209: Novo Boato 209: Novo Boato O tempo sempre parece passar mais rápido quando se está ocupado. Após passar por nosso imenso inventário de livros, espadas, ervas e suprimentos diversos, o quinto dia já estava sobre nós.

“É isso tudo?” perguntei enquanto Bai Ye revogava o selo sobre a porta do cofre das espadas, preparando o espaço para a próxima pessoa que poderia se mudar para essa sala após nossa partida. Parecia irreal—isso realmente estava acontecendo. Ao final do dia de hoje, este lugar que eu chamei de lar por mais de cinco anos não nos pertenceria mais.

“Nós verificamos todos os espaços de armazenamento e pegamos tudo que é nosso,” ele confirmou. “Mas se houver mais alguma coisa à qual você se sinta apegado… Você vai precisar se lembrar rapidamente, pois só temos até o final do dia para pegá-las.”

Na verdade, havia muitas coisas às quais eu me sentia apegado, e relutava em deixar ir cada vez que guardávamos uma espada ou um livro que não nos pertencia. Afinal, cada um deles tinha sido como um fiel amigo durante todos esses anos. Mas a excitação de uma nova vida nos esperando superou essas melancolias, e eu sabia que Bai Ye estava certo quando me disse que sempre faríamos novas memórias juntos, onde quer que acabássemos a seguir.

“Eu já arrumei tudo que preciso,” disse, decidindo que era hora de finalmente superar esses pequenos arrependimentos. “Não tenho tanta coisa assim em apenas cinco anos, mas suponho que deva haver mais que você sentirá falta daqui.”

Ele riu baixinho. “Coisas que sentirei falta… Com certeza há algumas. Nossas camas, a mesa de chá, aquela banheira no quarto de banho…”

Não demorei a perceber que todas essas eram as peças de mobiliário que haviam testemunhado… certos eventous entre nós, e minhas bochechas esquentaram um pouco com as lembranças, especialmente quando me lembrei do que ele havia feito com aqueles espinhos de guindaste doces na mesa de chá. “B-Bai Ye!” resmunguei. “Estamos tendo uma conversa séria sobre nos mudarmos daqui!”

“E substituir mobília é um assunto sério,” ele retrucou, puxando-me para seus braços. “Se eu não posso levar o que temos atualmente, então vou precisar comprar novos onde quer que decidamos nos estabelecer, e terei que me esforçar mais para que eles carreguem essas mesmas memórias novamente…”

Olhando para o sorriso descarado que havia voltado ao rosto dele sem aviso, dei um soco em seu peito. “Não tente me distrair,” resmunguei. “Temos apenas algumas horas restantes, e ainda há muito o que fazer.”

Soltando um ouch fingido, ele roçou os lábios na minha testa, depois relutantemente me deixou sair de seu abraço.

~ ~
Não nos levou muito tempo para resolver o resto das tarefas relacionadas à sala. Quando tudo estava cuidado, o sol ainda estava alto no céu, e decidi pagar uma visita ao pico principal—seria indelicado partir sem dizer um adeus apropriado para as pessoas que poderiam sentir nossa falta, por mais poucas que fossem.

A sala de Xie Lun foi minha primeira parada. Qi Lian e alguns outros discípulos juniores estavam treinando na frente quando cheguei, então eu os cumprimentei primeiro e contei o propósito da minha visita. Não havia sinal de Xie Lun, e me perguntei se ele estaria em alguma missão novamente desta vez.

Todos me olharam com olhos arregalados ao ouvir minha notícia. “Você não sabe quando voltará?” perguntou Qi Lian. “Sobre o que é essa viagem? Para onde você estará indo?”

“Eu mesmo não tenho certeza,” respondi. “Preciso buscar uma solução para uma doença rara, e a viagem durará o quanto for necessário para encontrá-la, provavelmente anos. Vai demorar um tempo antes que eu possa ver todos vocês outra vez.”

Isso era apenas meia verdade, é claro. Mas eu tinha aprendido a arte das meias verdades com os melhores, e estava feliz por não ter que me sentir culpado por mentir para eles.

“Você vai sozinho?” perguntou outro discípulo. “O Senior Xie sabe disso?”

“Estou indo com meu mestre—” o título tinha que permanecer inalterado na frente desse grupo, “—e eu esperava encontrar o Senior Xie aqui e contar-lhe a novidade também. Ele saiu hoje?”

Alguns olhares confusos foram trocados pelo grupo. “Ele saiu,” disse Qi Lian. “Ele está se aproximando da ascensão, então ele tem viajado muito ultimamente antes de entrar em reclusão. Ele ficará triste em saber que você está partindo, tenho certeza.”

“Senior Xie está quase alcançando seu avanço?” eu exclamei, sentindo-me animada com a notícia. “Por favor, mandem meus parabéns a ele quando ele retornar! É uma pena que eu não estarei aqui para ver… Mas tenho certeza de que ele se tornará um dos imortais mais fortes em pouco tempo. Eu invejo todos vocês por terem um sênior assim para se orgulhar.”

Mais alguns olhares do grupo, desta vez um pouco constrangidos. “S-Senior Yun,” Qi Lian fez uma careta. “V-Você ouviu os rumores recentemente?”

Pisquei. Rumores? Tendo estado trancado em uma sala com Bai Ye por quase dois meses, eu não saberia nem se o Salão do Guardião tivesse desabado. “Que rumores?” perguntei. “Sobre o Senior Xie? Por favor, não me diga que ele pode estar esperando perigo no avanço…”

“Não, não, ele não está,” disse Qi Lian rapidamente, embora tenha feito uma careta de novo e coçado a cabeça. “Na verdade, é sobre você… Na última vez em que você veio procurar pelo Mestre, parece que houve um mal-entendido…”

Fiquei cada vez mais confuso. “Sobre mim?” perguntei de novo. “Que mal-entendido?”

Qi Lian soltou um riso seco. “Bem… Já que o Senior Xie fez uma viagem misteriosa com você algumas semanas antes disso… e você nunca havia pedido para falar com o Mestre até então… Nós… Nós pensamos que você estava aqui para perguntar a ele sobre… se tornar companheiros daoistas com o Senior Xie…”

Minha mandíbula caiu no chão.