239: Despedaçado 239: Despedaçado Um tênue filete de luz branca fluía do homem meditando em direção ao selo, e o símbolo da serpente pulsava à medida que a força do poder espiritual começava a se acumular ao nosso redor. A cada rodada dos cânticos de Yu Jing, o padrão parecia girar um pouco mais rápido, sua cor brilhando um pouco mais intensa.

Então, era assim que o selo era fortalecido… canalizando o poder do invocador para o feitiço existente, alimentando energia renovada no talismã enfraquecido.

Bai Ye e eu observávamos quietos, atentos a qualquer som que não se encaixasse no ritmo dos cânticos. Tudo estava silenciado ao nosso redor no início, e as suaves invocações quase me embalavam para dormir com seu ritmo constante e calmante. Mas lentamente, à medida que o poder na câmara da caverna começava a fluir mais forte, um rosnado baixo soava em algum lugar atrás de nós. Depois outro em algum lugar distante à nossa esquerda. E mais outro. Um coro logo surgia ao nosso redor, ecoando pelas paredes da caverna.

“São os yazis,” eu disse, segurando com mais firmeza o cabo das minhas espadas. “A flutuação de poder do selo os alarmou?”

“Deve ser o espírito selado dentro dessas espadas,” Bai Ye disse, franzindo a testa levemente. “Antes de ser confinada, aquela presença conseguia afetar os yazis e levá-los a conduzir aqueles cultivadores em direção aos portais. Agora que estamos alterando o selo… Talvez a mudança no fluxo de poder esteja permitindo que as bestas respondam a ele novamente.”

Os rosnados aumentavam, e eles pareciam se aproximar. “Vou dar uma olhada,” me ofereci. Escusado será dizer, estaríamos em uma má situação se os yazis nos cercassem de todas as direções assim.

“Qing-er—”
“Eu consigo enfrentar alguns yazis sozinha agora. Não se preocupe comigo. O selo é mais importante no momento.” Eu acenei em direção a Yu Jing, que ainda estava profundamente em seus cânticos e provavelmente ignorante de tudo mais que estava acontecendo no momento. “Você terá que assumir a grave responsabilidade de protegê-lo.”

Bai Ye ainda tentava argumentar, mas eu rapidamente me retirei da câmara da caverna sem lhe dar a chance. A verdade era que ambos sabíamos que seu poder espiritual ainda não havia se recuperado totalmente, e eu não queria vê-lo arriscar-se a menos que fosse absolutamente necessário. Ele sempre foi superprotetor comigo, e agora era hora de retribuir o favor.

Deslizando para fora da câmara, segui os rosnados e avancei pelo labirinto. Dado o som, deveriam haver alguns deles bem perto de nós, o que não deveria ser um grande desafio para mim enfrentar—eu não havia parado de praticar durante o tempo de recuperação do Bai Ye, e com minha nova compreensão das Estrelas Gêmeas, meu progresso tinha sido tão rápido que não ficaria surpreso se minha força atual estivesse temporariamente superando a dele. Mas lembrando das minhas lições de nossa primeira viagem a esta caverna, peguei um talismã protetor e o apertei entre os dedos por precaução.

O som de garras batendo sobre pedras sinalizava a aproximação das bestas. Ergui minhas espadas. Na próxima abertura para um estreito túnel, a primeira figura escura pulou em mim, com a boca aberta e babando. Invocando meu poder espiritual, saltei rapidamente para o lado e desferi minhas lâminas de cima, antes que a besta tivesse a chance de mudar de direção. Um agudo uivo ecoou pela câmara da caverna, e seu corpo flácido desabou no chão.

Isso foi mais fácil do que eu esperava… Flexionei meus pulsos e me maravilhei com quanto a melhoria no poder espiritual era capaz de alcançar. Não tinha muito tempo para me vangloriar, no entanto, pois a próxima sombra já havia se aproximado de mim, mostrando os dentes enquanto carregava.

Esquerda. Direita. Cima. Baixo. Eu movia com facilidade, balançando minhas espadas tão rápido que tudo que eu conseguia ver eram lampejos brancos de seu movimento. Os próximos yazis foram um pouco mais difíceis de lidar, já que eu não podia mais me aproveitar da abertura do túnel para me esconder depois que minha primeira vítima havia entregado minha posição, mas a batalha ainda ocorreu muito mais suavemente do que eu antecipava. Em minutos, eu havia eliminado o primeiro lote de bestas, e eu tinha acabado de virar para seguir os rosnados do próximo grupo quando ouvi o som de algo se estilhaçando, vindo da direção do selo.

“Fique atrás de mim!” Era a voz de Bai Ye, a urgência nela clara mesmo à distância.

O que acabou de acontecer? Antes que percebesse, já havia girado nos meus passos, meus pés batendo no chão correndo. Os rosnados dos yazis pareciam ter se intensificado enquanto eu rasgava pelos túneis da caverna, e uma forte rajada de poder espiritual inundava o espaço, bombardeando meus sentidos junto com o vento em meu rosto.

A sensação de inquietação de dez dias atrás me atacou de novo. Esse poder espiritual… Não vinha dos yazis, nem do canto de invocação para fortalecer esse selo. Isso era muito familiar. Isso era…

Invadindo de volta à câmara da caverna, deslizei até parar. “Bai Ye! O que aconte—”
O resto das palavras congelou em minha garganta enquanto absorvia a cena. Yu Jing tinha recuado para um canto com Bai Ye à sua frente. Portador da Luz pulsava com poder, mas a mão que a segurava não se movia. Em vez disso, estava tremendo, e o rosto de Bai Ye estava pálido como a neve enquanto ele encarava o centro da câmara.

O selo havia se estilhaçado. Fragmentos da plataforma elevada estavam espalhados por todo o chão da câmara. De pé diante de nós—não, flutuando à nossa frente, já que aquele corpo era leve e etéreo como uma fada—estava uma garota, espadas gêmeas em suas mãos. Seu vestido vermelho brilhante esvoaçava com a rajada de poder espiritual que circulava ao nosso redor, seus cabelos escuros e fluidos emoldurando um rosto belo que era muito familiar nos meus sonhos mais temidos.

Um rosto que certa vez pertenceu a mim, há duzentos e cinquenta anos atrás.