494: Uma Ideia Maluca I 494: Uma Ideia Maluca I “Nisso, estamos de acordo,” Atticus respondeu. Ele deu de ombros casualmente. “Raio de sol, eu acho que o kelpie simplesmente teria que viver o resto de seus dias com um olho só. Eu fiz o meu melhor. Se ele tem alguma queixa sobre sua qualidade de vida, peça a ele para levar suas preocupações à Princesa Cordélia.”

Os olhos de Daphne se contraíram. Ela teve que cantar as palavras da Rainha Lavinia em seu coração para constantemente lembrar-se de se manter calma na frente dos outros. Porém, a portas fechadas, mais tarde ela mostraria a Atticus o que pensava.

“Não há mesmo nada que possa convencer seu pai?” Daphne implorou. Suas palmas começaram a ficar úmidas e ela estava preocupada que isso pudesse ser uma segunda rodada de seu vestido queimado – dessa vez, ela poderia simplesmente inundar o lugar, pelo jeito que as coisas estavam.

Cordélia só pôde oferecer um sorriso de pesar. “As pérolas são simplesmente muito preciosas para Nedour, Daphne, especialmente agora que a magia foi apagada do mundo dos humanos.” Em sua última frase, como se para enfatizar seu ponto de vista, ela lançou um olhar de desdém a Atticus, que apenas revirou os olhos infantilmente. “Além disso, mesmo que eu concordasse, meu pai preferiria incendiar Nedour a lhe dar algo tão valioso sem nada em troca.”

“Seu pai…” Daphne deixou a frase no ar.

De repente, uma ideia ousada e selvagem preencheu sua mente. Ela tinha certeza de que, se ousasse sugerir tal coisa absurda, Atticus poderia realmente arrancar sua língua por isso. Pessoalmente, ela também detestava essa ideia, e Cordélia teria que sacrificar muito por isso. No entanto, ela tinha certeza de que era algo com o qual eles poderiam pelo menos trabalhar.

Daphne mordeu o lábio. “Seu pai estaria disposto a oferecê-la como um presente de casamento, talvez?”

“Um presente de casamento?” Atticus ecoou. “Para quem? Nós já somos casados e, mesmo que não fôssemos, o Rei Marinus definitivamente não gosta de nós o suficiente para oferecer um presente tão precioso para nós.”

Cordélia ficou em silêncio de repente, e era aparente para Daphne por quê. Atticus, por outro lado, parecia completamente alheio. Talvez ele tivesse esquecido completamente sobre tal proposta ridícula logo depois de jogá-la no fogo de um lixo onde ela pertencia.

“Foi minha tia?” Cordélia perguntou solenemente, ao que Daphne só pôde assentir em resposta. “Ela deveria saber melhor do que te contar. Você não tinha que saber.”

“Eu acho que tenho todo o direito de saber,” Daphne disse. “Como você poderia ter me escondido isso, Cordélia? Estamos falando do seu futuro! Esse plano teria arruinado sua posição social, especialmente como candidata a se tornar a próxima governante de Nedour.”

“Oh,” Atticus disse, finalmente percebendo, “aquela ideia estúpida do velho estúpido.” O olhar em seus olhos escureceu, toda a brincadeira desaparecendo imediatamente. “Você estava certa, Princesa Cordélia. Sua tia deveria saber melhor do que enfiar o nariz onde não é chamada.”

“De qualquer forma, você não tem nada com que se preocupar, Daphne,” Cordélia assegurou. “Nem eu nem Rei Atticus temos planos de concordar com a insana proposta de meu pai.”

“Eu não acredito que você sugeriu seguir em frente com isso, raio de sol,” Atticus disse com uma carranca. “Usar a pérola como um presente de casamento? Sério? Você está disposta a dar seu marido para outra mulher por este cavalo?”

“Depois que meu marido decidiu arrancar seu olho injustamente, sim,” Daphne disse, cerrando os dentes com força para não estourar nele na hora. “E Cordélia, não era seu plano inteiro se casar com Atticus desde o início? Foi por isso que não nos demos bem logo de cara.”

Cordélia apertou os lábios. Seu primeiro encontro com Daphne parecia uma vida inteira atrás. Naquela época, elas haviam começado com o pé esquerdo unicamente por causa do casamento súbito de Daphne com Atticus, que era o único prospecto de casamento que Cordélia tinha.

Agora que ela era amiga de Daphne, até o pensamento de estar no mesmo quarto que Rei Atticus a fazia se sentir mal. Enquanto Rei Atticus era de fato um homem poderoso, Cordélia não fazia ideia de como Daphne poderia suportá-lo. Ele tinha mais ou menos o mesmo tato que uma criança de cinco anos e tudo o que sabia fazer era destruir.

Cordélia estava certa sobre o fato de ele ser um homem inteligente. No entanto, essa inteligência só existia no campo de batalha. Em todos os outros lugares, ele parecia completamente desesperançoso.

“Isso foi antes de você se casar com ele,” Cordélia respondeu com um suspiro. “As coisas obviamente mudaram. Eu não tenho desejo de me casar com Rei Atticus agora, e tenho certeza de que ele está mais do que feliz apenas com você como sua esposa. Me desculpe, Daphne, mas você terá que sofrer como sua esposa pelo bem de todas as mulheres e aceitar isso. Eu não vou assumir sua responsabilidade.”

“Você faz parecer que eu sou completamente indesejado,” Atticus zombou, veneno revestindo suas palavras.

“Se o sapato serve, Vossa Majestade,” foi tudo o que Cordélia disse em resposta.

Enquanto ela não sabia porquê, o peito de Daphne se sentiu um pouco mais leve sabendo dos verdadeiros pensamentos de Cordélia e Atticus sobre a questão. Uma coisa era ouvir a Rainha Lavinia assegurá-la de que tudo ficaria bem, mas era outra coisa ouvir uma explicação adequada das próprias pessoas envolvidas. Ela nunca duvidou de Cordélia nem de Atticus, mas ainda assim era estranhamente reconfortante.

“Você pode fingir o casamento,” Daphne sugeriu. “Cancelar no último minuto―”
Eventualmente ela se interrompeu, balançando a cabeça. Isso foi totalmente egoísta da parte dela! Se a nobreza soubesse que Cordélia uma vez esteve noiva e depois se separou, isso poderia afetar suas futuras perspectivas de casamento também.

“Esqueça,” ela disse rapidamente, empurrando a ideia para o fundo de sua mente. “Finja que eu não disse nada―”
“Essa é uma ideia maravilhosa!” Cordélia de repente saltou e disse. Luz encheu seus olhos, e por um momento, Daphne se perguntou quem era essa mulher enlouquecida, hiperativa, excessivamente entusiasmada, porque com certeza não era a Princesa Cordélia que ela conhecia. “Talvez depois disso eu finalmente consiga tirar meu pai das minhas costas com relação a esses arranjos de casamento inúteis e ridículos!”