Seja Gentil, Mestre Imortal - Capítulo 117

117: Espionando, Novamente 117: Espionando, Novamente Era um navio de madeira grande o suficiente para caber cem pessoas. As tábuas escuras brilhavam contra o sol nascente, as velas brancas cheias enquanto ele atracava à nossa frente. Mas não havia vento, e obviamente não havia água para que pudesse navegar.

“Um navio movido a poder espiritual?” Wen Shiyin chegou a essa conclusão primeiro e olhou para Xie Lun. “Você fez isso?”

“Não sou construtor de navios,” Xie Lun riu. “O Guardião comprou o navio. Eu só fiz algumas adições para fazê-lo navegar de forma diferente—”
“Só?” Qi Lian interrompeu. “Você modificou a lona, os cabrestantes, o leme… É praticamente um novo navio agora, com todos os novos mecanismos e fontes de energia.” Ele se virou para Wen Shiyin e para mim. “E eu te contei que essa coisa se guia sozinha? Tudo o que precisa é de uma fonte de poder espiritual e um destino. Ninguém precisa comandá-lo em toda a nossa jornada até o Templo de Jade.”

Eu ri da empolgação de Qi Lian. “Você fala tão orgulhoso dele que eu pensaria que foi você quem construiu isso,” brinquei.

Wen Shiyin sorriu ao meu lado. “É uma bênção ter um sênior de quem você possa se orgulhar tanto,” ela disse. Havia um toque de inveja em seu tom.

O Guardião embarcou no navio, e o resto de nós o seguiu. O navio era grande demais para um grupo de apenas trinta pessoas, e poderíamos facilmente ter chegado ao Templo de Jade em espadas voadoras, mas suponho que isso era uma demonstração de talento e poder para o Monte Hua. O Guardião deve ter realmente confiado em Xie Lun para lhe ter entregado uma tarefa tão importante.

Sob a súplica de Qi Lian, Xie Lun concordou em nos mostrar como as modificações foram feitas, então Wen Shiyin e eu seguimos seu grupo para um tour dessa obra-prima. Nós circulamos pelo convés. Xie Lun apontou para o mastro principal e estava começando a explicar como ele fez a vela controlar seu próprio rumo quando, pelo canto do meu olho, vi Bai Ye caminhando em nossa direção, parando a cerca de vinte passos de distância e se inclinando sobre as grades.

“O poder espiritual vai girar esta peça …” ouvi Xie Lun dizer, mas eu já não estava mais ouvindo. Suprimindo a vontade de virar em direção a onde Bai Ye estava, inclinei minha cabeça um pouco para que ele ficasse completamente à margem da minha visão. Ele olhava para longe, seu rosto levemente voltado para nós, e eu sabia que ele também deveria estar olhando para mim pelo canto do olho. Eu lutei para esconder um sorriso. O navio tinha acabado de começar a se mover, o vento de nossa velocidade soprando seu cabelo para trás, fazendo as mangas de seu robe branco esvoaçarem. Contra um pano de fundo de nuvens matinais em chamas, ele parecia exatamente como quando o conheci cinco anos atrás.

“Mestre.”

A voz de Wen Shiyin me assustou. Retirei rapidamente meu olhar furtivo e a vi se virando de lado com uma reverência. Quando segui seu exemplo junto com o resto do grupo, a voz de Su Nian ecoou acima da minha cabeça: “Não há necessidade de formalidades. Não me deixem interromper vocês.”

Meu coração se apertou. Quando nos endireitamos, Su Nian já tinha passado, e eu não precisava olhar para saber que ela estava caminhando em direção a Bai Ye. Sobre o que ela iria falar com ele desta vez? Como discípulo, eu não poderia impedi-la ou interrompê-los… e nem mesmo poderia olhá-los abertamente. Eu aguçava minha audição, esperando estar perto o suficiente para captar uma parte de sua conversa.

Foi a risada de Qi Lian que eu ouvi primeiro, no entanto. “Sênior Wen, Sênior Yun,” ele disse na voz mais baixa possível, “quando foi a última vez que seus mestres se viram?”

Xie Lun deu-lhe um leve soco no ombro. “Fofocar pelas costas de um mestre é absolutamente desrespeitoso, Qi Lian.”

Qi Lian fez uma careta, mas a curiosidade ansiosa não desapareceu de seu rosto. Ele se agachou atrás do mastro como se tentando estudá-lo, mas seus olhos se desviavam para onde Bai Ye estava. Ele estava obviamente interessado em assistir ao espetáculo.

Xie Lun balançou a cabeça e deu de ombros. Wen Shiyin estava impassível. Depois de considerar por um breve momento, juntei-me a Qi Lian—era provavelmente a única oportunidade que eu teria de ver Bai Ye hoje, e já que Qi Lian havia criado uma desculpa tão conveniente para mim, eu a aproveitaria.

Da cobertura do mastro, vi Su Nian posicionando-se ao lado de Bai Ye, tão perto que seus ombros quase se tocavam. “Você decidiu?” ela perguntou familiarmente.

Qi Lian soltou um suspiro ligeiramente confuso. “Eles parecem muito mais próximos do que eu pensava,” ele sussurrou. “O Sênior Xie disse que eles raramente se veem, mas parece que têm estado em contato bastante frequente.”

Bai Ye estava certo, pensei. Su Nian gostava de falar como se o conhecesse melhor do que ninguém. Eu segurei uma careta. Então eu o ouvi responder: “Eu vou deixar o Guardião saber assim que tiver uma resposta. Agradeço que você tenha passado a mensagem para nós, Su Nian, mas não precisa se incomodar mais com isso.”

Era o mesmo tom que ele usava para falar com ela da última vez, educado, mas distante. A bela testa de Su Nian se franziu ao ouvir isso. “Você sempre precisa falar comigo tão distante?” ela perguntou. “Mesmo hoje? Hoje é Meio Outono… No mundo dos comuns, é o momento para as famílias fazerem uma pausa nos afazeres diários e se reunirem sob a lua cheia. Você tem sido como uma família para mim desde que cheguei ao Monte Hua—”
“Su Nian,” ele a interrompeu. “Cuidado com suas palavras. Sua mestra e discípulos são sua família aqui. Vai machucar seus sentimentos se ouvirem você me dizer isso em vez disso.” Ele se afastou das grades. “Ainda há tempo antes de chegarmos ao Templo de Jade. Espero que você aproveite bem.”

O rosto de Su Nian empalideceu enquanto Bai Ye se afastava. Ela se virou e olhou ao redor, como se checando se alguém tinha testemunhado seu momento embaraçoso. Qi Lian e eu enterramos rapidamente nossas cabeças atrás do mastro. “Lembra do que eu disse meses atrás, Sênior Yun?” Qi Lian sussurrou. “Seu mestre realmente é difícil de lidar.”