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580: QUEDA DE UM REINO 580: QUEDA DE UM REINO PONTO DE VISTA DE AZAR
Eu assisti ao último pedaço do castelo queimar até o chão, as chamas lambendo avidamente as paredes de pedra até que se desmoronassem em cinzas. Os gritos de seus ocupantes ecoavam no ar, carregados pelo vento como fantasmas assombrados que nunca partiriam. Eu apertei mais forte o cabo da minha espada, meus nós dos dedos brancos sob a manopla, mas eu não me movi. Não havia motivo para isso. A batalha já havia terminado, a vitória era vazia.
No meio de tudo isso estava Thea, sua capa preta esvoaçando na brisa enfumaçada, um contraste nítido contra os tons vermelhos e laranjas ardentes do fogo. Ela observava a destruição com um sorriso em seus lábios pintados de preto, um sorriso que torcia algo no fundo de mim. Não havia remorso em seus olhos, nem um vislumbre de dúvida ou arrependimento. Apenas satisfação, como se ela estivesse esperando por esse momento, desejando-o.
Enquanto eu a encarava, senti o medo me dominar — uma sensação gelada e insidiosa que subia pela minha espinha, se instalando no fundo do meu estômago. Mas eu sabia imediatamente que não era Thea que causava isso. Não, isso era algo pior, muito pior. Prendi a respiração na garganta, e meus dedos se apertaram ao redor do cabo da espada enquanto me forçava a permanecer imóvel, embora cada instinto gritasse para eu correr.
As chamas do castelo rugiam atrás dela, lançando uma luz trêmula em seu rosto. Thea permanecia anormalmente imóvel, sua postura rígida como se fosse uma marionete suspensa por cordas invisíveis. Seus lábios pintados de preto estavam levemente entreabertos, seu peito subindo e descendo com respirações lentas e medidas. Mas aquela não era Thea.
Algo a tinha tomado, torcido ela nessa… coisa que estava diante de mim.
Como se sentisse meu olhar, Thea virou a cabeça lentamente. Mechas de seu cabelo voavam ao redor de seu rosto, capturadas pelo calor das chamas. Seus lábios se curvaram em um sorriso lento e deliberado, um que não alcançava seus olhos. Olhos que já não eram dela. O marrom que eu conhecia havia desaparecido, substituído por um preto brilhante e antinatural — vazios que engoliam a luz do fogo e não refletiam nada de volta.
Eu não conseguia me mover. O medo havia me enraizado no lugar, meu coração batendo em meu peito como um tambor de advertência. Como se ela pudesse ouvi-lo, seus lábios negros se curvaram em um sorriso lento, o sorriso da morte. Frio, calculado, como se ela já tivesse decidido o que viria a seguir.
E então ela começou a caminhar em minha direção.
Eu queria recuar, fugir, mas meu corpo se recusou a obedecer. Levei tudo de mim para ficar parado, para manter meus joelhos de dobrarem sob o peso do terror. Seus movimentos eram assustadoramente graciosos, como se seus pés nem mesmo tocassem o chão, como se ela estivesse deslizando entre a fumaça e a chama.
Eu não conseguia desviar meus olhos dela. Era como se algo muito mais primal, muito mais antigo que o medo, me tivesse fixado no lugar. Tentei me lembrar que esta era Thea. Apenas Thea!
Mas agora… a mulher que se aproximava de mim não era aquela pessoa. Quanto mais perto ela chegava, mais eu percebia o quão errado estava tudo — seu sorriso, seus olhos, o modo antinatural como as chamas pareciam se curvar ao seu redor, como se tivessem medo de tocá-la. Ela se movia com uma graça que não era humana, e algo sobre o modo como o próprio ar parecia se abrir para ela me fazia arrepiar.
“Eu talvez te incomode?” ela perguntou, sua voz dançando com diversão, as palavras flutuando até mim como uma provocação.
Imediatamente desviei o olhar, o instinto tomando conta. “Não, minha senhora!” As palavras saíram muito rápidas, forçadas demais, como se eu pudesse mentir para escapar do medo que apertava meu peito.
Thea soltou um som nasalado, agudo e frio no ar noturno. “Entendo,” disse ela, seu tom quase zombeteiro enquanto inspirava profundamente, seus olhos se estreitando. “Você tem medo de mim então.”
Não era uma pergunta. Era uma declaração. Uma verdade que pendia entre nós como uma corda apertando em volta do meu pescoço. Eu podia sentir seus olhos em mim, pesados, penetrantes, como se ela pudesse ver diretamente em minha alma e pesar cada grama de medo que eu havia tentado esconder.
Engoli em seco, minha garganta seca. Meu coração batia em meu peito, e eu me forcei a ficar mais ereto, a lutar contra o instinto de recuar. “Não,” gaguejei. “Eu não estou—”
“Não minta para mim,” ela interrompeu, sua voz suave, mas com algo que fazia os pelos da nuca se eriçarem. Ela deu mais um passo em minha direção, e eu podia sentir o calor de sua presença, embora o ar ao seu redor permanecesse desconfortavelmente frio, as chamas ainda se recusando a tocá-la.
Meus olhos se voltaram para o chão, longe daqueles vazios pretos e brilhantes que uma vez foram seus olhos. Eu não conseguia olhar para ela. Eu não conseguia enfrentar o que quer que ela tivesse se tornado.
“Eu… eu não estou com medo,” murmurei, embora o tremor em minha voz me traísse.
Thea inclinou a cabeça, seu sorriso se alargando um pouco. “Claro que está,” ela disse, seu tom quase gentil. “E você deveria estar.”
Engoli em seco, sem ousar encontrar seu olhar. Eu não precisava — sua presença era suficiente. Havia algo sobre o modo como ela estava lá, tão calma no meio de tanto caos, que enviava um arrepio pela minha espinha. Ela levantou a cabeça, inspirando profundamente como se tirasse força do fogo e da morte ao nosso redor.
“Faz séculos que eu não sentia isso,” ela disse, sua voz preenchida com um tipo estranho de alegria. “Sentir-me tão viva e livre!” Seu sorriso se alargou, o brilho em seus olhos perturbador.
Murmurei baixinho, “De nada, eu acho,” embora eu tenha instantaneamente me arrependido. A cabeça de Thea virou em minha direção, seu olhar agudo e fixo. Engoli rapidamente, meu coração acelerando enquanto voltava minha atenção para o castelo em chamas, tentando ignorar o pavor gelado subindo pela minha espinha.
“Eu simplesmente não entendo por que você tinha que fazer isso,” forcei as palavras para fora, mantendo minha voz estável, embora tremesse nas bordas. “Você poderia ter deixado algumas pessoas… poupado algumas.”
Thea arqueou uma sobrancelha para mim, seus lábios se curvando em um sorriso zombeteiro que enviava um frio pela minha espinha. “Eles escolheram o lado errado,” ela disse, sua voz impregnada de desprezo. “Juraram lealdade à minha filha em vez de se ajoelharem para mim. Eles não sabem que é uma sentença de morte quando você irrita uma deusa? Ela soltou um suspiro exasperado. “Como se essa fosse a regra número um. Nunca irrite uma deusa!”
Mordi a língua, segurando a resposta que dançava na ponta da minha mente. Eu tinha quase certeza de que não havia uma regra como essa, mas discutir com ela agora parecia um jogo perigoso. Em vez disso, acenei de leve e encarei as chamas consumindo o que restava do castelo, as ruínas de um reino inteiro reduzidas a cinzas e fumaça.
“Eles eram tolos,” continuou ela, sua voz fria. “Tolos por pensar que poderiam enfrentar-me. Tolos por acreditar que minha filha seria capaz de me superar.” Havia uma borda amarga em suas palavras agora, e eu a olhei de relance, tentando ler sua expressão.
“Então, o que agora?” perguntei, minha voz mais baixa do que pretendia, o peso do momento pesando sobre mim.
Thea—Nyana—virou-se lentamente, fixando-me com um sorriso que enviava um calafrio pelas minhas veias. Nyana parecia estar conseguindo fazer o corpo de Thea obedecer à sua vontade muito bem e isso estava começando a ficar realmente assustador. Não me arrependo de ter usado Thea como isca, eu apenas não imaginava que Nyana tomaria posse dela e agora sou forçado a receber ordens de um rosto que costumava me obedecer.
“O que agora?” ela ecoou, um sorriso irônico se formando em seus lábios. “Agora, seguimos para o próximo reino. Eles verão a fumaça daqui em breve e, quando virem, saberão quem detém o poder.”
As palavras assentaram como uma pedra no meu estômago. “E quanto a Arianne?” perguntei, forçando o nome a passar pelo nó em minha garganta.
“Ah, eu cuidarei dela em breve,” respondeu Nyana, sua voz assustadoramente calma, aquele sorriso nunca vacilando. Era um sorriso de crueldade, de antecipação. “Na verdade, eu tenho algo planejado para ela esta noite.”
Meu sangue gelou com suas palavras. Arianne deveria estar segura, longe dessa loucura. Mas a maneira como Nyana disse isso, o brilho em seus olhos—era como se ela estivesse saboreando cada momento do que estava por vir.
“Quando iremos atacar o reino?” perguntei, tentando firmar minha voz, esperando que, talvez, apenas talvez, eu pudesse descobrir o próximo passo dela.
Nyana inclinou a cabeça para mim, seus olhos se estreitando com diversão. “Você não deveria se preocupar com isso. Ela não está no reino.”
Meu coração saltou uma batida. Não no reino? “Então onde ela está?” exigi, o medo se infiltrando em minha voz.
Nyana sorriu, um sorriso lento e deliberado que me fazia arrepiar. “Oh, não tenha medo, querido,” ela rosnou, sua voz pingando de zombaria. Ela passou por mim, seus passos leves, graciosos, como se estivesse dançando pela destruição que havia causado. “Eu tenho toda a intenção de garantir que minha filha volte para mim.”