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569: É HORA DE ACORDAR 569: É HORA DE ACORDAR PONTO DE VISTA DE ARIANNE
No sétimo dia, eu tinha certeza de que estava prestes a perder a sanidade. Os gritos do lado de fora, em vez de diminuírem, tornaram-se mais agressivos. Dia e noite eles gritam sob a minha janela, e eu sei que Ivan está fazendo o seu melhor para impedir, mas as pessoas são implacáveis. Não ajudou que os conselhos e o resto do reino já concordaram com o meu destronamento.
Eu não vi Ivan a semana inteira, e não era porque ele não estava tentando. Ele escorregava para os aposentos tarde da noite, pensando que eu estava dormindo, mas eu podia ouvir a pesadez em seus passos, sentir o peso de suas decisões no ar. Às vezes ele ficava em pé sobre mim, provavelmente debatendo se deveria me acordar, falar comigo. Mas ele nunca o fez. Ele nunca disse as palavras que eu temia que estavam por vir.
O silêncio entre nós era pior do que os gritos lá fora.
No início, eu pensei que os protestos iriam diminuir, que eram uma tempestade passageira, facilmente acalmada por garantias e explicações. Afinal, eu os liderei por anos. Eles confiavam em mim, acreditavam na minha visão. Mas eu estava errada. Os sussurros de Azar se espalharam, acendendo um fogo que eu não podia apagar. Eles me pintaram como uma tirana, alguém que havia perdido o contato com as necessidades do povo. Cada decisão minha, cada comando, era questionado e distorcido.
Eu podia ver em seus rostos — dúvida. Suspeita. Ódio.
No quarto dia, o conselho já havia votado pela minha remoção. No quinto, eu havia enviado cartas, tentado pleitear minha causa, mas não adiantou. Meu próprio povo se voltou contra mim.
A ironia não me escapava. Eu sempre acreditei que a força de um governante estava na confiança do povo. E agora, eu estava sozinha, traída por aquela mesma confiança.
Eu era para ser a rainha deles, a protetora. Como cheguei a isso?
Minha reflexão no espelho alto me assustou. A mulher que olhava de volta parecia esquálida, com os olhos encovados de noites sem dormir, sua postura outrora régia curvada sob o peso de sua coroa. Eu não a usava há dias. Ela jazia na mesa de cabeceira, acumulando poeira, um símbolo de um poder que já não era mais meu.
Eu não me sentia mais como uma rainha. Apenas uma sombra de uma.
Eu soltei um longo suspiro, o silêncio do quarto pressionando contra meu peito. As paredes pareciam fechar, abafando o ar ao meu redor. Lá fora, o reino se agitava com sussurros, rumores, dúvidas — coisas que eu já não podia mais controlar.
“Oh céus, eu não posso assistir isso mais!”
Sobressaltada, olhei para cima apenas para ver a mulher no espelho falando comigo. Era meu eu subconsciente, olhando de volta com exasperação. Ela parecia exatamente comigo mas com um senso de vitalidade que eu havia perdido. Havia algo mais agudo em seu olhar, mais desafiador. Ela não estava quebrada como eu.
“Isso está começando a ficar realmente constrangedor, e eu não aguento!”
Dei um longo suspiro, olhando para ela com uma mistura de resignação e irritação. “Você aparece agora. Depois de todo esse tempo?”
Ela cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha. “Eu pensei que você tinha sob controle, mas claramente, eu te superestimei. Você está deixando tudo desmoronar.”
“Tudo está desmoronando!” Eu retruquei, gesticulando em direção à coroa que jazia descartada na mesa. “Caso não tenha notado, estou sendo destronada. O conselho se voltou contra mim, o povo —”
“E daí?” Minha reflexão rebateu, sua voz afiada com impaciência. “Caso você tenha esquecido, você é uma maldita deusa, e estou cansada de repetir isso para você!”
“Bem, eles não parecem exatamente muito empolgados com essa informação agora, não é?” Eu atirei de volta, pausando enquanto mais gritos ecoavam do pátio. O som da raiva do povo me atingia como um soco no peito, me lembrando que sua confiança havia sido despedaçada. A rebelião lá fora estava ficando mais alta, mais exigente. E eu não tinha respostas para eles.
Minha reflexão se inclinou para frente, seus olhos ardendo de frustração. “Você está aí parada, choramingando como uma criança indefesa, quando você já enfrentou pior. Você enfrentou guerras, traição, morte, e ainda saiu mais forte. E agora você está deixando um grupo de membros do conselho e alguns cidadãos irritados quebrarem você? Artiana nunca teria deixado isso acontecer!”
Eu senti uma onda de raiva surgir em meu peito, queimando mais quente do que qualquer medo ou dúvida. “Bem, eu não sou ela!” Eu disparei, com os punhos cerrados ao meu lado.
“Pois então talvez esse seja o problema!” Minha reflexão retrucou, voz afiada e inflexível. “Você passou anos tentando se convencer que era algo que você não é, algo menor, e é isso o que você se tornou — metade do que você é destinada a ser, patética e inútil!”
“É só poder pra você, não é?”
Minha reflexão ficou em silêncio por um momento antes de falar, sua voz mais suave, mas ainda impregnada de intensidade. “Você era fogo. Inflexível, implacável. Não havia uma única coisa que você não acreditasse que poderia conquistar. Você não esperava por aprovação ou orientação. Você tomava o que era seu, exigia respeito sem precisar pedir. E essa é a diferença. Naquela época, você sabia quem você era.”
Eu a encarei, meu peito se apertando com o peso de suas palavras. “E agora?”
“Agora, você ainda é a mesma menina corajosa, só que com mais compaixão e um coração puro — que agora é sua fraqueza e será sua ruína se você não for cuidadosa!” minha reflexão disse, seus olhos agudos com advertência. “Nyana está vindo, e você pode não se lembrar disso, mas ninguém pode pará-la. E por mais que você tente, você também não pode! Seu marido está planejando ir à guerra, mas isso pode muito bem ser a sua sentença de morte. Ninguém pode deter sua mãe, nem você — pelo menos não assim!”
“E o que eu supostamente devo fazer?” Eu perguntei, minha voz tremendo com medo e frustração. “Como eu a detenho? Eu não sou… Eu não sou mais aquela pessoa. Não posso ser a guerreira que costumava ser.”
“Você não tem que ser ela,” minha reflexão disse, seu tom suavizando pela primeira vez. “Você cresceu. Você mudou. Mas isso não significa que você perdeu seu fogo. Ele ainda está lá, ardendo sob a superfície. Você só precisa lembrar como manejá-lo. É hora de acordar Artiana, é hora de reivindicar seu lugar e você sabe disso!”
Com isso, minha reflexão desvanecia, a imagem no espelho se distorcendo até que era apenas eu novamente — com olhos vazios, cansada, mas com um vislumbre de algo mais. Algo familiar.
Virei-me de costas para o espelho, minha mente acelerada. Artiana. Ela era a chave para tudo isso, o que significava que eu precisava me tornar ela novamente. Mas eu poderia? Poderia realmente me tornar Artiana? Fazer isso não seria fácil, o que precisava ser feito para me tornar ela era ainda pior!
Pois me tornar ela novamente significava abandonar as partes de mim que eu havia valorizado — minha compaixão, minha misericórdia, meu amor pelo povo. Significava calçar os sapatos de alguém que governava com ferro, não com calor. Artiana não era uma rainha que esperava por aprovação ou procurava conselhos. Ela era fogo e fúria.
Mas o reino estava em caos. O povo, outrora leal, estava se voltando contra mim. O conselho estava tramando minha queda, e minha mãe, Nyana, estava se preparando para atacar. Se eu não agisse, se eu não encontrasse a força para ressurgir, tudo o que eu tinha construído seria destroçado.
Andei até a janela, olhando para o reino abaixo. As ruas estavam vivas com a agitação — vozes elevadas em raiva, bandeiras tremulando ao vento. A visão disso fez meu coração se apertar com culpa. Eu tinha falhado com eles. E ainda assim, o pequeno lampejo dentro de mim — aquele que havia acendido diante do espelho — estava ficando mais forte.
Você é Artiana. Você sabe o que deve ser feito.
A verdade era que eu sabia. Eu sempre soube. Não era uma questão de se eu poderia me tornar ela novamente. A verdadeira questão era se eu estava disposta a pagar o preço. Eu ia perder tudo que era importante no reino mortal e isso significava a vida que eu tinha. Todas as lembranças seriam apagadas e em seu lugar não haveria nada além de anos de raiva acumulada.
Isso me aterrorizava, para ser honesta. A ideia de perder a mim mesma, de me tornar uma casca movida apenas por fúria e poder. Mas perder minha família para Nyana? Isso me aterrorizava ainda mais.
Eu ainda estava pensando em tudo isso quando a porta se abriu devagar. Ivan entrou, o silêncio de sua entrada em desacordo com a tempestade que rugia em minha mente. Por um momento, nenhum de nós disse nada. Eu apenas o encarava, notando o quão cansado ele parecia — as linhas de preocupação mais profundas em seu rosto, o esgotamento em seus olhos que espelhavam os meus.
“Você está acordada.”
Eu soltei uma risadinha abafada, “Meio difícil dormir com todo esse barulho.”
Ivan assentiu, então cruzou o quarto, seus passos lentos e deliberados, até que ele ficou a poucos passos de distância de mim. Por um momento, pensei que ele poderia se aproximar, mas ele não o fez. Em vez disso, ele apenas me olhou, seus olhos sondando os meus como se tentasse ler os pensamentos que eu não conseguia dizer em voz alta.
“Você está bem?”
Eu sorri para ele, “Na verdade não, mas eu acho que sei o que fazer agora e você não vai gostar!”