Seja Gentil, Mestre Imortal - Capítulo 100

100: Ninguém Como Você 100: Ninguém Como Você Bai Ye colocou uma mecha de cabelo solta atrás da minha orelha antes de continuar. “Eu não tinha a intenção de aceitar nenhum discípulo quando Su Nian — a mestra de Wen Shiyin, caso você ainda não saiba o nome dela — veio pela primeira vez ao Monte Hua. Mas ela queria treinar em medicina, e apesar de eu ter apenas começado nesse caminho na época, eu era o único no Monte Hua que sabia pelo menos um pouco disso para poder ensinar mais alguém. O Guardião queria dar a ela uma chance de tentar o que ela queria seguir, então ele a enviou até mim apesar da minha discordância.

“Isso foi há mais de duzentos anos, e apenas algumas décadas desde… o incidente com as Estrelas Gêmeas. Eu estava desolado, para dizer o mínimo, e uma vez que eu não fazia ideia de como ser um bom mestre, eu apenas deixei as coisas acontecerem por conta própria. Su Nian principalmente aprendeu observando-me preparar poções e me seguindo em viagens para coletar ervas. Eu não dei muita atenção a ela até a hora da cerimônia de mestre, quase um ano depois. Quando eu a alertei novamente que se tornar minha discípula não seria a melhor escolha para ela, o jeito como ela implorou para ficar… fez-me perceber que ela estava começando a desenvolver sentimentos diferentes. Foi quando eu a enviei de volta para o Guardião, e eu raramente a via desde então.”

Eu tentei o meu melhor para não estremecer. Se eu não soubesse que ele estava contando uma história sobre Su Nian, eu pensaria que ele estava falando de mim. Uma discípula em medicina, seguindo-o silenciosamente e observando cada passo dele, admirando-o mas escondendo seus sentimentos nas sombras… Ela era exatamente como eu, e eu podia quase ver como ela se apaixonava por ele dia após dia.

A realização me beliscou. Não pude evitar de pensar que se ela o tivesse conhecido em um momento melhor, ela poderia ter sido a única a se tornar sua discípula, e eu nunca teria aparecido no Monte Hua. Ela seria a que estaria sentada aqui ao lado dele agora.

Ele também havia sido tão cuidadoso e gentil com ela quanto sempre foi comigo?

“Qing-er.” Ele pegou minhas mãos, e eu não percebi que estava apertando-as com força até ele desenrolar meus dedos e segurá-los. “Admito que sinto um pouco de culpa toda vez que penso nisso… porque eu deveria ter notado a mudança dela mais cedo e interrompido antes que fosse tarde demais. Foi devido à minha negligência que ela ainda não tem um companheiro daoista depois de todos esses anos, e sinto muito que não posso fazer nada para consertar isso. Mas é só isso. Nada mais no passado ou no futuro.”

Eu assenti — ele já havia me contado tudo que eu precisava saber, e eu devia estar satisfeita com a resposta. Mas de algum jeito, eu não estava. “Como ela é?” eu perguntei. Não pude parar de me comparar com ela e imaginar como as coisas poderiam ter sido diferentes.

Ele pareceu surpreso com minha pergunta. “Como ela é?” ele repetiu. “Ela… provavelmente parece ter seus vinte e poucos anos agora… um pouco mais alta que você, se eu me lembro corretamente…”

A genuína confusão e luta em seu rosto me fizeram dar uma risada, e os pensamentos sombrios na minha mente clarearam. “Eu quis dizer que tipo de pessoa ela é,” eu disse.

“Ah… ela tem um bom coração e um talento para medicina… se ela continuasse por esse caminho.” Havia um sopro de pena em sua voz. “Ela me ajudou a cuidar de alguns dos discípulos feridos daquele incidente, e seu trabalho foi impressionante. Mas após o Guardião levá-la como discípula, ela focou apenas na espada e parou de praticar medicina no fim.”

Não havia saudade na maneira como ele falava dela, apenas uma apreciação como qualquer mestre mostraria a um discípulo, e isso me aliviou um pouco. “Os discípulos feridos?” Deixei meu foco se desviar para um pequeno detalhe que chamou minha atenção. “Do… das Estrelas Gêmeas? Mas você disse que ela veio ao Monte Hua décadas depois daquele acontecimento?”

“Ela veio. Alguns ferimentos das pessoas… eram graves o suficiente para serem intratáveis.” Ele baixou seu olhar, e eu senti seu aperto se fortalecer. “Eu cuidei deles até os últimos dias. Não que isso pudesse trazer algo de volta… mas essa era a única coisa que eu podia fazer.”

Um sentimento misturado surgiu em mim. Claro que ele teria feito o seu melhor para compensar os danos que foram feitos — este era o Bai Ye que eu conhecia, e eu estava grata por isso. Mas ao mesmo tempo, eu não pude evitar de sentir ciúmes que Su Nian havia passado quase um ano ao lado dele ajudando-o durante aqueles tempos difíceis. Tempos que ele nem mesmo conseguia se abrir para me contar.

“Eu queria estar lá com você,” eu disse em quase um sussurro. “Eu queria poder ter te ajudado naquela época… como ela pôde.”

Ele pareceu surpreso novamente por um momento. Então ele riu baixinho. “Estou feliz por você não ter estado,” ele apertou minha mão. “Naquela época, eu não era nem de longe a pessoa que sou hoje. Não seria um exagero dizer que eu havia perdido toda esperança na vida por um bom tempo, e francamente… eu não sei o que alguém poderia ver em uma pessoa assim que valesse a pena gostar.” Ele sorriu um pouco envergonhado.

Eu pisquei, sem esperar que o incidente o tivesse afetado tanto. “Além disso,” ele acrescentou, “se você estivesse lá como ela estava, e se eu te mandasse embora como fiz com ela também?”

“…”

Ele riu da minha falta de palavras. “Não se compare a ela, Qing-er. Eu já disse a você antes que minha discípula não seria outra senão você, lembra?” Ele esfregou seu polegar suavemente sobre o dorso da minha mão. “Você não é como elas. Não há mais ninguém como você neste mundo inteiro.”