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Capítulo 369: É o que ela merecia
Os olhos de Jiang Yue permaneciam nos traços da mulher mais velha: cada ruga, cada sombra desgastada. Seu corpo havia se tornado frágil, os movimentos mais lentos, a respiração mais fina — mas nada disso tocava o aço silencioso em sua presença. Mesmo agora, a doença e o tempo apenas refinaram sua vantagem, não a embotaram. Esta era uma mulher que um dia fez generais hesitarem, que fitou imperadores e netos rebeldes de igual para igual sem nem ao menos pestanejar.
Os olhos de Jiang Yue permaneciam no rosto da mulher — profundamente marcado, severo, suavizado não pela bondade, mas pela lenta erosão dos anos. Mesmo agora, enfraquecida pela doença e entorpecida pelo tratamento, a Senhora Luo carregava o inconfundível peso do comando. O tipo que um dia silenciou salas de guerra e fez crianças indisciplinadas endireitarem-se.
“Quando aquele neto miserável meu finalmente mostrar a cara,” disse de repente a Velha Senhora Luo, sua voz subindo com indignação teatral, “vou dar-lhe um sermão que ele não esquecerá por uma década. Olhe para você.” Seu olhar se estreitou, tão penetrante como sempre. “Você está mais magra do que da última vez. O que ele está fazendo, deixando você passar fome? Tch. Menino inútil. De que serve um homem se ele deixa sua mulher definhar como uma refeição escassa?”
A boca de Jiang Yue se curvou levemente. “Eu não estou mais magra.”
A Velha Senhora Luo inclinou-se ligeiramente, os olhos brilhando à luz da lâmpada. “Você anda como alguém sendo seguida por sombras. Como se estivesse tentando escapar de algo que já se enterrou dentro de você.”
O silêncio que se seguiu foi imediato, mas não oco. Ele os envolvia, suave mas denso, como o silêncio da neve. Jiang Yue não falou. Seus dedos, descansando no colo, se curvaram ligeiramente — pressionando suaves crescentes em suas palmas. Não o suficiente para doer. Apenas o suficiente para se aterrar.
Ela tinha dito a si mesma que estava bem. Repetia isso como um mantra. Que sua dor havia se transformado em memória, que a culpa não mais grudava em suas costelas como piche. Mas com uma observação tranquila, a Velha Senhora Luo havia descascado a fachada como laca quebradiça.
Desde o hospital.
Desde Jiang Xiu.
“Você deveria deixar que ele carregue isso com você, criança,” disse a Velha Senhora Luo, inclinando-se novamente para seus almofadões. “Seja o que for. Ele não tem medo das suas sombras.”
Os lábios de Jiang Yue se abriram, depois se fecharam novamente. Sua garganta trabalhou. E então, com uma respiração puxada de algum lugar mais profundo do que seus pulmões, ela disse:
“Ele já faz isso.”
Sua voz vacilou. Mas não quebrou.
“Naquela noite,” continuou ela, os olhos voltados para baixo. “Quando aconteceu… no hospital. Eu não consegui falar. Mal pude respirar. Mas ele não fez perguntas. Ele não insistiu. Ele apenas… sentou ao meu lado. Ficou até de manhã. Envolveu um cobertor ao redor de meus ombros como se eu pudesse quebrar. Ele não disse nada. E, de alguma forma… isso disse tudo.”
Um sorriso suave tocou seus lábios. Não brilhante. Não para mostrar. Mas real. Vivido.
A Velha Senhora Luo riu — um som seco e afetuoso que riscou suavemente o ar. “Vocês dois,” disse ela, balançando a cabeça com descrença exagerada. “Sempre olhando um para o outro como se tivessem encontrado a última peça do céu.”
Então seu tom se tornou reflexivo, reverente.
“Ele me disse que você voou meio mundo quando ele desmaiou. Deixou tudo para trás. Sem hesitação. Apenas… correu para ele como se ele fosse a única coisa que importava.”
Jiang Yue abaixou o olhar novamente. Sombras de seus cílios dançavam em suas bochechas.
“Esse tipo de amor,” murmurou a velha mulher, “não usa uma coroa nem uma bandeira. Não grita dos telhados. Mas persiste. Ele cria raízes profundas. Silencioso. Constante. Esse é o tipo que dura.”
Um silêncio frágil floresceu. Um que parecia a pausa antes de algo importante.
Então, suavemente, como desembrulhando um pacote delicado, a Velha Senhora Luo perguntou:
“Posso te perguntar algo, criança?”
Jiang Yue olhou para cima. Sua compostura—uma coisa finamente afinada—tremeu um pouco, como porcelana beijada por rachaduras finas. Ainda bela. Ainda inteira. Mas mais fina do que antes.
“Claro,” ela disse, suavemente.
A mulher mais velha inclinou a cabeça, observando-a de perto. Não com desconfiança—mas com algo mais quente. Mais paciente.
“Por que,” ela perguntou gentilmente, “ainda me chama de Velha Senhora?”
Jiang Yue congelou.
Ela não esperava por isso. Não de todas as coisas que poderiam ser perguntadas.
A pergunta não era severa. Não havia reprimenda nela. Mas, sob a superfície, havia algo vulnerável. Algo que se estendia, o suficiente para ser notado.
“Eu…” Jiang Yue hesitou. Seus lábios se moveram mas não deram resposta. Depois de um suspiro, ela se levantou—foi para a cadeira ao lado da cama e sentou-se novamente, desta vez ao alcance do braço.
A Velha Senhora Luo esperou. Paciente. Imóvel.
Por fim, Jiang Yue sussurrou, “Eu não queria presumir.”
Desde a devastação silenciosa que a deixou ereta, mas à deriva.
Ainda podia ouvi-la, às vezes—a batida rítmica do monitor cardíaco, cada nota marcando um tempo que não podia parar. O rosto pálido de sua irmã, o ar estéril, as palavras que nunca encontrou. O silêncio que a seguia até agora.
“Você tem carregado algo pesado,” disse a Velha Senhora Luo, mais gentil desta vez. Não exigente. Apenas vendo.
A voz de Jiang Yue, quando veio, era fina. Desfiando nas bordas. “Não é nada sério.”
A mulher mais velha não discutiu. Ela não precisava. Apenas estendeu a mão, lenta e deliberadamente, e colocou sua mão sobre a de Jiang Yue. Seu toque era leve, mas firme—sólido da maneira que importava.
“Bem,” ela disse após um momento, “sério ou não, não fique pulando refeições e fingindo que está tudo bem. Não é assim que as pessoas se desfazem—não em chamas, mas em sussurros. Uma rachadura de cada vez. Como porcelana sob água fervente.”
Jiang Yue não respondeu imediatamente. Mas seu silêncio mudou. Não era mais defensivo. Estava ouvindo.
E quando ela falou novamente, sua voz era suave. Sem adornos.
“…Tudo bem.”
Uma única palavra. Mas ela pousou como uma abertura.
A Velha Senhora Luo murmurou, satisfeita, como se aquela fosse a resposta que ela esperava o tempo todo. “Zhelan me conta as coisas, você sabe.”
Jiang Yue olhou para cima, um lampejo de diversão cautelosa em seus olhos. “É mesmo?”
“Mmm. Ele diz que você nunca pede ajuda. Teimosa como uma cabra. Acha que tem que carregar o mundo nas costas, mesmo quando seus joelhos estão prestes a ceder.”
Jiang Yue não negou. Ela não precisava. Seu silêncio era uma confissão por si só.
“Ele se preocupa com você,” a mulher mais velha continuou. “Diz que você o deixa chegar perto o suficiente para ficar—mas não o suficiente para compartilhar. Há uma diferença.”
Os ombros de Jiang Yue se moveram, um movimento mínimo. Como se algo dentro dela estivesse tentando não responder—mas não conseguia evitar.
A Velha Senhora Luo se recostou levemente, sua voz mais suave agora. “Você deveria deixar ele carregar isso, criança. Seja o que for. Ele não vai a lugar algum.”
Jiang Yue olhou para baixo, os cílios projetando sombras nas suas bochechas. Quando falou, foi quase inaudível.
“Ele já faz isso. Mesmo quando eu não peço. Especialmente quando eu não peço.”
Seu fôlego ficou preso. Ela continuou, a voz tremendo nas bordas.
“Naquela noite no hospital… Eu não conseguia falar. Mal podia me mover. Mas ele não fez perguntas. Apenas sentou ao meu lado. Ficou até de manhã. Trouxe-me um cobertor. Segurou minha mão. Ele não disse nada. E de alguma forma… aquilo foi suficiente.”
Seus lábios se curvaram em algo pequeno e real. Um sorriso não nascido da alegria, mas do reconhecimento. De uma gratidão silenciosa.
A Velha Senhora Luo riu, o som frágil, mas caloroso. “Vocês dois,” ela murmurou, “sempre agindo como se o outro fosse feito de milagres.”
Ela balançou a cabeça, e sua voz tomou um tom reverente.
“Ele me contou que você voou para o outro lado do mundo quando ele desmaiou. Não esperou permissão. Apenas arrumou e foi.”
O olhar de Jiang Yue caiu novamente.
“Esse tipo de amor,” a mulher mais velha disse, “não é barulhento. Não usa uma coroa nem faz discursos. Mas ele permanece. Cria raízes. Daquelas que seguram quando a tempestade chega.”
Jiang Yue engoliu em seco, sua compostura se desgastando.
Então, com uma gentileza surpreendente, a Velha Senhora Luo acrescentou, “Posso te perguntar algo, criança?”
Jiang Yue encontrou seu olhar—frágil, mas presente. “Claro.”
A mulher mais velha a estudou por um instante prolongado.
“Por que,” ela perguntou, “você ainda me chama de Velha Senhora?”
A pergunta tirou o ar dos pulmões de Jiang Yue—não cruelmente, mas com a surpresa de uma ternura inesperada. Seus lábios se entreabriram. Nenhuma resposta veio.
Ela se mexeu, levantou-se e atravessou até o lado da mulher mais velha. Sentou-se ao lado dela. Mais perto agora.
A Velha Senhora Luo não disse nada, apenas esperou.
Após um longo silêncio, Jiang Yue sussurrou, “Eu não queria presumir.”
As sobrancelhas da mulher mais velha se ergueram. “Assumir o quê?”
Jiang Yue hesitou. Sua voz quebrou, quieta e crua. “Que eu pertencia.”
Outro silêncio. Mais profundo. Mais firme.
Então, com a gentileza feroz de alguém entregando uma verdade mantida por muito tempo, a Velha Senhora Luo disse, “Menina tola. Você pertence desde o momento em que olhou para ele como se ele segurasse a lua nas mãos.”
A respiração de Jiang Yue ficou presa. Ela acenou com a cabeça—apenas uma vez. Um pequeno movimento. Mas o suficiente.
“…Certo,” ela disse, voz se quebrando.
A mulher mais velha estendeu a mão mais uma vez e colocou sua mão sobre a de Jiang Yue.
“Então pare de me chamar de Velha Senhora,” ela disse suavemente. “Me chame de Avó. Já é hora.”
Jiang Yue ficou imóvel.
Passou um momento.
Então, lentamente, ela encontrou os olhos da mulher mais velha. E naquele olhar—carregado de luto, culpa e cura—algo se desfez.
“…Sim, Avó.”
E pela primeira vez em que parecia anos, não parecia fingimento.
Parecia lar.