244: Oferta Razoável 244: Oferta Razoável Eu não poderia ter imaginado uma justaposição mais distorcida do que aquelas palavras venenosas proferidas com uma voz tão doce e inocente. A fúria chispa em minha garganta. “Você sequestrou crianças desta aldeia?” Eu proferi através dos dentes cerrados.

A menina tsc tsc. “Seja mais grato com seu tom. Você deveria me agradecer por ter levado apenas um menino embora durante um dia antes de deixá-lo escapar para espalhar as notícias para mim. Tudo o que consegui dele foram lágrimas em vez de sangue.” Ela cruzou os braços e sorriu. “Mas agora que eu tenho sua atenção, as coisas não serão tão simples daqui por diante.”

Minhas preocupações diminuíram um pouco com o conhecimento. Se ela estivesse dizendo a verdade, então pelo menos ninguém tinha sido machucado até agora. “O que você quer?” Eu perguntei. “O que você planeja fazer com Estrelas Gêmeas?”

“O que eu planejo fazer com MINHAS espadas não é da sua conta,” ela estalou. “Com o que você deveria se preocupar, em vez disso, é com a visão de cadáveres alinhados na praça da aldeia, se você escolher não devolver minhas coisas para mim. Você tem uma vista bem clara disso da parte de trás da sua cabana, não tem?”

Então ela já tinha descoberto onde Bai Ye e eu morávamos… Surpreendentemente, eu não estava chocado. Quem quer que essa menina fosse, parecia ter muito mais experiência e talento para armar esquemas e instalar armadilhas furtivas do que eu jamais tive – ou alguma vez quis ter. Usar a vida de pessoas inocentes como alavanca era o movimento mais baixo e sujo que eu podia me permitir pensar, e apenas a noção de compartilhar uma face com alguém tão cruel e sinistro me fazia sentir nojo.

“Se este é o seu plano para forçar minha mão porque você não pode me derrotar—” minha mão pousou em minhas espadas, “—você está delirando. Meu único objetivo até agora foi manter Estrelas Gêmeas a salvo de você, mas se você insiste em me provar o quanto sua sanidade se perdeu, então eu não terei escrúpulos em matá-la com as próprias espadas que você queria.”

A menina ficou parada por um momento. Então ela soltou uma risada fria. “Não seja tão cheio de si mesmo. Se eu me lembro corretamente, você foi o que quase teve um gostinho da lâmina das minhas espadas lá na caverna. Se não fosse por causa daquele homem arruinando meu plano, você deveria estar morto já.”

Minhas mãos se apertaram nos cabos. “Eu não tenho interesse nem tempo para conversas fúteis.” Uma declaração muito honesta. “Já que está tão certa da sua superioridade, por que você não me mostra?”

Desembainhando minhas espadas, eu invoquei meu poder espiritual e saltei em direção ao seu poleiro. Mas ela não caiu na isca. “Me provocar não vai funcionar,” ela zombou e pegou aquele talismã de sua manga mais uma vez. “Você tem três dias para tomar sua decisão. Eu fiz uma oferta razoável o suficiente, e sugiro que você a considere com cuidado antes de decidir sacrificar as vidas de todos os seus vizinhos.”

Eu estava alguns passos atrasado. Com um farfalhar de seu vestido e uma risada maníaca, ela invocou o feitiço e desapareceu bem na frente dos meus olhos como na última vez. Somente a lua solitária ficou pairando sobre o telhado, envolvendo a aldeia em um fino filme de névoa.

~ ~
Eu ainda devo estar usando uma expressão irritada quando voltei para a cabana. Bai Ye olhou por cima de seus livros, seus olhos encontrando os meus com uma leve surpresa. “Eu pensei que você estava colhendo frutas,” ele disse. “Que tipo de frutas te ofenderam tanto?”

Deixando escapar um grunhido de desapontamento, eu desabei no banco ao lado dele. “Você estava certo. A garota nos encontrou. Eu a vi na Aldeia Leste, e ela ameaçou matar a todos se eu não lhe entregar Estrelas Gêmeas em três dias.”

Ele ficou um pouco tenso com a notícia. “Você cruzou espadas com ela?”

“Eu gostaria. Ela usou aquele feitiço novamente e fugiu antes que eu tivesse qualquer chance. Ela é muito boa com esses truques de deslocamento instantâneo.”

Ele deixou escapar um pequeno suspiro, aparentemente de alívio. “Ela é um espírito sem corpo físico. Feitiços como este naturalmente são mais fáceis para ela.” Ele me reuniu em seus braços, passando o polegar sobre minha testa para suavizar minha carranca. “Eu vou visitar a aldeia com você amanhã e ver o que podemos fazer para ajudar, mas não precisa se preocupar demais com a ameaça dela. Ela não teria recorrido a isso se fosse capaz de pegar o que quer diretamente. Aposto que ela não terá coragem de fazer uma verdadeira jogada tão cedo, e certamente não dentro desses três dias.”

Meus nervos desgastados se acalmaram com sua voz e gesto tranquilizante. Respirando fundo, eu assenti. “Ela não parece querer uma luta. Talvez seja necessário tempo para que seu poder se recupere completamente do selo. Quando eu desembainhei minhas espadas mais cedo, ela recuou quase instantaneamente como se tivesse medo delas.”

Ele não respondeu imediatamente. Então seus braços se apertaram um pouco mais ao redor de minha cintura. “Seja mais cuidadosa da próxima vez que a vir, Qing-er. Estrelas Gêmeas podem ameaçá-la… mas isso também pode causar perigo para você. Ela não é apenas uma inimiga típica, e não sabemos todos os truques que ela tem na manga ainda.”

Eu pisquei. A gravidade em seu tom parecia estar implicando algo. “Você sabe como ela está relacionada com Estrelas Gêmeas agora? Ou comigo?” Eu perguntei, olhando para a grande pilha de pergaminhos e tomos espalhados pela mesa. “Você encontrou o que estava procurando nesses livros?”

Seu olhar caiu dos meus olhos. Após o que pareceu um momento de luta, ele assentiu. “Teng Yuan alguma vez te contou a razão pela qual eu mantive essas mágoas contra ele e o Guardião todos esses anos?” ele perguntou.

Eu balancei a cabeça. As mágoas entre os três de duzentos e cinquenta anos atrás? O que isso poderia ter a ver com um espírito selado em uma caverna muito antes do tempo deles?