O Renascimento da Ômega - Capítulo 856
Capítulo 856: Chapter 857: Ele Sabia
Os braços de Alessio envolveram a cintura de Neveah, abraçando-a por trás. Ele a puxou contra o peito e roçou o nariz no pescoço dela.
Ela não protestou ou resistiu. Sentia-se exausta demais para tentar. Apenas permaneceu imóvel, com um olhar distante.
“Você sempre foi uma garota inteligente,” ele murmurou. “Acho que isso foi o que mais me frustrou. Que você não era bem como qualquer outra mulher…”
Ele ficou quieto por um momento breve, e então continuou em um tom mais suave. Na verdade, era quase um sussurro, como se tivesse guardado a verdade por muito tempo na garganta, difícil de deixá-la sair.
“Você era mais. Sempre foi mais.”
A ponta do nariz dele roçou o pescoço dela enquanto ele inalava profundamente, como se quisesse que o cheiro dela ficasse impresso na sua memória, gravado em sua própria pele.
Ela inclinou a cabeça para longe dele, seu estômago revirando em desagrado não dito.
“Acredito que é hora de colocarmos todas as cartas na mesa, Ômega,” ele refletiu calmamente.
“Não é um pouco tarde para isso?” Neveah respondeu em um tom neutro.
Ele não tinha sido honesto quando a honestidade era tudo o que ela pedira. Agora, ela simplesmente não se importava mais. Ele poderia construir uma fortaleza com suas mentiras e enganos se quisesse.
Ela não se importava mais em ser a que tentasse derrubá-la.
“Quanto você sabe?” ele perguntou.
“O suficiente.” A resposta de Neveah foi simples e direta.
“Então você sabe… que eu morrerei antes de deixá-la me deixar.” Ele murmurou isso como se estivesse simplesmente falando sobre o tempo, e não pronunciando uma ameaça.
Ela sabia mais. Ele não a deixaria ir, nem mesmo na morte.
Mas o pensamento não era mais aterrorizante. No momento, ela se sentia apenas entorpecida.
“Eu sei,” Neveah respondeu da mesma maneira.
Casual… despreocupada.
Alessio endureceu. Talvez ele esperasse uma resposta mais feroz. Ou esperava que ela atacasse agora que sabia que tudo o que ele disse eram mentiras para servir ao seu propósito.
E o fato de que ela não fez isso, por alguma razão, o magoou.
Bom. Era uma realidade a que ele também teria que se acostumar.
Quando ele finalmente falou novamente, sua voz estava calma. Quase suplicante.
“Fique comigo… e tudo o que você ama estará seguro.” Seu tom era quase inaudível. “Enquanto eu te tiver, não preciso de mais nada.”
Eles caíram em outro silêncio incerto. Desta vez, ele se alongou. O peso das palavras dele se instalou pesadamente no peito dela.
Seus olhos se fecharam.
Havia algo cruel na forma como ele disse isso. Ele estava tão calmo e tão certo. Como se o mundo se curvasse apenas porque ele desejava.
Como se ela já fizesse parte dele mesmo que ainda não percebesse isso, e não fosse sua própria pessoa.
Os dedos de Neveah tremeram ao seu lado, ela os cerrou em um punho apertado. Ninguém viria. Ela mesma tinha garantido isso.
Não havia janela para escalar, ou terraço para saltar. Não havia memórias para recorrer. Ela estava ali, presa entre o que conseguia se lembrar e o que não conseguia. Entre quem ela tinha sido, e o que quer que fosse isso agora…
O que quer que isso deveria ser.
Ela não queria ficar.
Por tudo que era racional, ela não queria ficar.
Mas havia algo que ela não podia arriscar perder.
Alessio sabia disso também. O homem na caverna sabia disso.
A carta definitiva sempre esteve em suas mãos, ele só a guardou para o melhor momento possível… e esse momento era agora.
Ela tinha se esforçado para buscar a verdade, apenas para descobrir que a verdade era que ela não podia deixar Alessio.
E ele sempre soube que acabaria chegando a isso.
Ele a conhecia bem demais, mesmo quando ela não se conhecia. Quando ela não sabia quem ela era.
Ele sabia qual escolha ela faria, quando chegasse à encruzilhada. Ele sabia que ela esperaria e esperaria ser egoísta, mas não conseguiria.
Ele a conhecia. Essa era a parte que fazia ela querer gritar até esgotar os pulmões.
Ele sempre a conheceu.
Ele sabia exatamente qual corda puxar, para jogá-la direto em suas mãos. E ainda assim, ele a segurava suavemente, como se acreditasse que podiam ser mais do que apenas um fantoche e um manipulador de fantoches.
Era risível. Era irritante.
Neveah ficou em silêncio por um longo tempo, mas finalmente disse, “Você não vai conseguir a versão de mim que você quer. Essa versão não existe.”
Ele não respondeu imediatamente. “Eu não estou tentando mudar você,” ele disse eventualmente. “Eu só… não estou te deixando ir.”
Neveah exalou lentamente. “Mesmo que isso signifique que você está segurando apenas uma casca?”
Ele a virou. Muito gentilmente, isso despertou fúria em suas veias. Suas mãos moveram-se para os quadris dela, mas ele não a puxou para mais perto. Apenas a encarou.
“Mesmo assim.”
Os olhos dela não se afastaram dos dele. “Acho que devo ter te odiado,” ela disse.
“Você odiou.”
Se fosse qualquer outra situação, ela poderia ter rido.
“Se você sabe disso tão bem, deveria me deixar ir.”
“Eu não posso.” Ele afirmou simplesmente.
O olhar dela mudou para encarar além dele, sem fixar-se em nada em particular. Apenas a quietude da floresta.
A pior parte não era que ela estava ficando. Era que uma parte dela estava começando a encontrar lógica na loucura.
Se ela ficasse, as coisas que ela não podia nomear… não podia recordar, permaneceriam intocadas. Seguras… e talvez ela estivesse melhor assim.
Ele levantou a mão para tocar seu rosto, mas ela recuou. Um gesto pequeno, mas foi suficiente.
“Não vou encenar essa mentira com você, Alessio.”
“Eu nunca te pedi isso.” Ele deu de ombros,
“Então não espere suavidade. Não espere calor. Não de mim. Nunca.” Seus olhos escureceram. “Eu não vou me casar com você. Não aqui, nem em qualquer outro lugar.”
Ele assentiu. “Eu não espero nada. Apenas… fique.”
Ela o encarou por um longo tempo. Havia algo nos olhos dele… algo desesperado, depravado até. Como se ele ainda estivesse tentando convencer a si mesmo de que, se a segurasse com força suficiente, ela não desapareceria.
“Eu vou ficar.” Neveah disse finalmente. Seu tom resignado.
Os ombros tensos dele relaxaram visivelmente.
“Mas não por você,” ela esclareceu.
Ela não precisava dizer por quem. Ele entendeu.
_______
A carruagem balançava suavemente enquanto as rodas percorriam a estrada de terra. De vez em quando, encontravam um solavanco e Neveah era arrancada de sua contemplação.
Fazia três dias desde que eles haviam deixado o Palácio Eclipse.
Toda noite, quando paravam para descansar em uma estalagem, ela se sentava à beira da cama com atendentes desconhecidos a servindo. Um novo par a cada noite, se mudando mais rápido do que ela conseguia se acostumar.
Ele tinha dito que queria que ela estivesse confortável. Se ele soubesse quão ridículo isso soava.
Ele nunca vinha até ela enquanto ela descansava. Mas ela podia sentir sua presença em algum lugar no corredor. Toda noite. Em cada estalagem. Provavelmente, ele não tinha dormido.
Ele esperaria e observaria, ouvindo o som de sua partida. Ele nunca encontrou.
Três dias na estrada, seguindo em uma direção que era desconhecida para ela, para um destino que ela ainda não conhecia.
Mas isso não importava mais. Ela teve a chance de partir e não a aproveitou.
Quanto mais longe do Palácio Eclipse eles viajavam, mais fundo a dormência se instalava.
No primeiro dia, ela ocasionalmente observava as estradas que haviam tomado. Com alguma esperança vã de que pudesse encontrar o caminho de volta, se necessário. Mas ela desistiu disso no segundo dia.
Não porque não conseguia acompanhar os caminhos, mas porque mesmo nos dias que viriam, ela ainda não podia partir… não até ter certeza de que Eira estaria segura.
Eira… ela havia achado difícil pensar na mulher congelada como sua mãe, mesmo que não houvesse dúvida de que ela era.
Depois de um tempo, ela decidiu que não era necessário. Não quando não sentia apego além de um senso de dever.
Talvez tivesse a ver com o que o homem na caverna havia dito. Talvez ela se sentisse em dívida com a mulher que se perdeu ao trazê-la ao mundo.
Ou talvez houvesse algo mais. Uma razão por trás de sua relutância profunda em se separar de Eira agora que a havia encontrado, mesmo quando não se sentia compelida a pensar nela como sua mãe.
O que quer que fosse, Neveah escolheu ficar. Porque partir sozinha lhe traria respostas e talvez algo maior, mas os arrependimentos que seguiriam… esses, ela não poderia suportar.
Ela ficou, não porque escolheu honrar o pedido de Alessio, mas para ganhar tempo. A recuperação de Eira dependia, afinal, de Alessio e Karan.
Se esta foi a escolha errada ou certa, ela só saberia no futuro.
A estrada à frente era longa. Ela não sabia o que enfrentaria. Mas, por enquanto, tudo o que podia fazer era se agarrar àquele único motivo pelo qual escolheu não partir com a besta de rubi.
Eira.
Seja por obrigação, culpa ou algum afeto enterrado que ela não conseguia nomear.
Neveah não se importava em entender. Ela apenas sabia que não poderia partir. Ainda não. Não até que a mulher estivesse acordada