207: Não Deixando Nada Para Trás 207: Não Deixando Nada Para Trás Eu me virei para Bai Ye, horrorizada, no momento em que eles saíram de vista. “E-Ele sabe,” gaguejei. “Você tem certeza de que ele não vai agir contra nós por causa disso?”

“Ele poderia se não estivéssemos partindo em cinco dias.” Bai Ye me deu um sorriso tranquilizador e me deu um tapinha no ombro. “Não esqueça que a reputação do Monte Hua significa mais do que qualquer coisa para ele. Ele poderia ter se sentido responsável por manter as Estrelas Gêmeas sob controle se fôssemos permanecer aqui, mas uma vez que partirmos, isso não será mais da conta dele. Chu Yang ficaria mais do que satisfeito em manter distância disso se tivesse a chance, especialmente se isso significar que o segredo do passado da espada estaria mais seguro enterrado.”

Essas palavras acalmaram um pouco minha mente. O Guardião certamente não era muito perspicaz, eu pensei. Se algo estivesse realmente errado com as Estrelas Gêmeas como ele esperava, então libertá-las do controle do Monte Hua era a última coisa que ele deveria fazer. Como ele poderia não se importar com o potencial caos que poderia causar se fosse solta na natureza?

Mas, como sua falta de previsão só funcionava em nosso favor, eu não tinha do que reclamar. Retribuindo um sorriso para Bai Ye, entrelacei minha mão na dele. “Não posso acreditar como as coisas acabaram bem no final,” disse aliviada. “Você realmente me assustou quando ameaçou desafiar o Guardião… Eu não tinha certeza de todo se aquilo era um blefe ou não.”

Ele riu do que eu disse. “Quer ouvir um segredo?” Ele abaixou a voz num sussurro misterioso. “Chu Yang também estava blefando. Havia um motivo pelo qual ele não cruzou lâminas comigo por décadas… Porque ele nunca venceu. Ele não ousaria realmente me desafiar na frente de todos e fazer papel de tolo.”

Meus olhos se arregalaram. “Ele nunca venceu contra você?” eu repeti, enquanto um sentimento de orgulho se formava em mim. Claro, Bai Ye era o mais forte. Claro, ele teria se certificado de que tudo acabaria bem para nós, mesmo sem a ajuda de Teng Yuan.

Ele bagunçou meu cabelo. “Como eu disse, Qing-er, você não precisa se preocupar comigo. Eu não preciso ser capaz de empunhar uma espada para nos proteger. Agora, vamos começar a nos preparar para aquela nossa errância por tempo indeterminado. Há muito o que preparar em apenas cinco dias.”

~ ~
Ele estava certo. O prazo original de dez dias teria sido muito mais razoável, mas depois que o Guardião reduziu o tempo com raiva, tudo em nosso salão virou de cabeça para baixo. Afinal, deixar o Monte Hua não era tão simples quanto se mudar de uma casa. Era mais como se separar de uma vida, deixando para trás quase tudo que nos acostumamos por tanto tempo.

A biblioteca era o que eu mais relutava em deixar para trás. Eu desejava ter tido tempo para ler mais livros antes de partir — a maioria dos volumes foi obtida em nome do Monte Hua e registrada no pico principal, então não poderíamos simplesmente levá-los conosco. Eu estava contente por ter lido todos os que falavam sobre espadas demoníacas, pelo menos, e agradeço aos céus que a coleção que Bai Ye havia pego naquele país estrangeiro estava fora dos registros, o que significava que poderíamos manter o que mais importava para nós.

Mas, olhando a biblioteca no final do dia, eu ainda me sentia nostálgica. Não apenas pelos livros que eu sabia que sentiria falta, mas também pelas memórias que esse cômodo me deixou também. Como aquela tarde de verão abafada quando Bai Ye me encurralou contra a parede, exigindo minhas respostas sobre por que eu estava procurando aquele livro sobre cultivo dual.

“O que há de errado?” Bai Ye se virou e perguntou, já que eu havia pausado por tempo demais na porta.

Eu olhei para ele. Ele melhor que não saiba o que eu estava pensando, porque se soubesse, com certeza repetiria aquela cena agora mesmo, e não teria terminado com apenas um interrogatório inocente. Então eu fechei a porta atrás de mim e lhe dei um sorriso saudoso. “Eu só me sinto um pouco culpada… Eu deveria ter pensado com mais cuidado antes de decidir revelar a verdade. Talvez pudéssemos encontrar uma maneira melhor de deixar o Monte Hua do que essa… uma maneira que não exija que você deixe tudo para trás.”

Para minha surpresa, ele me olhou como se não entendesse o que eu estava dizendo. “Deixar tudo para trás?” ele perguntou. Então ele riu. “Você deve ter esquecido, Qing-er, que minhas memórias do Monte Hua não são tão favoráveis quanto as suas. Houveram momentos brilhantes, claro, mas aqueles foram de muito tempo atrás… e foram em um salão diferente para começar. Todos os meus dias aqui foram monótonos e sem esperança pelos últimos centenas de anos até você chegar. Sinceramente, estou bastante animado para deixar tudo isso para trás e começar de novo.”

Eu pisquei, um tanto incerta se ele tinha dito aquilo apenas para me confortar ou se ele realmente pensava dessa forma. Vendo minha dúvida, ele caminhou até mim e me envolveu em seus braços. “Você é tudo o que importa para mim,” ele disse suavemente. “Todo o resto aqui são apenas pertences extras que vêm e vão na vida. Mesmo que alguns deles possam carregar memórias queridas, no final não importa, contanto que você ainda esteja comigo. Contanto que a vida que levamos continue… Sempre haverá mais belas memórias para substituir as antigas à medida que o tempo passa.”

Sua voz era gentil e sedutora, e o amor naquelas palavras fez meu coração bater forte, assim como naquela tarde de verão. Eu sorri. “Bai Ye.” Eu enterrei meu rosto em seu peito. “Você está certo. Lar é onde o coração está, como você já me disse antes. Não há nada a lamentar enquanto não deixarmos isso para trás.”

Ele beijou o topo da minha cabeça, e eu senti ele sorrir. “Há mais uma coisa que não podemos nos dar ao luxo de deixar para trás,” ele disse, bagunçando meu cabelo novamente, “e eu preciso da sua ajuda nisso. Você virá comigo até a câmara da caverna?”