208: Ir para o Melhor 208: Ir para o Melhor A caverna estava quente e aconchegante em meio ao auge do inverno, livre da neve e da ventania gelada do lado de fora. Bai Ye iluminou o quarto com seu poder espiritual, e a luz pálida refletia das paredes da caverna, lançando uma sombra tênue sobre as gravuras.

Ele passou os dedos pelas bordas dos símbolos, já não mais afiados depois de serem desgastados pelo tempo pela condensação. “Você esculpiu estes há trezentos anos.” Sua voz ecoou suavemente no pequeno espaço.

Eu assenti. “Estrelas Gêmeas me mostraram visões disso,” eu disse. Algo que eu não havia compartilhado com ele antes. “Ela me mostrou o dia em que te disse que havia aperfeiçoado a técnica. Embora eu pensasse que você ainda estivesse em sua antiga sala no pico principal naquela época?”

“Eu estava,” ele disse saudosamente. “O pico principal era o único pico habitado no Monte Hua naquela época. Mas para praticar a técnica de ligação, é necessário um ambiente com um fluxo de poder espiritual que combine com a espada. Você encontrou esta caverna bem cedo, e foi por isso que eu construí a nova sala neste local depois de… depois que você partiu.”

Um tom severo retornou à sua voz, e eu sabia que ele estava relembrando aquelas memórias sombrias novamente. Meu coração se apertou. Nosso passado deixou feridas profundas nele, e me doía pensar quanto tempo levaria para que isso cicatrizasse por completo. Tentando não deixá-lo se perder novamente nesses pensamentos sombrios, segurei sua outra mão entre as minhas palmas. “Como eu consegui aprimorar essas técnicas?” perguntei. “Você me ensinou isso também?”

Ele sorriu então. “Não. Cada espada demoníaca exige um tipo diferente de técnica de ligação, e apenas a pessoa vinculada a ela consegue usar essa conexão para sentir os passos necessários. Levou cinquenta anos para você trabalhar esses detalhes. Eu estava tão orgulhoso de você quando teve sucesso… E se não fosse por todas as outras mudanças resultantes disso, eu teria ficado tão feliz também.”

Eu apertei sua mão. “Você ainda pode ficar feliz por mim, Bai Ye. Não é tarde demais para mudar as coisas. Nós ainda estamos vivos, e ainda temos a chance de resgatar todas aquelas almas presas nas Estrelas Gêmeas.”

Vendo minha evidente preocupação com sua melancolia, ele deu uma risadinha. “Não se preocupe, não te trouxe aqui para relembrar o passado. Se olhar com atenção, notará que as gravuras carregam seu poder espiritual nelas. Foi assim que você conseguiu seguir instruções tão simples e realizar uma rotina de meditação muito mais complicada de acordo.”

Surpresa com o que ele revelou, eu me aproximei da parede, e enquanto observava as gravuras, comecei a ver pequenos fluxos de energia serpenteando pelas ilustrações. “C-Como eu nunca percebi isso antes?” Eu ofeguei. O que foi ainda mais chocante foi que, sem nunca notar esses sinais de fluxo de energia, de alguma forma eu havia descoberto como mover o poder espiritual no meu corpo precisamente naquele padrão.

“É uma técnica para registrar pensamentos e ações, deixando um rastro do seu poder espiritual na escrita. O efeito pode alcançar o subconsciente do leitor mesmo que eles possam não perceber ou notar sua influência. Eu te ensinarei essa técnica um dia, mas por agora, o que precisamos fazer é obliterar essas gravuras. Já que seu poder espiritual foi selado nelas, você terá que ser a pessoa a fazê-lo.”

“Obliterar essas gravuras?” Eu repeti, ainda maravilhada com a técnica e instintivamente relutante em destruí-la. “Por quê? Estrelas Gêmeas não podem se vincular a mais ninguém em sua vida. Mesmo se alguém tropeçasse nessas ilustrações, que mal isso causaria?”

“Nenhum se não souberem que você é a vinculada com Estrelas Gêmeas. Mas se souberem, então esses desenhos revelam demais sobre como as diferentes fontes de poder espiritual dentro do seu corpo funcionam e se equilibram entre si. Uma pessoa mal-intencionada poderia usar essa informação contra você.”

“Isso parece bem improvável,” eu ri. “Sem falar no fato de que ninguém mais pode abrir aquela porta selada lá fora, o que eles poderiam fazer para usar essa informação contra mim? Eles não têm nenhum controle sobre meu pod—”
Então uma realização caiu sobre mim. “Então foi assim que você conseguiu combinar uma técnica de cultivo duplo com esta rotina de meditação?” Eu perguntei. “Foi assim que você conseguiu expulsar a influência demoníaca de mim?”

Assentindo com um certo sentimento de culpa, ele me puxou para seus braços antes que eu pudesse questioná-lo mais. “Me desculpe, Qing-er. Eu te disse na época que não era uma técnica de cultivo duplo, e não fui completamente honesto com você ao dizer isso. Me perdoe…”

Seu abraço foi cuidadoso, como se ele realmente estivesse preocupado que eu pudesse ficar brava com ele por mentir para mim. Um pouco irritada por sua tolice, soquei seu peito. “Idiota,” eu murmurei. “Não é essa a parte que você precisa implorar perdão! Nem pense em fazer algo assim novamente que te machuque. Se houver uma próxima vez, eu juro que nunca te perdoarei.”

“Não haverá uma próxima vez,” ele prometeu prontamente. Me soltando de seus braços, ele depositou um beijo em minha testa. “Além disso, eu não estou familiarizado o suficiente com essa rotina para lembrar dela toda… Uma vez que você destruir as gravuras, eu não serei capaz de recriar uma alternativa mesmo que eu quisesse.”

Sorrindo satisfeita, me posicionei em frente à parede. “Você tem certeza então?” perguntei. Ele me deu um aceno firme. Erguendo minha mão, eu invoquei meu poder espiritual e pressionei minha palma contra a parede, deixando o brilho luminoso infundir os padrões sobre a superfície de pedra. A luz queimava como um fogo rugente, e quando levantei minha palma, a parede estava lisa e limpa, sem mais traços das ilustrações.

Outra parte do nosso passado se foi, pensei. Embora dessa vez, fosse tudo para o melhor.