Roubada pelo Rei Rebelde - Capítulo 426

426: Receita Antiga 426: Receita Antiga A barriga de Daphne roncou de fome, o som estranhamente mais alto do que qualquer outra vez que havia reclamado. Ela levou a mão ao ventre, bufando de desconforto enquanto a sensação rasgava seu estômago. Por toda a sua vida, ela nunca se sentiu tão faminta antes.

No início, ela havia esperado por Ático, perguntando-se quando ele poderia voltar com a comida prometida. Embora ela estivesse fazendo um pequeno escândalo quando ele partiu, ela não achava que ele teria levado isso para o lado pessoal.

Entretanto, já faziam horas desde que ele havia partido com aquela promessa. Jean Nott e Zephyr tinham vindo e ido embora e agora, ela estava sozinha no quarto, com frio e fome.

Jogando os cobertores para fora de si, Daphne calçou seus chinelos e saiu do quarto. Ela estava cansada de esperar por um homem inútil que só tinha promessas vazias. Se precisava de comida, ela iria conseguir por si mesma, não ficar sentada esperando o dia todo por alguém que talvez nem voltasse.

O palácio real de Xahan foi a quarta residência real que ela visitou desde que conheceu Ático. No entanto, aqui, ela não estava familiarizada com a disposição dos cômodos como estava com o palácio real de Reaweth, ou mesmo com o de Vramid após um tempo. Daphne teve que se esforçar e perguntar aos criados que passavam onde ficavam a sala de jantar e as cozinhas, antes de finalmente chegar lá.

Por todo o caminho, alguns se ofereceram para trazer-lhe comida, mas havia uma inquietação que borbulhava em seu peito. Embora ela acreditasse que Cordélia não lhe desejava nenhum mal, ela não podia confiar totalmente no Rei Calarian e na Rainha Lavinia. Esses dois foram muito gentis com ela as poucas vezes que tiveram contato, mas Daphne já havia aprendido há muito tempo que os comportamentos podiam ser falsos. 
O que é mais, Jean Nott conseguiu infiltrar-se no palácio e sair sem levantar quaisquer suspeitas. Enquanto o Rei Calarian e a Rainha Lavinia pareciam bastante extasiados com sua gravidez, Daphne não achava que fosse o mesmo com Jean Nott. Ela não se atrevia a arriscar a chance ― ele poderia facilmente ter subornado os funcionários do palácio ou substituí-los por seus próprios homens, envenenando-a na primeira oportunidade.

Chame-a de paranoica, mas ela preferia jogar pelo seguro. Iria buscar sua comida ela mesma.

Já era bem entrada a noite quando ela chegou, mas ainda assim, havia um aroma maravilhoso de comida no ar. Havia um cheiro de batata e o aroma adocicado e saboroso de tomates, misturado com algumas ervas. Eram cheiros que Daphne tinha certeza que não pertenciam a uma cozinha xahaniana. 
A cozinha estava muito mais quente do que em qualquer outro lugar no palácio e ainda havia funcionários e criados movimentando-se, lavando pratos e organizando os ingredientes necessários para o café da manhã do dia seguinte.

Ao ver Daphne, todos eles pararam para cumprimentá-la, com uma empregada se aproximando apressadamente.

“Rainha Daphne!” ela cumprimentou, sorrindo radiante. “Sua Majestade Rei Ático pediu que o jantar fosse preparado para a senhora. Eu estava prestes a levá-lo até você.”

Daphne ergueu uma sobrancelha surpresa. “Ático fez isso?”

Ela pensou que seu marido havia se esquecido completamente dela. Afinal, ela nem sequer havia cruzado com a sombra dele enquanto andava pelos corredores. Ele estava ausente, provavelmente fora com o Rei Calarian fazendo sei lá o quê. 
“Sim,” disse a empregada com um aceno de cabeça. “Sua Majestade mencionou que Vossa Alteza estava se sentindo desconfortável, então preparamos um nhoque de acordo com a receita que ele nos deixou. Ele pensou que você poderia estar desacostumada com a comida em Xahan e poderia querer algo que tivesse um gosto mais parecido com o de casa.”

Daphne olhou para a comida que a empregada segurava à sua frente. Ainda havia fumaça saindo do prato, um sinal claro de que foi recém-preparado. Ela deu uma cheirada ― tinha exatamente o cheiro de como ela faria.

Memórias invadiram sua cabeça da noite em que cozinhou jantar para ela e Ático. Eles também estavam brigando naquela época, por uma razão que Daphne nem sequer conseguia mais se lembrar claramente. 
A única coisa que ela se lembrava era que Ático fez uma bagunça completa na cozinha tentando cozinhar sem seu anel. Ele era terrível nisso e no final, Daphne teve que cozinhar enquanto Ático limpava sua bagunça.

“Vossa Alteza…? Há algo errado com a comida? Podemos refazê-la se não estiver ao gosto certo!”

A voz frenética da empregada tirou Daphne de seu devaneio. Ela sentiu algo frio contra sua bochecha enquanto levantava a mão para tocar, apenas percebendo então que ela havia chorado, só de pensar no passado. Aqueles eram tempos muito mais simples, com problemas muito mais simples.

Se ao menos pudesse voltar àquela época.

“Não é nada,” ela murmurou. Cuidadosamente, ela examinou o prato. Parecia exatamente como a receita que usava quando cozinhava para Ático. Certamente isso seria seguro de consumir?

“Como de costume, preparamos um degustador para a senhora, para que possa jantar tranquilamente,” disse a empregada. “Por aqui, por favor, Rainha Daphne.”

Ela conduziu Daphne até a sala de jantar antes de colocar o prato na mesa à frente de onde Daphne estava sentada. Uma vez que os guardanapos foram postos, a empregada exibiu duas colheres de prata ― materiais eficazes para testar venenos.

Com cuidado, ela pegou um pedaço com a colher reserva e colocou no prato de degustação. Uma vez separado, ela se certificou de que Daphne estava olhando antes de comer, mastigando a comida cuidadosamente antes de engolir. Após alguns momentos, ela deu um pequeno passo para trás.

“O prato está seguro,” disse a empregada. “Por favor, desfrute do seu jantar, Vossa Alteza, e nos avise se há mais alguma coisa em que podemos ajudar.”

Depois de dito e feito, a empregada se retirou rapidamente da sala de jantar.

Daphne não esperava que a empregada aliviasse suas preocupações tão rapidamente e facilmente. Ela não tinha visto nenhum deles fazendo tais coisas quando jantou pela primeira vez com Cordélia e a Rainha Lavinia, então talvez isso fosse um conjunto especial de instruções dadas pelos anfitriões ou pelo próprio Ático. Seja lá o que fosse, definitivamente não era tradição.

Além de seu marido, Daphne não conseguia pensar em mais ninguém que pudesse ter dado aos chefs do palácio real de Xahan sua receita de nhoque. Mesmo então, Ático só tinha assistido ela prepará-lo uma vez. Ele teria anotado a receita apenas vendo ela fazer uma única vez?

Daphne pegou a colher, recolhendo uma pequena porção antes de soprar gentilmente para esfriá-la. Quando a comida tocou sua língua, ela suspirou satisfeita.

Isso era. Este era o sabor. Além de Ático, não poderia ter sido mais ninguém quem sabia como ela fazia exatamente esse prato.

O coração de Daphne se aqueceu a cada boca que ela comia da comida, seu apetite só aumentando a cada colherada que tomava. Era bom saber que seu marido não se esquecera dela, afinal de contas.