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Capítulo 363: Um presente
Quando Jiang Yue entrou na sala, o suave rangido da porta mal perturbou a quietude lá dentro. Uma cálida lavagem de luz solar filtrava-se através das cortinas semiabertas, banhando os cantos tranquilos do antigo quarto em dourado. Na cama, apoiada em uma pilha de almofadas bordadas, estava Velha Senhora Luo—ereta, alerta e inconfundivelmente presente, apesar dos anos gravados nas linhas finas de seu rosto.
Seus olhos, tão afiados como sempre, iluminaram-se no momento em que pousaram em Jiang Yue.
“Você está aqui,” ela disse com um calor seco, voz baixa mas clara. “Demorou bastante. Eu estava começando a achar que você tinha se esquecido de mim.”
Jiang Yue fez um aceno polido, seus passos suaves contra o piso de madeira. Sua presença era calma, deliberada—como uma brisa que entrava despercebida mas mudava tudo o que tocava.
“Velha Senhora,” ela cumprimentou de maneira uniforme, as palavras curtas mas respeitosas.
A mulher mais velha ergueu uma sobrancelha, não de modo indelicado. “Ainda me chamando assim?”
Jiang Yue olhou de relance, seu olhar frio e inescrutável, então desviou, fingindo não ouvir. Seu silêncio falou mais do que qualquer resposta.
Ela puxou uma cadeira para mais perto da cama e sentou-se sem dizer mais nada.
Velha Senhora Luo não insistiu. Ela apenas estendeu a mão e gentilmente deu tapinhas na mão de Jiang Yue—dedos ossudos surpreendentemente quentes.
“Você tem estudado?” ela perguntou, tom casual.
“Mm,” Jiang Yue murmurou. “Os exames intermediários estão chegando.”
“E meu neto imprestável?” Velha Senhora Luo perguntou, voz com uma pitada de travessura. “Ele está sendo útil ou apenas rondando e atrapalhando você?”
Isso rendeu o mais leve sorriso a Jiang Yue. “Ele está… lá.”
A velha mulher soltou uma risada—enrugada pela idade, mas cheia de genuína diversão. “Isso soa correto.”
A conversa deles fluiu suavemente depois disso. Principalmente Velha Senhora Luo fazendo perguntas e Jiang Yue respondendo com sinceridade tranquila—sobre as aulas, suas sessões de terapia, pedaços e peças da vida no campus. Houve menções passageiras de Luo Zhelan, mas Jiang Yue nunca demorou muito em seu nome.
No entanto, a velha mulher estava observando-a cuidadosamente, olhos estreitados apenas um pouco enquanto se ajustava contra seus travesseiros. Então, após uma pausa, ela disse, “Agora, realmente. Pare de me chamar de ‘Velha Senhora.’ Isso me faz sentir como um relicário empoeirado da família. Apenas diga ‘Avó’, certo?”
Jiang Yue ficou imóvel.
Seus olhos piscavam para cima por um momento, capturando o olhar da mulher—e então caíram novamente.
“…Certo,” ela disse suavemente. A palavra parecia estrangeira em sua língua, como uma nota que ela não cantava há anos.
Velha Senhora Luo deu um pequeno aceno, satisfeita.
Ela soltou um suspiro e recostou-se, olhos percorrendo-a pensativamente. “Quando aquele menino vier aqui, vou dar um sermão nele. Olha só você—está mais magra do que da última vez que te vi. Ele não está alimentando você direito? Honestamente…”
Jiang Yue exalou—quase uma risada, quase não. “Não é ele. Eu não perdi peso. Estou igual.”
“Hmph. Não estou falando do seu corpo, menina. É a sua aura.” Velha Senhora Luo acenou com a mão vagamente no ar. “Você parece estar carregando fantasmas.”
Jiang Yue ficou imóvel.
Um silêncio cresceu na sala, estendendo-se longo e pesado.
Ela não esperava que ela notasse—não tão rápido. Não tão facilmente.
Ela pensou que estava escondendo bem. Aquele peso roedor atrás de suas costelas, o silêncio que ela construiu como uma armadura ao redor de si mesma desde a noite em que tudo mudou. Desde Jiang Xiu.
Os dedos dela se curvaram ligeiramente em seu colo.
Ela ficou revivendo aquele dia repetidamente em sua mente—tentando descobrir o que deveria ter feito, poderia ter feito, por que não viu aquilo chegando. A culpa não gritava; ela simplesmente estava lá. Constante. Silenciosa. Imóvel.
A voz da Velha Senhora Luo se suavizou. “Algo está te preocupando. Eu consigo ver isso claramente.”
A resposta de Jiang Yue foi quase um sussurro. “Não é nada sério.”
A mulher mais velha não insistiu. Apenas deu-lhe outro leve tapinha na mão, quente e firme.
“Bem,” ela disse. “Sério ou não, não pule refeições por causa disso. E não carregue tudo sozinha. É assim que as pessoas quebram.”
Jiang Yue não respondeu imediatamente. Mas o silêncio que se seguiu não foi frio—ele foi pensativo. Cuidadoso. Como um fio se apertando lentamente entre elas.
“…Tudo bem,” ela disse por fim, a voz quase suave demais para ser captada.
A Velha Senhora Luo a observava, os cantos de sua boca suavizando.
“Zhelan me contou mais sobre você, sabia,” ela disse.
Os olhos de Jiang Yue se ergueram, cautelosos.
“Ele diz que você é do tipo que nunca se apoia em ninguém. Determinada. Teimosa. Você tenta resolver tudo sozinha—mesmo que isso signifique se esgotar.”
Jiang Yue não negou. Não precisava. Seu silêncio já era uma admissão suficiente.
“Ele se preocupa com você,” continuou a Velha Senhora Luo. “Diz que você não pede ajuda. Nem mesmo quando mais precisa. Que ele está tentando—mas você nem sempre permite.”
Uma pausa silenciosa.
“Você deveria deixá-lo, criança. Ele não vai a lugar nenhum.”
A expressão de Jiang Yue mudou—apenas ligeiramente—mas o suficiente. Um pequeno vinco entre suas sobrancelhas suavizou. Seus lábios curvaram-se levemente, algo quente piscando em seu olhar.
“Ele já faz mais do que o suficiente,” ela disse, quase num sussurro. “Mesmo quando ele está sobrecarregado, ele ainda aparece. Diz a coisa certa sem eu pedir. Traz o que eu esqueço. Fica quando eu não consigo respirar. Ele simplesmente… sabe.”
Ela hesitou. “No hospital… ele não disse nada. Não perguntou. Apenas se sentou comigo. E de algum modo, ele sabia que eu estava me culpando pelo que aconteceu. Ele não tentou consertar. Apenas ficou.”
Sua voz se esvaiu, mas a suavidade em seu sorriso permaneceu—leve, nostálgica, real.
A Velha Senhora Luo riu novamente, os olhos se enrugando de ternura. “Vocês dois. Sempre falando como se o outro fosse um milagre.”
Ela balançou a cabeça, o carinho transbordando em seu olhar. “Aquele rapaz me disse que você voou do outro lado do mundo para estar com ele quando ele desabou de febre. Nem hesitou. Apenas comprou a passagem e correu para ele.”
Ela fez uma pausa, a voz agora mais suave, mais carregada. “Esse tipo de amor… é raro. É corajoso. Fico feliz que ele encontrou alguém como você. Alguém que não foge quando as coisas se tornam difíceis. Alguém que envelhecerá ao lado dele, com coração.”
A respiração de Jiang Yue foi suspensa, por apenas um segundo.
Antes que ela pudesse responder, a expressão da Velha Senhora Luo mudou novamente, o momento tornando-se sério.
“Mas… posso te perguntar algo, criança?”