199: Marido e Esposa 199: Marido e Esposa Através de um véu de neve, eu o encarei, sem palavras.

A vida que ele imaginava tinha sido um sonho secreto meu desde que percebi meus sentimentos por ele anos atrás. Mesmo antes de eu saber quem eu realmente era, e mesmo antes de termos cruzado a linha que nos mantinha separados, eu havia imaginado em minhas fantasias mais selvagens que um dia, haveria uma maneira de eliminar as barreiras que existiam entre nós. Eu havia imaginado que um dia, eu poderia ficar ao lado dele com orgulho como sua igual, sem medo de declarar que eu era dele, e ele era meu.

Mas eu sabia que isso era um luxo que não podíamos nos dar ao luxo. A necessidade dos recursos do Monte Hua para me ajudar a alcançar minha ascensão à parte, havia responsabilidades que ele tinha que manter como um dos imortais mais velhos aqui. Suas condições atuais só complicavam ainda mais a situação – uma solução para desfazer o dano de uma espada demoníaca deve existir em algum lugar entre as numerosas seitas de cultivo do país, e seria muito mais fácil buscar ajuda como um mestre do Monte Hua, em vez de um autodidata sem conexões com uma grande seita.

Por mais que eu sempre quisesse estar com ele abertamente, havia muito a sacrificar, e ele certamente entendia isso tão bem quanto eu. Mas ele ainda decidiu perguntar…

“Qing-er.” Ele sorriu, vendo meu conflito. “Naquela câmara de meditação, você me ensinou uma lição. Nos últimos cinco anos… ou talvez até duzentos anos, tudo o que tentei fazer foi manter você segura, para garantir que você pudesse viver tranquilamente nesta vida sem os riscos e perigos das Estrelas Gêmeas. Mas você me fez perceber que o que eu fiz não era suficiente… Porque mesmo que você pudesse viver por centenas de anos mais, não seria do jeito que você queria, e não valeria o preço que foi pago.”

Ele passou o polegar sobre minha bochecha. “Você me ajudou a alcançar uma epifania, e desde então percebi que sou ainda mais ganancioso do que você. Você não queria uma vida sem quem você ama… enquanto eu peço ainda mais. Eu quero uma vida onde possamos rir assim, sermos nós mesmos assim, e ter todos os nossos vizinhos nos ouvindo e invejando. Uma vida onde possamos viajar juntos pelo mundo, de mãos dadas, e não precisar esconder como nos olhamos nos olhos. Uma vida onde podemos ter uma família, filhos e compartilhar essas felicidades simples com eles todos os dias, assim como qualquer outro casal com quem você cresceu e invejou.”

Um floco de neve pousou em meus cílios, e a gota gelada derretida picou meu olho, deixando-o um pouco embaçado. “C-Como você sabia que eu os invejava?” perguntei um pouco constrangida. “Os cultivadores não deveriam querer uma vida assim…”

Ele riu baixinho. “Porque eu conheço você… E eu conheço suas preocupações. Fique tranquila que você não precisa de nenhuma ajuda do Monte Hua para sua ascensão. Também não precisamos do apoio deles para encontrar aquela solução que precisamos – se fosse algo que o nome do Monte Hua pudesse resolver, eu não teria passado duzentos anos e ainda estar procurando uma resposta. Essas não são questões com as quais você precisa se preocupar… Você só precisa me dizer o que seu coração deseja, e se você quer compartilhar essa vida comigo.”

Meus lábios tremiam. Ele havia considerado tudo, então… E havia realmente tomado sua decisão. Esse era um momento pelo qual eu havia sonhado por anos, mas quando finalmente chegou, tudo pareceu muito natural e perfeito demais para ser verdade. Eu estava tão deslumbrada que nem conseguia reagir. Fechei os olhos, respirei fundo para me acalmar.

“Sua vida é minha vida, Bai Ye,” finalmente encontrei minha voz. “Eu a compartilharia com você não importa onde você decida ir, o que decida fazer. Especialmente quando você já planejou tudo exatamente do jeito que eu quero.” Envolvi minha mão em volta da dele, dando-lhe um sorriso malicioso. “Além disso… Você disse que se considera casado já, então parece que não tenho escolha se gostaria ou não de me casar com você.”

Ele levantou uma sobrancelha ao se referir ao que ele havia me dito no Portão de Prata. “E você disse que eu lhe devia uma cerimônia para que isso valesse,” ele me lembrou. “Você fará isso comigo agora, Qing-er? Ajoelhar-se ao céu e à terra para nos jurar como um? Para oficialmente nos declarar como um casal aos olhos do mundo?”

Meu coração pulou uma batida. Mas eu assenti firmemente. Juntos, saímos da neve profunda e chegamos ao chão limpo pelo corredor. Foi só então que nos lembramos de que nossos cabelos ainda estavam amarrados num nó e, com alguns resmungos, eu os desamarrei relutantemente para que pudéssemos ajoelhar lado a lado. Trocando um olhar entre nós, viramo-nos para o céu oriental e então tocamos nossas testas no chão.

Essa era a cerimônia no mundo dos comuns que selava a união entre um casal recém-formado. Simples mas solene, esse era o juramento sem palavras que unia duas pessoas, enquanto elas prometiam seu amor juntas diante das testemunhas do universo.

E assim, facilmente, nós o fizemos.

“Qing-er.” Sua voz amorosa sussurrou no meu ouvido enquanto ele me ajudava a me levantar. “Esposa,” ele acrescentou.

“Marido,” sussurrei de volta. Por nenhuma razão particular, senti minhas bochechas corarem. O título soava um pouco estranho… embora de todas as melhores maneiras.

Ele encostou sua bochecha na minha, e eu podia sentir ele sorrindo. “Esposa,” ele disse novamente. “O que eles fazem no final do casamento depois das cerimônias?”

Pisquei. Antes que eu pudesse responder, ele me ergueu nos braços, e caminhou para o nosso quarto comigo em seus braços.