora rompendo por mil horizontes, e encarei o nada além. Fui tola em pensar que isso me traria paz.
Eu sentia falta deles. Eu sentia tanta falta deles que doía.
Eu sentia falta do rápido raciocínio de Yasmin, a forma como sua língua afiada era uma arma que nenhuma lâmina poderia rivalizar. Eu sentia falta da feroz lealdade de Kiran, sua determinação inabalável em proteger aqueles que ele amava. As piadas de Harald, aquelas que te faziam gemer e rir em igual medida, ecoavam em minha mente como uma melodia fantasma. O instinto maternal de Freya, a forma como ela sempre parecia saber exatamente o que todos precisavam antes mesmo que soubessem. Os comentários ácidos de Aurora, sempre cortantes mas estranhamente reconfortantes, como um fogo em uma noite fria. Eu sentia falta também da lealdade de Ivan e dos gêmeos.
Mas acima de tudo, eu sentia falta dele. Eu sentia falta de Rollin.
O pensamento do seu nome era como um carvão pressionado contra meu peito, ardente e insuportável. Rollin, com seu sorriso fácil e sua resolução inabalável. Rollin, que me via não como uma deusa, mas como uma pessoa — uma pessoa imperfeita, ardente, às vezes insuportável. O único que podia combinar meu fogo com o dele, que podia me abraçar sem recuar com o calor.
Eu me ajoelhei no chão, minhas chamas se apagando enquanto o peso da minha solidão pesava sobre mim. Meu domínio, outrora vibrante com vida e propósito, agora se sentia como uma gaiola dourada.
Eu tinha lutado tanto para reivindicar meu lugar, para provar que eu pertencia entre os deuses. Mas ao fazê-lo, eu deixei para trás as pessoas que se tornaram minha família, que preencheram as rachaduras em meu coração que eu nem sabia que estavam lá.
Os ventos uivavam ao longe, carregando consigo os ecos mais suaves de vozes mortais. Minhas chamas se avivaram brevemente, estendendo-se como se pudessem tocar o que jazia além deste reino.
Mas não podiam. Eu não podia.
Eu era uma deusa do fogo, um ser de poder e força. Ainda assim, aqui, em meu lugar de direito, eu me senti fria.
E eu não sabia se algum dia me sentiria aquecida novamente.
“Tag’arkh!”
A voz era suave, quase como um sussurro, ainda assim soou clara, como se tivesse sido falada diretamente no meu ouvido. Minhas chamas explodiram instintivamente, envolvendo-me como uma barreira viva enquanto eu me virava, procurando pela fonte. Mas o reino estava vazio, intocado.
Nada se mexia exceto o piscar de brasas distantes e o zumbido constante da luz eterna que cercava o meu domínio.
Eu subitamente me preparei para a defensiva, minhas chamas mudando do suave laranja do conforto para o azul brilhante da guerra. Meu vestido se derreteu em armadura, forjada a partir do coração das minhas chamas, e uma lâmina materializou em minha mão — longa, curvada e brilhando com o calor da minha fúria.
“Quem está aí?” Eu exigia, minha voz aguda, cortando a quietude. Era impossível para alguém entrar no meu reino sem ser convidado. Mas aquela voz… ela soava tão familiar, tão dolorosamente humana.
O silêncio se estendeu, opressivo e sufocante. Minhas chamas crepitavam como se agitadas por algo invisível.
“Mostre-se!” Eu rosnava, o fogo aos meus pés se espalhando em ondas, buscando por uma presença — qualquer presença.
Então ouvi novamente, mais suave desta vez. “Tag’arkh…”
O som vinha de todos os lugares e de lugar nenhum, carregando consigo um calor inconfundível. Não era ameaçador — era suave e cheio de urgência.
E então, eu senti.
Um puxão profundo dentro de mim, como uma corda sendo esticada, envolvendo minha própria essência. Minha forma começou a brilhar, as chamas ao meu redor tremeluzindo como se pegas em um vendaval. Uma estranha sensação percorria por mim, não dor, mas algo próximo a isso — um chamado que exigia ser respondido.
Foi então que me atingiu.
Alguém estava orando para mim.
Minha respiração falhou enquanto eu cambaleava para trás, a realização me atingindo como um golpe físico. Eu não havia sentido uma oração em eras, não desde que eu tinha deixado o mundo mortal para trás. Quem ousaria me chamar agora?
O brilho ao meu redor se intensificou, minhas chamas diminuindo conforme o puxão se intensificava. A voz falava novamente, agora urgente e desesperada, as palavras mal perceptíveis, mas cheias de emoção.
“Por favor… Tag’arkh… eu preciso de você…”
Meu coração se contraiu. Aquela voz. Era familiar, impossivelmente assim. O calor, a saudade — não podia ser.
Eu me ajoelhei, pressionando minhas palmas contra o chão polido do meu domínio. Meu fogo se expandiu para fora, procurando, conectando, respondendo ao chamado. O brilho crescia mais forte, envolvendo-me em fios dourados enquanto a oração aprofundava seu domínio.
“Ivan!” Eu sussurrei ofegante, “Ivan!” Eu cochichei novamente, excitada.
Lágrimas ardiam em meus olhos enquanto os fios brilhantes se enrolavam mais apertados, ameaçando me arrancar deste reino por completo. Eu podia sentir seu desespero, seu apelo cortando através das barreiras do divino e do mundo mortal.
Mas eu não podia ir até ele. Não sem estilhaçar as leis dos deuses. Essa era a regra, não ter contato com nenhum membro da minha família no mundo mortal. Essa era a minha punição enquanto Arianne fica presa na caverna dos exilados. Eu não tinha permissão para saber o que acontecia em suas vidas. Mas dane-se as regras, Ivan precisa de mim!
A voz de Ivan ecoava fracamente através da conexão, implorando com uma urgência que fazia minhas chamas piscarem. Eu cerrava os punhos contra o chão polido, o fogo ao meu redor furioso com frustração. Ele estava sofrendo. Eu podia sentir isso em cada palavra, em cada pulso da oração.
Dane-se as regras! Eu pensei comigo mesma enquanto eu decidia.
O fogo aos meus pés rugia para a vida, espalhando-se em ondas que rachavam o chão imaculado do meu domínio. As torres douradas estremeciam, e o ar parecia tremer conforme meu poder aumentava. Os deuses sentiriam, eu sabia. Eles perceberiam minha rebeldia no momento em que eu cruzasse a barreira.
Mas eu não me importava.
Deixem eles virem. Deixem eles tentarem me arrastar de volta.
A voz de Ivan ficava mais alta agora, seu apelo mais urgente, a conexão me puxando como uma linha de vida. Minhas chamas envolviam-me, ardendo mais alto enquanto eu me aproximava da ponta do meu reino, o lugar onde os mundos mortal e divino se encontravam.
Eu estiquei a mão, e os fios brilhantes pulsavam em resposta, guiando-me, rasgando a barreira que me manteve aprisionada por tanto tempo.
O ar se partiu com um estalo ensurdecedor, e a luz do mundo mortal derramou por entre. Eu avancei, o calor das minhas chamas queimando a frieza vazia da minha prisão.
“Estou vindo, Ivan,” eu rosnei, minha voz uma promessa.
E com isso, deixei para trás o reino perfeito dos deuses, mergulhando de volta ao caos e imperfeição do mundo que fui forçada a deixar.
O ar se alterava, pesado e quente, carregando o aroma de incenso queimando e pedra envelhecida. Eu abri meus olhos e me vi em um templo, cujas paredes eram gravadas com orações há muito esquecidas pelos mortais que um dia acreditaram em nós.
E lá, no altar, estava Ivan.
Sua cabeça estava inclinada, seus ombros tremendo enquanto ele sussurrava palavras que eu não conseguia ouvir completamente. Suas mãos estavam firmemente entrelaçadas, juntas brancas, como se sua oração pudesse escorregar por seus dedos se ele não segurasse forte o suficiente.
Algo puxava em meu peito — uma dor aguda e agridoce que espalhava calor por mim.
Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios enquanto eu avançava, o eco suave dos meus pés descalços no piso rompendo o silêncio. Minhas chamas dançavam fracamente ao longo das pontas dos meus dedos, seu calor ficando mais brilhante a cada passo.
“Ivan,” eu disse, minha voz suave mas firme.
Sua cabeça se ergueu bruscamente, sua oração falhando enquanto seu olhar encontrava o meu. Por um momento, ele congelou, seus olhos azuis arregalados de incredulidade.
“Tag’arkh?” ele sussurrou, sua voz quebrada no meu nome.
“Sim, Ivan,” eu disse baixinho, aproximando-me até que mal havia espaço entre nós. “Estou aqui.”
Seus joelhos cederam, e ele se jogou ao chão, suas mãos estendendo-se como se temesse que eu pudesse desaparecer se ele não me tocasse.
“Você veio,” ele engasgou, sua voz crua. “Eu — Eu orei, mas eu não achava que você de fato…”
Eu me ajoelhei à sua frente, segurando seu rosto com mãos que queimavam suavemente, um fogo que jamais o machucaria. “Você me chamou, e eu vim. Sempre. Agora me conte, o que está errado?”
Os ombros de Ivan tremiam, e ele se inclinava para o meu toque como se fosse a única coisa que o ancorava. “Estou perdendo tudo, Tag’arkh,” ele soluçava, sua voz despedaçada. “Estou perdendo tudo, e eu não sei o que fazer!”
Um calafrio percorreu por mim, apesar do fogo que sempre queimava dentro de mim. Algo havia acontecido — algo terrível — e os deuses me ocultaram. Claro que o fariam. Minha punição não era apenas isolamento; era ignorância.
Mas agora eu não estava ignorante. Eu estava aqui. E eu ia descobrir.
Eu me aproximei mais, minhas chamas se tornando ligeiramente mais brilhantes como se para protegê-lo do peso esmagador de seu desespero. “Ivan,” eu disse, meu tom firme, meus olhos procurando os dele. “Conte-me tudo. E não deixe nada de fora!”