Ponto de Vista de Um Extra - Capítulo 995
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Capítulo 995: A Última Fronteira [Pt 7]
“…”
O ser em forma de gato, feito de sombra e contradição, esperava em silêncio enquanto Rey flutuava no mar de escuridão informe.
Sem vento. Sem movimento. Nada além do brilho do corpo radiante de Rey e a silhueta mais preta do que o preto da entidade diante dele. Seu sorriso persistia—algo primal, algo perturbador, como uma expressão esculpida no rosto de um sonho que nunca deveria ter sido lembrado.
Rey olhou fixamente para o ser, o eco de sua pergunta ainda ressoando em sua mente.
“Por que eu deveria te ajudar?”
O silêncio se estendeu por mais um momento—até que Rey falou.
“Você precisa de mim.”
O sorriso do gato não desapareceu, mas sua cabeça se inclinou em curiosidade. Ele nem confirmou, nem negou. Apenas observou.
Rey inalou lentamente. Não havia ar ali, mas o movimento o deixou mais firme.
“Ater deve ter me enviado aqui por um motivo,” ele continuou. “Ele sabia que eu chegaria a este lugar. Ele sabia que eu encontraria você. Talvez… talvez isso tenha sido parte do plano dele o tempo todo.”
O ser felino não disse nada, mas suas caudas se agitaram uma vez—uma ondulação em um mar imóvel.
Rey prosseguiu. “Eu não sei de tudo, mas sei o suficiente. Você quer voltar—para o mundo dos Anciões. Para a terra que fica acima das estrelas da existência. Mas você não pode. Não sem ajuda. Não sem um caminho.”
A silhueta felina estreitou ligeiramente os olhos, o sorriso se alargando um pouco.
“Eu posso ser esse caminho,” Rey disse com firmeza. “Se você me ajudar a voltar—se você me ajudar a salvar meu mundo—eu criarei um caminho para você ascender. Você não precisa me possuir ou me transformar em um receptáculo. Apenas me guie. Deixe-me fazer o que precisa ser feito, e eu farei com que você chegue ao reino acima.”
Um longo silêncio.
Então—
“Correto,” disse o ser.
Sua voz ecoou com tons sobrepostos—masculino, feminino, mecânico, bestial—se sobrepondo em harmonia estranha. “Essa era a tarefa do meu fragmento. Ater deveria ser o responsável por guiar um recipiente digno para se tornar… eu. Ou algo próximo. Mas ele mudou o plano. Alterou o curso.”
O sorriso da criatura não vacilou.
“E agora eu entendo o porquê.”
Rey estreitou os olhos. “Então você vai me ajudar?”
“Eu vou,” disse lentamente o ser felino, “mas não de graça. Pois isso não é uma coisa pequena que você pede. Salvar um mundo que está caindo—não, sendo apagado—debaixo do tecido do Sistema não é simples. Não é nem possível por meios ordinários.”
“Eu não sou ordinário,” Rey disse, com voz firme.
O gato riu, um som como espelhos quebrando e risadas ecoando em cavernas profundas. “Não. Você não é.”
Suas caudas se contorciam e torciam atrás dele, como se reagissem a pensamentos ao invés de física.
“Existem duas maneiras de salvar H’Trae,” disse o gato. “A primeira—e mais simples—é copiá-la. Você criaria uma nova Estrela da Existência, uma duplicata exata de H’Trae. Todas as suas pessoas. Todas as suas terras. Seus céus. Suas histórias. Mas… o original desapareceria. Essa versão de H’Trae seria deletada, e sua réplica sobreviveria em seu lugar—fora das correntes do Sistema.”
Rey sentiu seu pulso pular. Ele entendia exatamente o que isso significava.
“… Isso foi o que eu fiz com Lucielle,” ele murmurou. “Quando eu a trouxe de volta… eu não a curei. Eu a reescrevi. Criei uma versão perfeita a partir da memória, usando minhas Habilidades Primordiais.”
“Sim,” disse o gato, aprovando. “Você a desancorou da versão falha da sua realidade e a amarrou àquela sobre a qual você tinha autoridade. Isso foi o que a salvou. Isso é o que você pode fazer novamente. Mas…”
O olhar de Rey escureceu. “Eu não vou conseguir salvar Ater.”
Ater não fazia parte do H’Trae original e, ao contrário de seus colegas—os Mundanos—ele não tinha um elo com H’Trae. Na verdade, ele era mais parecido com um vírus—um glitch no Sistema que precisava ser erradicado.
O poder de Rey só afetava H’Trae e aqueles ligados ao mundo que ele agora controlava.
Como resultado, o novo H’Trae não teria a presença de Ater.
Não o reconheceria.
O gato inclinou levemente a cabeça. “Não. Ater não faz parte do que você consideraria uma existência convencional. Ele é um fragmento. Você não pode duplicar o que nunca esteve completamente lá para começar. Seu papel está concluído.”
“Isso não é bom o suficiente.” As mãos de Rey se fecharam em punhos.
O gato levantou uma sobrancelha—se é que tinha alguma—e não disse nada.
“Não estou sacrificando ninguém,” Rey disse, seus olhos queimando com determinação. “Se Ater escolheu esse caminho, tudo bem. Mas encontrarei uma maneira de salvá-lo também.”
“…Interessante,” o gato murmurou. “Você realmente é uma anomalia. Você se recusa a seguir o caminho fácil. Mesmo agora, na beira da realidade, quando a maioria abandonaria a moralidade pela eficiência.”
Ele flutuou mais perto, pontas da cauda se enrolando de curiosidade.
“Agora entendo. É por isso que Ater alterou o plano. Ele sabia… ele sabia que você rejeitaria a lógica do sacrifício.”
Rey assentiu. “Então… qual é outro caminho?”
O sorriso do gato se alargou de maneira antinatural.
“O segundo caminho é mais perigoso. Mais arriscado. Mas… pode salvar a todos. Até mesmo Ater.”
“Diga-me.” Rey permaneceu firme.
“Você não deve duplicar H’Trae,” o gato começou. “Você deve libertá-lo. Ceifá-lo do Sistema, não pela replicação—mas movendo-o. Você criará uma nova camada de realidade—um novo substrato abaixo das estrelas ou acima das estrelas—eu recomendaria a primeira opção, já que não está diretamente no caminho dos Anciões, mas preciso que você abra um caminho para mim, então será acima. Este novo reino será paralelo à existência, esculpido pela sua vontade, onde H’Trae pode existir livre dos fios do Sistema.”
O coração de Rey disparou.
“E eu posso fazer isso?”
“Com a autoridade que você possui agora… sim,” o gato disse. “Você é [Ele Que Permanece], uma existência de nível Primevo. Você tem domínio completo sobre todas as seis Habilidades Primordiais. Você tem domínio sobre conceito, tempo, identidade, causalidade e mais relacionado ao seu mundo. O que te falta… é orientação. Que eu posso fornecer.”
Rey assentiu lentamente, absorvendo a enormidade do que estava sendo solicitado a fazer.
“E o que acontece se eu falhar?”
O gato riu. “Então você será aniquilado pelos Supervisores. Aqueles acima das estrelas—aqueles que guardam o equilíbrio. Sua tentativa será notada por eles e será instantaneamente vista como uma violação de propósito… uma mutação cancerosa ousando existir fora do Sistema. E você será apagado antes que sua nova camada possa criar raízes.”
“…Quanto tempo temos?” Rey respirou fundo.
“Uma vez que começarmos? Não muito,” o gato disse, voz grave. “Eles sentirão. Eles verão. E eles virão.”
Um lampejo de dúvida ameaçou surgir no peito de Rey—mas ele o sufocou.
“Estou pronto.”
O gato sorriu mais uma vez, de alguma forma tanto empolgado quanto solene.
“Bom. Então começaremos. Você deve focar sua mente em H’Trae—não apenas na sua forma, mas no seu significado. Seu povo. Seu ritmo. Você o agarrará, segurará em suas mãos e o levantará.”
Rey assentiu.
“E quando começar… não hesite. Nem por um segundo.”
“Não hesitarei,” Rey disse.
O gato se virou, e pela primeira vez, sua cauda apontou para algo no vazio—um leve lampejo distante. Uma nova luz, enterrada na escuridão.
“Aquilo,” o gato sussurrou, “será sua tela.”
E assim, com determinação ardendo em seu peito e os olhos do vazio observando em silêncio, Rey se preparou para fazer o que ninguém havia feito antes:
Roubar um mundo das mãos do destino…
… E trazê-lo de volta para casa.