278: Uma Conversa Muito Atrasada (Memória de Bai Ye) 278: Uma Conversa Muito Atrasada (Memória de Bai Ye) O grupo de discípulos se dispersou no final, mas a cena que fizeram logo se tornou o assunto mais comentado no Monte Hua, e as palavras ameaçadoras do espírito da espada apenas pioraram ainda mais sua reputação por toda a seita. Sempre que ela saía do salão e cruzava caminhos com outro discípulo, sussurros e olhares críticos a seguiam, frequentemente levando a mais boatos às suas costas.

Ela parecia não se importar. Bai Ye também não. Ele estava muito ocupado estudando a nova pista que encontrou naquela seita reclusa, tentando resolver o enigma para a única verdadeira solução para todos os seus problemas.

Felizmente, o destino o tratou com misericórdia. Dos registros dispersos em textos históricos que correspondiam à sua última descoberta, ele conseguiu juntar o ritual completo para cortar a ligação do espírito da espada com as Estrelas Gêmeas. Era a solução perfeita de que precisavam, pois permitiria que ele selasse as espadas assim que a garota pudesse viver com segurança sem elas, impedindo que o poder demoníaco a alcançasse ainda mais. Se afastar dessa conexão poderia ser difícil para ela no início, mas ele também encontrou maneiras confiáveis de tornar a transição o mais suave possível. O único problema… era com o próprio ritual.

Era um ritual antigo, que exigia uma quantidade enorme de poder espiritual para invocar vários símbolos ao mesmo tempo. Uma pessoa não poderia fazer isso sozinha, e Bai Ye teve que recorrer a Chu Yang e Teng Yuan, os únicos outros imortais no Monte Hua poderosos o suficiente para ajudar. Mas depois dos incidentes repetidos nos últimos anos, suas opiniões sobre o espírito da espada haviam piorado ainda mais do que antes, e nenhum deles estava disposto a estender a mão para a garota que agora viam como inimiga.

Bai Ye tentou tudo que pôde. Mostrou-lhes todos os métodos que encontrou para ajudar o espírito da espada a se ajustar às novas condições após o ritual, tranquilizando-os de que tudo estaria sob controle. Ele modificou o feitiço para extrair a maior parte do poder de si mesmo, para que eles apenas tivessem que canalizá-lo através dele sem gastar demasiado seu esforço de cultivo durante a invocação. Ele até começou a se envolver em assuntos da seita aos quais nunca tinha prestado atenção antes, na esperança de que entendessem sua determinação e lhe retribuíssem o favor.

O último esforço significava que ele tinha que passar mais tempo longe de seu salão do que o usual. Ele sentia saudades da garota, e sabia que esses afazeres os estavam afastando ainda mais do que já estavam, mas ele se dizia que a separação temporária era tudo pelo propósito de fazer as coisas voltarem ao normal mais cedo. Ele rememorava os dias felizes que passaram juntos sempre que estava viajando. Ele deixava uma carta para ela antes de cada partida, e mesmo que não soubesse se ela acabava lendo-as, isso lhe dava o conforto de que ela tinha algo para se lembrar dele, algo para lembrá-la da razão pela qual ele estava ausente.

Numa manhã chuvosa, ele estava escrevendo uma dessas cartas novamente. O lugar para o qual estava viajando desta vez era perto de uma cidade que havia visitado com ela antes, e ele se perguntava se ela ainda se lembrava. Ele olhou um tanto melancolicamente pela janela, debatendo consigo mesmo se deveria mencionar sua última viagem lá juntos, e então percebeu que a garota estava bem do lado de fora, espiando um tanto hesitante.

Ele piscou. “Algum problema?” Ele largou seu pincel de escrita e levantou-se da cadeira.

Ela olhava para ele por um momento. Então, ela balançou a cabeça e entrou. “Você está escrevendo novamente,” ela disse. “Você está partindo tão cedo já? Faz apenas algumas semanas desde sua última viagem.”

Bai Ye foi pego de surpresa por essas palavras. Ele não estava esperando que ela se lembrasse da última vez que ele tinha partido para uma viagem. O espírito da espada quase havia parado de reconhecer sua existência recentemente, ocupada demais até mesmo para se despedir na maioria das vezes antes de ele partir. Um toque de calor o inundou ao perceber que ela ainda estava pensando nele. “S-Sim,” ele gaguejou um pouco. “Mas não será por muito tempo desta vez. Chu Yang tem considerado realizar aulas compartilhadas com algumas outras seitas, e ele está visitando um grupo de mestres para discutir a ideia com eles. Como tanto Teng Yuan quanto eu estamos indo juntos, faremos a viagem o mais curta possível, então o Monte Hua não ficará sem um mestre por muito tempo.”

O espírito da espada ouviu em silêncio. “Você não costumava acompanhá-los em afazeres como este,” ela disse depois de um tempo. “Mas você está se envolvendo cada vez mais recentemente. É… por minha causa?”

Bai Ye piscou novamente. Ele não lhe havia contado sobre aquele ritual, principalmente porque ela não estava disposta a ter uma conversa real como essa com ele há muito tempo. Ele se perguntou por que ela de repente se interessou.

“Eu… pedi ajuda deles em um ritual,” ele disse cautelosamente. Estrelas Gêmeas era um tópico difícil entre eles, e ele não queria começar essa explicação da maneira errada. “Isso poderia potencialmente ajudá-la com… ajustar seu vínculo com Estrelas Gêmeas. Tipo—”
Ele pausou, vendo o olhar que ela lhe dava. “Você não precisa ser tão cuidadoso ao dizer isso,” ela sorriu levemente. “É por causa da influência demoníaca das espadas, não é? Eles recusaram porque não confiam em mim?”

Bai Ye só pôde olhá-la surpreso. Desde que ele lhe contou sobre suas descobertas a respeito da influência de Estrelas Gêmeas sobre ela, ela sempre foi sensível sobre o assunto, e nunca tinha falado sobre isso tão calmamente como agora. De algum modo, ela estava agindo muito diferente hoje, e ele não tinha certeza por um momento de como reagir.

Ela suspirou com sua hesitação. “Eu não posso culpá-los,” ela disse suavemente. “Você pode me contar mais sobre isso? Nós… realmente não falamos sobre isso há algum tempo, e espero que não seja tarde demais.”