Seja Gentil, Mestre Imortal - Capítulo 66

66: Quando Chegar a Hora 66: Quando Chegar a Hora Eu dormi feito um bebê naquela noite. Nada era mais confortável do que o seu abraço quente, e quando acordei com o sol brilhante entrando pela janela, ainda estava enroscada em seus braços quase na mesma posição em que adormeci.

“Está se sentindo bem?” Ele acariciou meu ombro e depositou um beijo leve no topo da minha cabeça.

Estendi os braços e os enlacei nele, respirando fundo o ar preenchido com seu perfume. Essa era a minha maneira favorita de começar um novo dia. “Não poderia estar melhor,” eu disse, e encostei meus lábios nos dele.

Era para ser um beijo rápido, mas no momento em que senti a maciez quente contra meus lábios, não pude parar de pedir por mais. Ele tinha um gosto fresco e nítido mesmo após uma noite longa, dissipando toda a sonolência que restava. Eu queria poder acordar assim todas as manhãs. “Me deixará dormir aqui todas as noites?” sussurrei, apenas depois de ter saboreado o suficiente dele.

“Absolutamente, não.” Sua voz se tornou sombria. “Não quando você precisa descansar. Eu aprendi com o meu terrível erro.”

Lancei-lhe um olhar fulminante. “Você soa como meu pai,” murmurei e recostei minha cabeça de volta em seu peito.

“Eu soou como seu mestre, e está na hora de você lembrar de seguir minhas ordens.” Seu tom, no entanto, não tinha nada de autoritário. Em vez disso, ele me puxou para mais perto e suspirou. “Não quero correr o risco de isso ter efeitos a longo prazo em você, Qing-er. O lótus de neve ajudará, mas seu corpo precisa descansar para acumular forças o suficiente para resistir a isso até… até as coisas melhorarem. Por favor, cuide de si mesma.”

Ergui o queixo para olhar para ele, alarmada com a seriedade em sua voz. Ele pareceu estar insinuando algo mais quando pausou em “até”. Até quando? E por que tanta seriedade por um desconforto tão pequeno?

“Há mais no poder das Estrelas Gêmeas?” perguntei. “Isso me afeta… de outras maneiras, além de apenas ser frio e desconfortável?”

Ele levou um momento para responder, como se tivesse de decidir se queria que eu soubesse. “Não deveria. Mas eu já errei na minha previsão de quanto tempo levaria para você sentir esses efeitos adversos, então não posso confiar no meu julgamento e arriscar outro erro como este novamente.”

“Quanto tempo mais você pensava que levaria?” A curiosidade à parte, eu senti uma pequena emoção por meu progresso com a técnica de meditação ter superado suas expectativas a tal ponto.

Ele passou o polegar sobre minhas bochechas. Havia uma estranheza em sua voz quando ele disse, “Uma década ou duas.”

Fiquei tão chocada que pensei ter ouvido errado. “Uma década ou duas?” Eu o encarei. Isso não era possível. Eu tinha feito algum progresso nas últimas semanas, mas suficiente para compensar um par de décadas?

“É porque a constituição do seu corpo e seu poder espiritual… combinam com o que as Estrelas Gêmeas precisam. É uma coisa boa, Qing-er. Foi um erro meu não prever isso.”

Mas o tom dele tornava difícil acreditar que ele realmente achava que era uma coisa boa. E pensando bem… ele tinha agido um pouco estranho desde que contei a ele sobre aquela visão. Muito mais cauteloso com minha saúde do que o habitual, e mais rigoroso com a minha prática. Eu simplesmente não tinha conectado tudo até agora. O que mais havia que ele não me contou?

“Bai Ye…” Mantive nossos olhos fixos um no outro. “Eu sei que você deve ter seus motivos para manter certas coisas de mim, e eu não quero intrometer, mas eu… eu só espero que…”

Eu não consegui dizer. Eu esperava que ele pudesse me deixar entrar completamente em seu coração, baixar a guarda e me deixar compartilhar esses segredos com ele. Mas como eu poderia pedir tal coisa? Ele era meu mestre, afinal de contas, e tinha todo o direito de manter de mim o que achasse adequado. E mesmo que não fosse, eu deveria respeitar sua privacidade.

“Eu só espero que você possa confiar em mim,” eu disse em vez disso.

O olhar em seus olhos vacilou. Por um momento, vi aquele insondável vislumbre de tristeza atravessar seus pupilas escuras mais uma vez. Ele deu um beijo leve em minha testa. “Eu confio em você com tudo que tenho, Qing-er, e prometi que lhe contarei toda a verdade um dia. Mas agora ainda não é a hora.”

Enterrei meu rosto no tecido fino de sua túnica, sentindo os contornos de suas cicatrizes sob a seda. Assim como ele nunca me contou de onde vieram essas cicatrizes, havia tanto que eu não sabia sobre ele, tantas coisas que ele fazia que eu nunca entendia. De repente, não consegui me segurar. “Então quando seria o momento?” perguntei. “Eu sei que você está fazendo isso pelo meu bem, mas eu não sou mais uma garotinha, e você não precisa me proteger tão bem assim. Eu quero ser capaz de compartilhar não apenas o lado brilhante e bonito da vida com você… mas também as dificuldades e escolhas duras. Mesmo que seja um fardo. Especialmente se for um fardo.”

O ritmo constante de seu coração mudou com minhas palavras. Antes que eu pudesse erguer minha cabeça para olhá-lo, seus braços me apertaram mais forte. “Não é por isso…” Sua voz estava aérea, quase inaudível. “Não sou nem de longe tão altruísta quanto você pensa. Estou fazendo isso pelo meu próprio bem…porque…”

Ele parou e me moveu em seus braços, pressionando minhas bochechas junto às dele. “Me desculpe.” Seu hálito fazia cócegas em meu rosto. “Só me dê mais algum tempo, e eu lhe direi tudo o que você quiser saber. Eu juro.”

Fechei os olhos, dizendo a mim mesma para me concentrar no calor de seu abraço em vez da tristeza oculta em sua voz. “Estou aqui quando você estiver pronto,” eu disse baixinho. “Temos muito tempo pela frente.”