O Retorno do Mago Negro - Capítulo 1571

Capítulo 1571: Nunca Mais o Mesmo (Parte 2)

Raze havia dito a Londo para retornar ao Submundo primeiro.

Embora ninguém pudesse ter ouvido sua conversa, graças ao feitiço de silêncio, Raze sabia que alguém poderia tê-los visto juntos. E isso por si só poderia gerar desconfiança.

Londo era um membro de alta patente da Guilda Negra, então a maioria não o questionaria abertamente, mas se Harvey, ou qualquer um leal a ele, começasse a suspeitar de algo, sempre haveria a chance de interrogá-lo.

Raze duvidava que Harvey fosse tão longe… mas ainda assim, quanto mais tempo fossem vistos juntos, mais perigoso se tornava. Ele sabia por experiência própria quão cansativas as pessoas podiam se tornar.

Então agora Raze estava sentado sozinho no restaurante quieto, perdido em pensamentos.

Se fosse eu no passado, ele refletiu, em um determinado momento, eu poderia ter feito a mesma coisa.

Ele podia imaginar claramente, a versão mais jovem de si mesmo, cheio de raiva e certeza, convencido de que qualquer um que estivesse em seu caminho era um obstáculo a ser removido.

Se as pessoas tentassem me dar lições, ele pensava, eu as veria como barreiras, não como aliados.

Ele lembrava de como já havia apoiado Harvey sem questionar, até aprovando a criação da Guilda Negra. Naquela época, Kelly já havia lhe dito do que Harvey era capaz, quão implacáveis eram seus métodos.

E, no entanto, Raze havia fechado os olhos.

Ele dizia a si mesmo que era necessário, que Harvey faria o que precisasse ser feito de qualquer maneira. Que não era responsabilidade dele.

Era uma mentira que ele havia escolhido acreditar.

Agora, sentado no restaurante vazio, Raze se perguntava se as coisas poderiam ter sido diferentes, se ele tivesse confrontado Harvey mais cedo, quando as ações do homem começaram a sair do controle.

Teria isso impedido o que aconteceu com Mordain e seus homens?

Ele nunca saberia.

Mas a situação agora… Raze pensava, com a mão descansando sobre a mesa. Isso é algo que eu ainda posso mudar.

Alen e sua equipe estavam arriscando suas vidas por ele. Eles acreditavam na causa dele. Mereciam saber a verdade sobre o que havia acontecido.

No entanto, contar-lhes destruiria tudo o que haviam construído.

Se Alen descobrir, Raze pensou sombriamente, ele nunca mais trabalhará com a Guilda Negra novamente. Ele pode até tentar destruí-la.

E se isso acontecesse, a aliança colapsaria por dentro.

Mesmo se eu convencer Alen a esperar, a deixar que eu lida com Harvey depois que tudo isso terminar, Harvey poderia decidir que a equipe de Alen é uma ameaça. Ele poderia atacar primeiro.

Quanto mais Raze pensava sobre isso, mais uma verdade se tornava clara: revelar o que ele sabia só levaria a mais mortes.

O Grande Mago ainda estava lá fora, sua influência ainda intacta. Eles estavam perto, tão perto, de pegá-los e virar o mundo contra eles.

Ele não podia arriscar perder o impulso agora.

Eu não posso contar a Alen, Raze decidiu. Ainda não.

Foi uma escolha egoísta, mas também a única que fazia sentido.

Para evitar mais perdas.

Para impedir que a aliança se fraturasse.

Para terminar a guerra contra o Grande Mago de uma vez por todas.

Por enquanto, a melhor coisa que ele podia fazer era manter Alen e seus soldados separados da Guilda Negra. E se preparar para o que poderia acontecer quando a verdade inevitavelmente viesse à tona.

Esse era o fardo que Londo havia passado para ele, o peso do conhecimento que poderia destruir tudo.

Raze entendia por que Londo hesitara em contar-lhe. Na verdade, manter o segredo poderia ter sido a escolha mais sábia. Mas ele também entendia por que Londo não poderia permanecer em silêncio para sempre.

Havia coisas importantes demais para se manter enterrado.

Depois de sair do restaurante, Raze voltou para o Submundo.

Quando ele chegou, a cidade subterrânea estava quieta, o leve brilho das lâmpadas de mana iluminando os túneis. Ele voltou imediatamente ao trabalho, cuidando dos pacientes que Beatrix e o grupo de Alen haviam resgatado da instalação do Cérbero.

Eles eram diferentes dos outros que ele havia tratado antes. Os sintomas, os padrões do fluxo de mana, até mesmo o estado de seus núcleos, não coincidiam com os das vítimas anteriores.

Em cada um deles, o vício nas substâncias injetadas havia se manifestado de forma diferente. A contaminação não era uniforme; era como se os experimentos tivessem sido ajustados de sujeito para sujeito, testando diferentes resultados.

Raze examinou cuidadosamente o núcleo mágico de um homem, depois o de outro. As distorções não eram aleatórias. Elas eram deliberadas.

Eles estão experimentando com variáveis, ele percebeu. Testando como cada corpo reage ao processo de aprimoramento… ou talvez tentando identificar uma mutação estável.

O pensamento fez seu estômago se apertar.

Mesmo depois de purificar seu mana e limpar as toxinas residuais, os pacientes pouco podiam lhe contar além do que ele já sabia. A maioria havia estado inconsciente durante o pior momento.

A Guilda Cérbero… eles estão usando métodos especiais para amplificar sua magia de luz, pensou Raze, sua mente girando. Mas ainda não sabemos qual é o verdadeiro objetivo de Gizin em Alterian. E isso, ele apertou a mão, é o que mais me preocupa.

Apesar de todo o progresso, Gizin continuava um mistério. Sua presença em Alterian sentia-se intencional, como parte de um plano maior.

Ainda assim, Raze não podia se deter nisso agora.

Quando terminou de cuidar do último dos pacientes, a notícia já havia se espalhado entre os membros: tudo estava preparado.

As imagens haviam sido revisadas, os arquivos copiados, e os cristais de comunicação calibrados.

Em apenas duas horas, o mundo inteiro saberia o que a Guilda Cérbero e Gizin haviam feito, cada experimento, cada atrocidade oculta, cada mentira que haviam enterrado sob a bandeira brilhante da “luz”.

Para melhor ou para pior, a verdade estava prestes a vir à tona.

E quando isso acontecesse, Alterian nunca mais seria a mesma.

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