204: Meu Companheiro Taoista 204: Meu Companheiro Taoista Após semanas de ausência do Guardião, comecei a suspeitar que ele estava esperando uma oportunidade melhor para atacar novamente, e me preparei para confrontá-lo no pior momento. Ainda assim, eu não esperava que o motivo que o trouxesse aqui fosse … a atividade em nosso quarto … e suponho que devo apenas ser grato por nossos visitantes não terem chegado mais cedo pela manhã.

Eu avancei, preparando meus argumentos. Mas Bai Ye estendeu um braço para me impedir. “Vejo que você não teve a chance de pensar nisso com calma.” Seu olhar não deixava o Guardião. “Se alguém estivesse usando a espada demoníaca, teriam ficado vestígios de seu poder nesta área. Você sente algum deles agora onde está?”

O Guardião bufou. “Isso só seria o caso se vocês usassem uma técnica padrão. Você sempre tem mais de um truque na manga, Bai Ye. Não sabendo o que você planejou com essas espadas, não posso correr riscos.”

Eu estremeci com a hostilidade e desconfiança explícitas nessas palavras. Bai Ye e o Guardião nunca pareceram se dar bem, mas pelo menos tentavam manter a paz superficialmente. Hoje, no entanto, o Guardião parecia tão determinado a acabar com essa questão que nem mesmo se deu ao trabalho de manter as aparências. Isso não prenunciava nada bom.

“O que você está sugerindo, Chu Yang?” Bai Ye retrucou. “Que eu estou intencionalmente cultivando poder demoníaco e escondendo isso do resto do Monte Hua?”

“Não estou insinuando nada além do que infiro do óbvio”, respondeu o Guardião. “Os eventos recentes em seu salão se alinham bem demais para serem meras coincidências. Seu ‘acidente’ durante a reclusão já nos alarmou uma vez, e acho difícil acreditar que isso seja apenas outro ocorrido não relacionado.”

“Bai Ye,” Su Nian interrompeu repentinamente. “Se a conjectura do Guardião— Se nossa conjectura estiver errada, então você nos dirá para que servia o feitiço de barreira? Se tudo isso for um mal-entendido, tenho certeza que pode ser facilmente explicado.”

O olhar de Bai Ye escureceu. Ele abriu a boca para falar novamente, mas eu puxei sua manga, impedindo-o. “Diga a eles a verdade”, disse eu, com uma voz baixa que era alta o suficiente para o grupo à nossa frente ouvir. “Diga a eles o verdadeiro motivo. Eu não tenho medo.”

Ele olhou para mim, uma ponta de surpresa em seus olhos. Eu encarei-o firmemente. Eu sabia que o que disse não era como ele planejara lidar com isso — ele me havia avisado desde o primeiro dia que deixar a verdade vazar levaria a sussurros de que eu o estava seduzindo, e nós dois sabíamos o quanto esses rumores poderiam prejudicar o nome de uma mulher. Por isso ele queria deixar o Monte Hua comigo, para que pudéssemos encontrar um novo lugar para viver onde ninguém nos julgasse com base no que aconteceu aqui.

Mas ainda não tínhamos planejado todos os detalhes. Romper laços com uma seita não era nada comum, e certamente não seria fácil. Quais desculpas precisaríamos? Quais consequências enfrentaríamos? Mesmo que deixássemos este lugar com sucesso, o mundo dos cultivadores era pequeno, e não poderíamos nos libertar completamente deste círculo antes de encontrarmos a cura para ele. Como explicaríamos nossa partida repentina para os outros então?

Esses problemas não eram insolúveis, mas quando combinados com o risco de ameaçar sua segurança no momento, a decisão foi fácil. Assim que contássemos ao grupo nosso segredo, eu seria sem dúvida expulsa do Monte Hua, e Bai Ye naturalmente poderia partir sozinho em “desgraça”. O choque poderia até desviar a atenção de todos das Estrelas Gêmeas o suficiente para nos dar alguma paz de espírito.

Eu segurei seu olhar. Isso era pensamento demais para explicar a ele em palavras, mas ele me conhecia, e eu não tinha dúvidas de que ele poderia entender tudo isso através dos meus olhos. Por mais que confiasse que ele tinha seu próprio jeito de nos tirar da nossa situação atual, eu não queria vê-lo pagar por mais consequências. Ele já havia feito demais por mim. Esta era a solução mais fácil com o menor preço, e, além disso, eu era sincera quando dizia que não tinha medo. Eu teria apenas orgulho de declarar nosso amor ao resto do mundo, independentemente do que pudessem pensar.

O Guardião quebrou o silêncio. “Então conte, Bai Ye”, exigiu ele.

Bai Ye continuou me olhando por um momento a mais. Então um leve sorriso surgiu em seu rosto. “Estou feliz, Qing-er”, ele me disse suavemente. Virando-se para o grupo, ele passou um braço sobre meus ombros, trazendo-me para mais perto de si. “A partir deste dia em diante”, ele declarou, aquele sorriso ainda pairando em seus lábios, “Yun Qing-er não é mais minha discípula. Ela é minha companheira daoista.”

A súbita declaração, que não era uma resposta para as perguntas do Guardião, claramente pegou todos de surpresa. Tudo que eu vi na multidão foram olhares vazios e rostos confusos. Foi Teng Yuan quem entendeu primeiro. Sacudindo a cabeça levemente, ele soltou um pequeno suspiro, apesar de eu vê-lo sorrindo. Su Nian foi a próxima a reagir. Seus olhos não poderiam ter se arregalado mais, e ela me encarou com tamanha raiva que eu pensei que ela iria avançar sobre mim imediatamente se o resto dos mestres não estivesse ali.

Então o Guardião lentamente se deu conta da realidade. “O-O que você acabou de dizer?” ele perguntou. A primeira vez que eu o ouvi gaguejar.

“Yun Qing-er é minha companheira daoista”, Bai Ye repetiu, “e eu repetirei isso com orgulho quantas vezes for necessário se você precisar que eu faça isso. Agora você deve entender o propósito daquele feitiço de barreira que você temia.” Seu sorriso se alargou. “Basta dizer que é prática comum para cultivação dupla … ou precisa de mais detalhes?”