504: Terrivelmente Vermelho I 504: Terrivelmente Vermelho I Cordélia alisou suas saias, a mão deslizando sobre a renda que emoldurava seu colo.

“Há algo errado com meu vestido, Sir Jonah?” ela perguntou provocativamente, adorando a maneira como ele desviava o olhar de seus movimentos.

Homens. Criaturas tão simples eram eles.

“O clima de Vramid pode ficar um pouco frio à noite,” disse Jonah. “Estou apenas preocupado que Vossa Alteza possa não estar acostumada ao clima de nosso reino.”

Em contraste com sua roupa reveladora, Jonah estava bem abotoado. Ele usava um casaco sobre seu uniforme, e uma espada estava presa ao seu lado.

“Bobagem,” disse Cordélia com um movimento de mão. A pulseira de coral que ela usava tilintava harmoniosamente conforme ela se movia, agindo como se pequenos sinos estivessem presos ao seu pulso. “Nesse caso, teremos simplesmente que voltar antes do pôr do sol, não é? Isso é um problema facilmente resolvido.”

Jonah franziu os lábios. “Muito bem, então, Vossa Alteza.”

Ele segurou a porta da carruagem aberta, fazendo uma pequena reverência enquanto esperava que Cordélia entrasse antes de segui-la. Eles se sentaram um em frente ao outro, com as costas de Jonah rigidamente retas, enquanto Cordélia se recostava em seu braço, mantendo seus olhos fixos nele o tempo todo.

Sir Jonah era um homem bonito, ela percebeu. Antes dos dias recentes, ela nunca tinha parado para examinar o homem que era conhecido como a lâmina do rei tirano. Ele sempre fora um soldado sem rosto na memória de Cordélia, e por tanto tempo quanto pudesse se lembrar, ela não recordava nada sobre este homem apesar de ouvir seu nome ao lado do do Rei Atticus inúmeras vezes.

Contudo, ela estranhamente se viu atraída por ele nos últimos tempos. Cordélia percebeu com crescente certeza que Sir Jonah era um homem terrivelmente tradicional. Ele era um livro de texto ambulante, se Cordélia já tinha visto um, o exato oposto do que eram os homens em Nedour. No entanto, era exatamente isso o que o tornava tão atraente aos olhos dela.

Fora talvez sua inocência que chamou a atenção de Cordélia, mas seja lá o que fosse, ela o encontrava mais e mais intrigante quanto mais o observava. Ele era uma lufada de ar refrescante.

“Para onde estamos indo hoje, Sir Jonah?” Cordélia perguntou enquanto cruzava uma perna sobre a outra, chutando levemente para que a ponta de seu salto roçasse suas calças.

Jonah tremeu um pouco quando sentiu o tecido de suas calças se mover.

“A cidade vizinha à capital está tendo um festival em comemoração ao retorno do rei,” disse Jonah, limpando a garganta. Eles terão festividades por todo o mês, e os comerciantes organizaram uma série de atividades, bens e alimentos para os visitantes experimentarem. Talvez você goste de um evento assim.”

“Foi ideia do Rei Atticus, Sir Jonah?” Cordélia perguntou curiosa. “Eu poderia até pensar que ele está encontrando uma desculpa para me mandar embora se esse for o caso.”

“Não, Vossa Alteza,” respondeu Jonah. “Foi minha. Pensei que poderia lhe interessar mais do que a capital, já que não está acontecendo nada de mais por essas bandas. Tem havido alguma… inquietação devido à sua chegada também. O Rei Atticus e eu pensamos que seria mais seguro para você explorar um local onde sua identidade como princesa de Nedour não seria de conhecimento generalizado.”

Cordélia se endireitou um pouco.

“Ah,” ela disse.

Então, era por isso que ele tinha pedido para ela mudar. Podia ser pelo frio, mas era também para protegê-la de possíveis danos. Sua escolha de roupa estava longe do que os Vramidianos comuns usariam, nobreza ou não, e ela sem dúvida se destacaria em uma multidão de pessoas. Qualquer um poderia dizer que ela era uma estrangeira.

Sua língua deslizou para fora rapidamente, umedecendo seus lábios antes de ela falar novamente.

“A viagem vai demorar muito?”

“Normalmente,” disse Jonah. “Mas o Rei Atticus encantou a carruagem. Não levará mais do que duas horas para chegar a Frostholm.”

Agora que ele mencionava, Cordélia percebeu que a paisagem fora de sua janela parecia passar voando a velocidades insanamente altas. Ela não sentia a diferença dentro do veículo, mas olhando para fora, era muito mais óbvio que estavam viajando mais rápido do que uma carruagem comum.

Uma amargura dolorosa surgiu em seu coração, embora ela rapidamente a reprimisse. Que maravilha deve ser poder usar magia assim. Isso economizaria tanto tempo.

O resto da viagem na carruagem transcorreu sem muito tagarelar. Os olhos de Cordélia estavam completamente fixados na paisagem externa, assistindo em admiração enquanto construções e florestas passavam rapidamente por eles. Como prometido, levou apenas cerca de duas horas para chegarem à cidade.

Entretanto, ao contrário do que Jonah havia descrito no início da viagem, Frostholm parecia estar transbordando de vida. Cordélia esperava uma cidade pequena e tranquila, no entanto, parecia que todos haviam se reunido aqui justamente para as celebrações.

De fato estava muito mais frio aqui do que na capital, por algum motivo. O sol ainda estava alto no céu, e como a carruagem tinha diminuído a velocidade por razões de segurança, ela abaixou a janela para deixar entrar um pouco de ar fresco.

Surpreendentemente, a rajada de vento que entrou era fria, beliscando seu nariz. Cordélia estremeceu imediatamente antes de voltar a subir as janelas.

A carruagem rolou até parar em um canto seguro bem do lado de fora de uma rua comercial, e Jonah saiu primeiro. Ele se posicionou junto aos degraus, estendendo a mão para Cordélia pegar, o que ela fez com gratidão. Quando as mãos deles se tocaram, os dedos de Cordélia sentiram como se estivessem sendo segurados sobre o fogo. Ela rapidamente retraiu a mão assim que estava segura no chão, olhando para as pontas de seus dedos.

“O que foi essa sensação?” ela se perguntou. No entanto, seus pensamentos foram rapidamente interrompidos quando uma sensação de calor rapidamente a envolveu nos ombros.

Cordélia olhou para cima surpresa, bem a tempo de ver a capa verde agora descansando sobre seus ombros, quando antes estava em Jonah. Ele deu um passo para trás, criando uma distância educada entre eles depois de ajudá-la a vestir seu casaco.

O tecido ainda tinha um leve cheiro dele. Por algum motivo estranho, Cordélia sentiu seu rosto esquentando.

“Há algo errado, Vossa Alteza?” perguntou Jonah, inclinando a cabeça para um lado. “Seu rosto está muito vermelho.”