Seja Gentil, Mestre Imortal - Capítulo 81

81: As Perguntas sem Resposta 81: As Perguntas sem Resposta Não é preciso dizer que foi uma noite em claro para mim, e provavelmente o mesmo para Bai Ye também.

Sozinha no silêncio e na imobilidade da noite, consegui pensar em tudo com mais clareza. Olhava para o dossel da minha cama, imaginando se começaria a ter alucinações assim que o sono chegasse, e se as cenas do passado apareceriam diante de mim naquela tela em branco.

Minha consciência me dizia que minha reação anterior foi errada. Vidas inocentes foram perdidas, e nada poderia justificar que essa parte da história do Monte Hua fosse reescrita e enterrada no passado. Os mortos mereciam uma resposta melhor, e quem quer que tenha provocado esse banho de sangue deveria ter sido punido.

Mas outra parte de mim lutava desesperadamente contra esse pensamento. A morte não era um conceito desconhecido para os cultivadores. Quando juramos dedicar nossas vidas ao caminho em busca do despertar, nos preparamos para esses sacrifícios. Havia riscos em cada etapa do treinamento, perigos em cada encontro com demônios e inimigos. Mesmo em torneios, lesões acidentais não eram incomuns, e algumas delas foram fatais.

Mesmo sabendo que isso era diferente. Essas vítimas não deveriam ter sido envolvidas, e não estavam preparadas para isso. Isso … foi homicídio culposo.

Estremeci. Não, Bai Ye não tinha intenção de nada disso. Não era culpa dele. Era sabido que espadas demoníacas afetavam seus usuários até um ponto que estava além de seu controle …

Mas como isso aconteceu se ele nunca esteve ligado às Estrelas Gêmeas? Sem essa conexão, ele não deveria ter perdido completamente a razão sob a influência das espadas. E se ele realmente aprendeu o perigo daquele poder depois do fato, por que não destruiu as espadas como o Guardião disse, para que não houvesse chance de a mesma tragédia acontecer novamente?

Revirei-me na cama, inquieta. Não queria duvidar dele, e eu tinha dito que meus sentimentos por ele não mudariam, não importa a verdade. Mas e se essas respostas forem demais para minha consciência suportar?

~ ~
O resto do torneio passou rápido demais. Os rumores de que eu estava usando uma espada demoníaca se espalharam rápido, e as pessoas começaram a lançar olhares medrosos para mim sempre que eu passava. Eu os ignorava, tentando focar completamente nas minhas lutas e não pensar muito em mais nada.

Meu desafio contra Wen Shiyin foi considerado cancelado, e eu consegui um bom sorteio para as rodadas de confronto com base no meu empate com Xie Lun. Depois de alguns dias de lutas intensas, acabei com quase uma sequência de vitórias, com apenas alguns empates e nenhuma derrota.

O que significava que eu poderia acabar na lista de discípulos para visitar o Templo de Jade. Contanto que o Guardião não me riscasse intencionalmente.

No entanto, quando voltei para o meu quarto no final do último round, já não tinha tanta certeza se ainda queria essa oportunidade. As lendas passadas das Estrelas Gêmeas pesavam na minha mente, assombrando-me como uma sombra escura que seguia muito de perto por onde quer que eu fosse. Eu hesitava em continuar usando as espadas, e ainda não tinha decidido se deveria voltar a focar na medicina. A viagem apenas adiaria essa decisão por mais alguns meses.

Meus pensamentos se embaralhavam enquanto eu juntava meus itens na cozinha e começava a preparar minha infusão do dia. O vapor subia da panela, embaçando tudo à minha frente com uma névoa densa. Que irônico que, há apenas alguns dias, pensei que finalmente tinha aprendido a seguir meu coração e buscar meus próprios objetivos, e agora aqui estava eu, me perguntando se alguma vez veria meu verdadeiro caminho novamente através da névoa.

“Qing-er.”

A voz de Bai Ye me tirou de meus devaneios, e eu me levantei tão abruptamente que quase derrubei a panela fervente. Era natural que eu estivesse surpresa, porém — nós mal havíamos conversado depois daquela noite. Eu queria atribuir isso à agenda lotada do torneio, mas eu sabia que não era essa a verdadeira razão.

Ele não entrou no meu quarto como de costume, ficando apenas na soleira da porta quando pigarreou hesitante. “Desculpe o susto,” ele disse. “Eu estou… partindo amanhã de manhã para buscar mais algumas ervas.”

Eu olhei para ele surpresa. “Pensei que você tinha desistido do que estava procurando,” eu disse, lembrando o que ele me contou na Aldeia Leste.

“Desisti. Isso é só para encontrar substitutos para o lótus de neve, já que provavelmente se esgotará em breve.” Ele fez uma pausa por um momento. “E o que eu estava procurando antes … não era para despertar as Estrelas Gêmeas, se é isso que você está pensando.”

Eu estremeci. Isso não era o que eu estava pensando de forma alguma, e algo bem lá no fundo doía pela cautela no tom dele. Era esse o motivo pelo qual ele tinha medo de me contar a verdade sobre as espadas? Porque ele pensava que minha confiança nele era tão frágil?

“Se você quiser vir junto …” ele continuou, “pode me encontrar ao amanhecer. Caso contrário, voltarei em uma semana.”

Essa foi a despedida mais simples que ele jamais me disse. Assenti um pouco atordoada, e ele saiu sem dizer mais nada.

Olhando sem foco para a panela que fervia, eu me sentia perdida. Bai Ye já estava agindo de maneira estranha desde que vi aquela visão, e agora, as coisas tinham tomado outro rumo drástico. Mesmo que eu tenha tentado mostrar a ele que não estava assustada com o que ele me dissesse, ele ainda me evitava, e de alguma forma sentia que, quanto mais aprendia, menos entendia sobre este quebra-cabeça.

Mas uma coisa eu entendi: eu não podia deixar a dúvida crescer entre nós. As perguntas em minha mente ainda precisavam de respostas, mas antes que eu as obtivesse, eu não iria ficar parada vendo isso arruinar tudo o que tínhamos.