221: Mentiroso vs. Mentiroso 221: Mentiroso vs. Mentiroso Meus olhos se arregalaram, metade surpresa e metade medo — surpresa que nossa sorte estava tão boa hoje que encontramos os bixies poucos minutos após chegarmos, e medo de que as feras excessivamente animadas confundissem o chamado do sangue de sua mãe com algo mais e fechassem suas mandíbulas em torno do meu pescoço.

Então um deles esticou sua língua e lambeu meu rosto. O outro abaixou a cabeça, farejando-me por todo com um ronronar feliz em sua garganta.

Minhas preocupações diminuíram com a reação deles. Pelo canto do olho, vi Bai Ye sorrir também, embora ele não parecesse muito preocupado para começar. Ele deve ter sentido que o entusiasmo das feras não vinha de hostilidade. “Não são esses os filhotes que você perdeu?” ele disse e agachou-se ao meu lado. “Quanto tempo faz desde que os vimos pela última vez?”

Lutando sob o esmagador show de afeto dos bixies, eu o encarei. Sobre o que ele estava falando? Antes que eu pudesse falar, um barulho de passos se apressou atrás dele, e uma voz gritou, “Tire suas mãos da minha montaria!”

Bai Ye se virou, o sorriso em seu rosto se transformando em um esgar de gelo. “Sua montaria?” ele disse. “Você quer dizer os animais que você roubou de nós?”

Uma pequena multidão tinha se juntado ao nosso redor, assistindo curiosa com um murmúrio baixo. Eu percebi imediatamente a intenção de Bai Ye então. Embora o sangue da mãe bixie tivesse atraído seus filhos até nós, seria difícil provar que esse cultivador diante de nós tinha capturado as feras à força, e não poderíamos simplesmente levar sua montaria sem tal prova. Mas se fosse óbvio que os bixies estavam mais apegados a mim do que ao seu dono, então poderíamos convencer a multidão de que o par tinha nos pertencido em vez disso…

Lancei um olhar para Bai Ye, e pensei que deveria provavelmente me sentir um pouco culpada por estarmos tentando mentir, mas não me senti. Às vezes, era necessário uma abordagem imoral para lidar com uma pessoa imoral.

A pessoa imoral falou então. “Você enlouqueceu?” Ele apontou um dedo para Bai Ye. “Estes dois têm sido meus desde que eram filhotes! Eu repito, tire suas mãos deles!”

Eu franzi a testa. Julgando pela roupa deste cultivador com um dragão bordado e uma fênix na barra, ele deveria ser do Salão dos Dragões e Fênixes. Como uma seita tão famosa na arte dos animais espirituais poderia abrigar um ladrão tão descarado? Ele não mostrou nem um pingo de remorso pelo que tinha feito. Esfregando as cabeças felpudas que ainda estavam se esfregando em mim, convenci os bixies a me deixarem voltar de pé. “Só porque você os roubou quando eram filhotes não os torna seus,” eu disse. “Sua ligação pode apagar a memória deles. Eles lembram onde pertencem.”

Isso não era mentira, e eu senti raiva me atingindo conforme me lembrava da mãe bixie. Quando ela mencionou seus filhos perdidos, eu tinha pensado que seriam filhotes como o que estava ao lado dela, uma vez que feras lendárias levam anos para crescer. Mas esses dois diante de nós eram completamente crescidos já, com longas jubas e grandes asas. Quanto tempo eles tinham sido separados de sua mãe? Não é de admirar que quase perderam o controle quando sentiram o chamado da pedra isca.

O cultivador me encarou. “Roubou?” ele estalou. “Que acusação maldosa! Minhas feras são amigáveis, só porque elas gostam de você não significa que—”
Os bixies devem ter entendido o que ele disse, porque no momento seguinte, eles mostraram os dentes para ele e assopraram.

Bai Ye deu uma risadinha. “Suas feras são amigáveis? Não me parece assim.”

Lancei um olhar rápido para os bixies. O sibilo me surpreendeu um pouco. Uma vez que a ligação acontecesse, as ações de uma fera espiritual estariam sujeitas ao controle do seu dono, o que provavelmente foi como este cultivador manteve os bixies obedientes por todos esses anos. Era raro ver uma fera agir agressivamente em relação ao seu dono assim. Foi o chamado de sua mãe que lhes deu esperança e poder para reagir?

A multidão se mexeu um pouco. “Que tipo de feras são estas?” alguém perguntou em voz baixa. “Certamente não parecem amigáveis.”

“É um bixie, uma das mais ferozes feras guardiãs. Eu só tinha lido sobre eles em livros antes… Nunca vi um mesmo.”

“Uma fera guardiã? Não é proibido ter uma dessas?”

“Não se elas escolherem ficar com uma pessoa voluntariamente. Mas pelo jeito…”

A expressão do cultivador mudou. “Eles me escolheram voluntariamente!” ele se virou para a multidão e gritou. “Os filhotes não estavam ligados a ninguém antes que eu os encontrasse. Esta mulher está mentindo!”

“Eu nunca disse que me liguei a eles,” eu disse, desprezando. “Um vínculo espiritual aprisiona um animal para a vida inteira, mas eu quero que eles sejam livres mesmo que escolham ficar ao meu lado.” Eu chamei os bixies para se aproximarem de mim, e eles obedeceram, descansando tranquilamente suas cabeças contra o meu braço. Eu os acariciei suavemente, enquanto dava ao dono deles um olhar sombrio. “Enquanto você se aproveitou disso e os levou embora de sua casa, forçando-os em um vínculo que eles não escolheram! Você achou que poderia esconder a verdade de todos para sempre?”

O murmúrio da multidão cresceu mais alto. Estava claro que os bixies mostravam muito mais afeto por mim, e os olhares da multidão para o “dono” tinham se tornado céticos. “O Salão dos Dragões e Fênixes rouba os animais dos outros?” alguém ofegou. “Isso é notícia chocante…”

“Ela está mentindo!” o cultivador repetiu em defesa antes de me encarar novamente. “Você deve ter usado um feitiço para atrair minha montaria para você! Eles nunca agiram assim todos esses anos. Que truques sujos você usou?”

Um perigoso brilho cruzou os olhos de Bai Ye, e eu percebi que aquelas palavras desrespeitosas em relação a mim tinham cruzado seu limite. Mas antes que qualquer um de nós falasse, uma nova voz veio de trás de nós, “Bai Ye? O que te trouxe à nossa feira este ano?”

Virando-me de surpresa, eu encontrei um cultivador desconhecido caminhando em nossa direção através da multidão. Ele conhecia Bai Ye? Embora fosse a resposta do ladrão de bixie que me surpreendeu ainda mais, enquanto ele gaguejava: “M-Mestre?”