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Capítulo 368: O que vai, volta
Jiang Yue suspirou enquanto se acomodava contra os travesseiros, o tecido frio contra suas costas. Ela encaixou uma perna sob a outra, dedos distraidamente alisando um vinco de sua saia. Em frente a ela, em um ninho de almofadas e luz suave, Velha Senhora Luo estava sentada como uma figura esculpida no tempo—magra, régia em seu próprio jeito envelhecido, e completamente sem desculpas.
Os olhos de Jiang Yue deslizaram sobre o rosto da mulher mais velha—marcado, mas inflexível, suavizado apenas pela idade e não pelo temperamento. Mesmo agora, enfraquecida pelo tratamento e pelo tempo, ela ainda irradiava aquela mesma presença de olhos atentos que uma vez fez generais nervosos e crianças teimosas obedientes.
“Quando aquele neto vagabundo meu chegar aqui,” Velha Senhora Luo disse, a voz já aumentando com indignação de brincadeira, “vou dar-lhe uma bronca que seus ouvidos vão zumbir por uma semana. Olhe para você.” Seus olhos estreitaram, avaliando. “Mais magra do que da última vez. Será que ele parou de te alimentar direito? Sinceramente. Uma vergonha. Qual é o sentido de ter um namorado se ele deixa você definhar?”
Jiang Yue conseguiu esboçar um leve sorriso. “Não estou mais magra.”
“Hmph.” A velha mulher acenou com a mão em desdém, seu pulso ossudo balançando com a confiança de alguém que nunca duvidou de uma única palavra que falava. “Não estou falando da sua cintura, menina. Estou falando da sua aura.”
Aquilo fez Jiang Yue piscar, seus lábios se abrindo um pouco como se uma resposta tivesse escorregado por trás de sua respiração e desaparecido.
Velha Senhora Luo fixou aquele olhar atento nela—o tipo que cortava desculpas e polidez como uma lâmina através da seda. “Você parece que tem carregado fantasmas.”
As palavras pousaram com precisão impressionante, como uma flecha encontrando seu alvo não por sorte, mas por inevitabilidade. Jiang Yue ficou imóvel.
Seguiu-se um silêncio, mas não do tipo que parecia constrangedor ou frio. Tinha peso. Não opressivo—mas presente, como uma mão descansando suavemente em seu esterno. Zumbia entre elas, cheio de coisas não ditas.
Jiang Yue inspirou lentamente. Ela havia dito a si mesma que estava indo bem. Que ninguém poderia ver isso—que a culpa não aparecia, que ela havia suavizado o luto em algo quieto, gerenciável. Mas Velha Senhora Luo havia desvendado tudo com uma única frase.
Desde o hospital. Desde Jiang Xiu.
Desde o momento em que seu mundo havia mudado, deixando-a à deriva em seu pós-impacto.
Seus dedos se curvaram levemente em seu colo, unhas tocando sua palma. Não o suficiente para machucar—apenas o suficiente para sentir algo.
Ela havia revivido aquele momento repetidamente: o branco estéril do quarto, a subida e descida superficial do peito de sua irmã, a máquina bipando como uma contagem regressiva que ela não podia parar. As palavras que ela não disse. As que não podia. A culpa não mais arranhava. Simplesmente… permanecia. Constante. Baixa e estável. Como uma sombra costurada aos seus ossos.
“Você tem mantido algo dentro de si,” Velha Senhora Luo disse suavemente. Não acusando. Nem mesmo curiosa. Apenas… vendo.
A voz de Jiang Yue saiu pequena, mal um fio. “Não é nada sério.”
A mulher mais velha não contestou. Apenas estendeu a mão marcada pelo tempo, veias como rios sob a pele translúcida, e deu uma leve, deliberada batida nos dedos de Jiang Yue. Um gesto sem fanfarra—mas firme, caloroso. Do tipo que não precisava de permissão.
“Bem,” ela disse depois de uma pausa, “sério ou não, não pule refeições por causa disso. Não minta para si mesma que está bem quando está se apagando por dentro. É assim que as pessoas se quebram—não de maneiras grandiosas, mas de maneiras lentas e silenciosas. Como uma xícara de chá rachando sob o calor.”
Jiang Yue não respondeu imediatamente. Mas seu silêncio agora carregava algo diferente. Não recuo—mas reconhecimento. Um desenrolar lento.
E quando ela falou novamente, não foi desvio. Apenas verdade, pequena e crua.
“…Tudo bem,” ela sussurrou.
Era apenas uma palavra. Mas tinha peso. Uma abertura.
Velha Senhora Luo deu um hum satisfeito, como se tivesse esperado por aquela única sílaba.
“Você sabe,” ela acrescentou, a voz suavizando um pouco, “Zhelan me contou mais sobre você.”
Os olhos de Jiang Yue se levantaram. Cautelosa. Mais desconfiada do que antes.
“Ele diz que você nunca pede ajuda,” continuou a mulher mais velha. “Teimosa como um poste. Tenta lidar com tudo sozinha, mesmo quando está se afogando.”
Jiang Yue não a contradisse. Ela não precisava. O silêncio em seus olhos dizia tudo.
“Ele se preocupa,” Velha Senhora Luo disse. “Que você o afaste. Que você o deixe perto o suficiente para ficar—mas nunca o suficiente para compartilhar. Existe uma diferença, você sabe.”
Os ombros de Jiang Yue se moveram—mal. Como se estivesse tentando não reagir, mas não pudesse evitar completamente.
A mulher mais velha recostou-se contra seus travesseiros, olhos ainda fixos nela. “Você deveria deixar que ele carregue isso com você, criança. Seja o que for. Ele não está indo a lugar algum.”
Por um momento, Jiang Yue não disse nada. Então seu olhar caiu, e algo dentro dela pareceu suavizar—silenciosamente, delicadamente.
“Ele já faz,” ela murmurou. “Mesmo quando eu não peço. Especialmente quando eu não peço.”
Seu tom quebrou ligeiramente, e então se estabilizou.
“Naquela noite—quando aconteceu… no hospital… eu não consegui falar. Mal consegui ficar de pé. Mas ele não me perguntou nada. Não insistiu. Ele apenas sentou ao meu lado. Ficou até de manhã. Ele… apenas soube.”
Ela fez uma pausa, a memória passando por seu rosto como o vento sobre o vidro. Suas próximas palavras estavam um pouco sem fôlego, capturadas entre dor e conforto.
“Ele me trouxe um cobertor sem dizer uma palavra. Segurou minha mão. Permaneceu em silêncio. Foi o suficiente.”
Um sorriso passou por seus lábios—fino, mas real. Do tipo que vive no rescaldo da dor.
A Velha Senhora Luo riu suavemente, sua voz rouca com a idade e o carinho. “Vocês dois,” ela disse, balançando a cabeça. “Sempre falando como se o outro fosse um milagre.”
Ela sorriu novamente, e seu tom mudou—tender, reverente.
“Ele me contou que você voou até o outro lado do mundo quando ele desmaiou. Largou tudo. Fez as malas e correu para ele como se fosse a única coisa que importava.”
Jiang Yue olhou para baixo novamente, suas pestanas projetando sombras em suas bochechas.
“Isso não é algo que a maioria das pessoas faz,” disse a Velha Senhora Luo, sua voz como uma música desvanecendo. “Esse tipo de amor—ele não é barulhento. Ele não grita. Mas também não hesita, nem quando as coisas ficam difíceis. Ele cresce. Silenciosamente. Seguramente. Esse é o tipo que dura.”
A respiração de Jiang Yue prendeu, um pequeno tremor em seu peito. Antes que ela pudesse responder, o olhar da Velha Senhora Luo afiado mais uma vez, cortando o sentimento como sílex através da névoa.
“Mas,” ela acrescentou, cuidadosamente, “posso te perguntar algo, criança?”
Jiang Yue olhou para cima. Lentamente. Sua compostura, sempre tão cuidadosamente medida, se sentia mais fina hoje—como uma máscara de porcelana com rachaduras sutis. Ela inclinou a cabeça em respeito silencioso.
“Claro.”
A velha mulher a estudou por um longo momento.
“Por que,” ela perguntou gentilmente, “você ainda me chama de Velha Senhora?”
Jiang Yue piscou. Ela não esperava por isso.
A pergunta não era uma repreensão. Apenas… uma curiosidade. Mas por trás disso havia outra coisa. Algo mais silencioso. Algo quase terno.
“Eu…”
Ela olhou para longe, os lábios se partindo, mas nenhuma palavra saindo. Suas mãos se moveram em seu colo. Então ela se levantou, foi até a cadeira ao lado da cama, e se sentou novamente—mais perto desta vez.
A Velha Senhora Luo não pressionou. Apenas a observou.
Depois de uma longa pausa, Jiang Yue finalmente disse, mal acima de um sussurro, “Eu não queria presumir.”
As sobrancelhas da velha mulher levantaram, divertidas.
“Presumir o quê?”
Jiang Yue engoliu seco. “Que eu pertencia.”
Seguiu-se um silêncio. Este mais profundo do que todos os outros. Quando a mulher mais velha falou, sua voz era firme, quase repreendendo—mas gentil.
“Menina tola. Você pertence desde a primeira vez que olhou para ele como se ele tivesse pendurado as estrelas.”
A garganta de Jiang Yue apertou. Sua próxima respiração veio devagar.
Então, finalmente, ela assentiu—uma vez.
“…Tudo bem,” ela disse. Suave. Mas estava lá.
A mulher mais velha estendeu a mão novamente, repousou sua mão sobre a de Jiang Yue.
“Então pare de me chamar de Velha Senhora,” ela disse. “Me chame de Avó. Está na hora.”
Jiang Yue ficou imóvel.
Levou um momento, mas ela encontrou os olhos da mulher mais velha. E pela primeira vez naquela tarde, sua expressão se rompeu—não por fraqueza, mas por reconhecimento. Pelo súbito, avassalador senso de que ela não estava tão sozinha quanto pensava.
“…Tudo bem,” ela disse novamente.
E desta vez, parecia um lar.
Jiang Yue afundou de volta nos travesseiros, o algodão macio se prendendo nas omoplatas enquanto ela exalava. Seu olhar vagou—lentamente, instintivamente—para a mulher mais velha à sua frente. Ela absorveu cada linha familiar de seu rosto: as rugas aprofundadas pelo tempo, os olhos ainda brilhantes sob o peso dos anos.
“Quando aquele meu neto malandro chegar aqui,” a Velha Senhora Luo disse com um farejar apontado, “vou dar uma bronca nele de verdade. Olhe para você—mais magra do que da última vez. Ele não está te alimentando? Honestamente, que tipo de homem deixa sua mulher se definhar assim?”
Jiang Yue abriu a boca para responder—mas antes que pudesse, a velha mulher a interrompeu com um gesto rápido de mão.
“Hmph. Não estou falando sobre o seu corpo, menina.” Seu tom caiu, perdeu seu toque provocativo. “Quero dizer sua aura.”
Jiang Yue ficou imóvel.
A Velha Senhora Luo se inclinou, sua voz mais baixa agora, como se pudesse sentir as bordas de uma verdade tentando se esconder. “Você se parece com alguém andando com fantasmas amarrados às costas.”