O Retorno do Mago Negro - Capítulo 1403

Capítulo 1403: Uma Lição Antes que Seja Tarde Demais

Raze já tinha se acostumado com as perguntas de Piba. Ele era alguém que não hesitava em falar o que pensava, não importando o quanto isso fosse constrangedor ou confrontador. Se algo o estava incomodando, ele falava, independentemente de ofender alguém ou não.

Se Piba realmente não se importava com os sentimentos dos outros ou simplesmente não percebia barreiras sociais como a maioria das pessoas, ninguém poderia dizer com certeza. Mas dessa vez, enquanto sua pergunta pairava no ar, Raze percebeu algo diferente.

Havia hesitação. Preocupação.

“Eu sei que você já fez um grande favor para nós,” Piba começou, levantando uma mão e atraindo Mana pura até que brilhasse acima de sua palma. “Você restaurou nossos círculos de Mana, nos colocou de volta como éramos.”

Ele olhava para a energia com admiração, ainda não acreditando totalmente em como ela vinha a ele sem esforço. Apenas minutos atrás, realizar este simples ato teria enviado ondas de dor insuportável pelo seu corpo. Mas agora? Ele se sentia vivo novamente. Completo.

Isso por si só já era mais do que suficiente. Raze já tinha ido muito além do que qualquer um poderia ter esperado, o que era exatamente o porquê de Piba se sentir desconfortável ao levantar a próxima questão que estava em sua mente.

Ainda assim, ele não conseguia ficar calado.

“Eu sei que você disse mais cedo que não participaria dos eventos,” Piba continuou, seu tom quase relutante. “Você não queria tirar nossos lugares, ou as chances que nos pertencem. Mas… Eu quero que você reconsidere.”

Ele fez uma pausa, respirou fundo e então deixou seu pedido claro.

“Eu quero que você participe. Não apenas esteja lá e perca educadamente, mas que vá com tudo. Eu quero que você mostre à Academia Central que há alguém maior do que eles, alguém acima de tudo o que eles acham que representam.”

A sala ficou em silêncio por um momento.

A princípio, os outros estudantes e até os professores pareciam surpresos pelo pedido ousado. Mas conforme o silêncio se alongou, cabeças começaram a acenar lentamente em compreensão. Especialmente Moze.

“Acho que posso explicar melhor do que Piba pode,” Moze disse, avançando. “A pergunta provavelmente soa estranha. Talvez até egoísta. Mas depois desse breve encontro que tivemos com os alunos da Academia Central… vimos o suficiente.”

Ele engoliu em seco, relembrando o momento.

“Piba e eu percebemos algo, nenhum de nós pode vencê-los. Sua força… está muito além da nossa. Mas não é só sobre poder. É sobre como eles se comportam por causa disso.”

A voz de Moze se apertou com frustração.

“Eles fizeram o que fizeram por causa de sua força. Por causa de sua posição. Sabiam que mesmo se agissem assim, nada aconteceria. Mesmo se eles fossem longe demais, não seriam punidos. Ainda seriam tratados como heróis. Campeões.”

Ele olhou diretamente para Raze agora, sua voz aumentando com convicção.

“Se nós entrarmos no evento e eles nos vencerem, isso só reforçará suas crenças. Provará para eles que são intocáveis, que sua crueldade é justificada. Não podemos deixar isso acontecer.”

A mentalidade arrogante dos alunos da Academia Central lembrava a Raze demais do mundo que ele havia deixado para trás. Do Grande Mago. Das guildas de elite que olhavam para todos os outros de cima. Quando ele ainda estava na academia, as coisas não eram tão ruins.

Mas agora, a situação claramente piorou. Os valores tóxicos dos superiores estavam sendo passados para os alunos, aqueles que deveriam moldar o futuro.

Raze não precisava de mais explicações. Ele entendeu exatamente o que Moze e Piba estavam dizendo. Mais do que eles perceberam.

Enquanto esses estudantes continuassem vencendo, enquanto o mundo continuasse aplaudindo-os, eles se sentiriam como deuses. Como se estivessem além das consequências. Além da moralidade. E nesse mundo… se tornariam monstros que ninguém poderia parar.

“E quanto aos eventos em grupo?” Chiba perguntou, olhando entre os dois meninos. “Você espera que Raze vá com tudo neles também?”

“Não temos escolha!” Moze disse, mais alto agora. “Você viu o estado em que estávamos após apenas uma confrontação. Para eles, isso não é uma competição. Na mente deles, já venceram.”

Ele apertou os punhos.

“E se conseguirmos vencê-los, mesmo que apenas uma vez, eles farão tudo ao seu alcance para nos derrubar antes que tenhamos a chance de superar eles. Isso é o que pessoas como eles fazem.”

Seus olhos voltaram a Raze, cheios de determinação.

“Eu sei que se vencermos, seremos alvo. Seremos pressionados ainda mais, punidos por ultrapassarmos limites. Mas estou disposto a correr esse risco. Apenas para retribuir o que fizeram.”

As pernas de Moze tremiam. Todos podiam ver, Chiba, os outros alunos, até os professores. O mesmo Moze que tinha visto através de um portal dimensional, sobrevivido a encontros quase fatais com feras, e enfrentado o falso Mago Negro… agora parecia estar à beira de um penhasco.

Ser diretamente confrontado pelos alunos da Academia Central abalou-o profundamente. Tanto que mesmo se tivesse que lutar contra eles novamente, provavelmente não conseguiria desempenhar mais do que metade de sua força real.

Esse era o tipo de medo que eles tinham deixado para trás.

“Eu não tenho problema com isso,” Panla falou, avançando. “A Academia Central fez isso intencionalmente. Eles escolheram quebrar nossos alunos antes das avaliações.”

Ela estreitou os olhos.

“Esse tipo de interferência afetará os resultados finais. Já afetou. Este evento sempre foi sobre mostrar ao mundo como a Academia Central se compara às outras.”

Ela se virou para o grupo.

“O diretor nos enviou aqui com um objetivo, mostrar algo melhor. Mas parece que a única maneira de eles deixarem isso acontecer é se lutarmos através de cada teste que eles jogarem em nós.”

“Concordo,” Chiba acrescentou, seu tom frio. “E honestamente… Quero ver a reação deles quando tudo for virado de cabeça para baixo.”

Um por um, todos começaram a assentir. Não havia mais hesitação. Os alunos transferidos estavam livres para dar tudo de si durante as próximas avaliações.

Mas ainda havia uma pessoa que não tinha falado.

Raze.

Beatrix se voltou para ele, sua expressão gentil mas firme.

“E você, Raze? Está tudo bem para você? Se seguir em frente com isso… Vai interferir com o que quer que você realmente está aqui para fazer?”

O quarto aguardava em silêncio tenso.

Então Raze sorriu.

“No momento em que ouvi sua história,” ele disse, “soube que deveria ensinar uma lição a essas crianças, antes que elas seguissem demais pelo caminho errado.”

Sua voz baixou, carregando o peso de algo mais profundo.

“Existem valores que valem a pena serem preservados. E há lições que devem ser passadas para a próxima geração. Alguém tem que fazê-lo.”

Ele fez uma pausa novamente. Quase parecia que um “mas” estava por vir.

Então,

“Quanto à sua pergunta… Não. Na verdade, isso vai me ajudar.”

Seus olhos se fixaram nos de Beatrix.

“Como um favor a todos vocês, por ajudarem a manter nossa verdadeira missão em segredo… Vou participar dos eventos. E não vou apenas participar. Vou garantir que ganhemos.”

Ele respirou fundo.

“Cada um deles.”

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