O Renascimento da Ômega - Capítulo 849
Capítulo 849: Sem Jogar Seguro
Um fraco bater na porta despertou Neveah de um sono agitado. Seus olhos lentamente se abriram e ela olhou, resmungando baixinho.
Os raios de sol filtravam-se pelas persianas parcialmente abertas. Ela tinha estado tão distraída na noite anterior que não se lembrava de fechá-las sozinha.
E embora a atividade doméstica geralmente fosse manejada por outras pessoas, às vezes Alessio, ela deixou claro que não queria ele ou qualquer outra pessoa perto de seus aposentos enquanto estivesse lá.
Considerando que já havia um visitante indesejado na porta, parecia que ela não havia sido clara o suficiente.
O bater na porta veio novamente, suave mas insistente, e um murmúrio abafado soou do outro lado da porta.
As sobrancelhas de Neveah franziam ligeiramente. Ela balançou as pernas para fora da cama, fazendo uma careta enquanto seus pés descalços entravam em contato com algo úmido e pegajoso.
Ela olhou para baixo, sem surpresa ao ver uma poça de sangue seco.
Alessio tinha sentado ao lado de sua cama por um longo tempo. Não era surpresa que suas vestes ensopadas de sangue escorressem na madeira polida. E não era de se admirar que seus sonhos fossem assombrados por aquele cheiro metálico, pela morte e por uma série de outras coisas desagradáveis.
Sua mente estava turva, não de sono porque ela mal tinha dormido. Estava apenas nublada do jeito que sempre ficava quando acordava de uma noite atormentada por terrores, apenas para perceber que mal conseguia lembrar de qualquer coisa que tinha sonhado.
Sua mente estava tão vazia quanto suas memórias e a única coisa que a convencia de que tinha sonhado era o resíduo de terror rastejando por suas veias e o gosto amargo de desespero no fundo de sua garganta.
Acordar assim… cada manhã mais incerta que a anterior, ela estava começando a se cansar disso. Ela era mortal, e essa rotina ensaiada era inadequada e desagradável.
“Rainha Alfa.” Uma voz chamou da porta, atraindo sua atenção de volta ao momento presente.
Era uma voz familiar, Karan, o médico(a) incomum.
Claro que Alessio enviaria outra pessoa para vigiar ela quando ele não pudesse. Ela tinha certeza de que os guardas de patrulha da noite anterior tinham sido todos trocados e duplicados.
O palácio, apesar de estar principalmente deserto, estava bem guardado. Após sua fuga na noite passada, Alessio se certificaria de que estivesse fortalecido.
De alguma forma, ela sabia que isso não a impediria.
Neveah dirigiu-se à porta, destrancando-a. Ela a abriu, suas sobrancelhas abaixaram-se em uma expressão de desaprovação.
“É hora de seu tônico.” Karan transmitiu, levantando sua caixa de medicamentos à vista dela.
Como de costume, ele não encontrou seu olhar. Seus olhos se moviam por todo lugar, menos para ela.
Ela suspirou, afastando-se da porta, dirigiu-se de volta à cama. “Você pode deixar na mesa ali.”
“Isso não vai servir.” Ele balançou a cabeça ligeiramente. “Eu vou precisar examinar a criança também.”
Ela sentou na cama, olhando para Karan. “A criança? Ou eu?”
O médico(a) parecia surpreso com a pergunta e, por um breve momento, seus olhos encontraram os dela.
Foi apenas por um instante mais longo que alguns segundos antes de ele desviá-los.
“É que a maioria dos médicos não faria referência a examinar uma criança não nascida, quando suas habilidades só lhe permitem verificar a condição da criança através de mim.” Ela o encarou sem piscar. “Examinar a criança? Como você planeja fazer isso?”
Neveah percebeu que sempre que ela ficava na dúvida, havia subitamente mais ênfase na criança que ela carregava. E Karan apareceria mais frequentemente com um diagnóstico ou outro.
Era coincidência demais para ser qualquer coisa além de intencional. Mas ela não era a primeira mulher a estar grávida, certo? Todo esse alarde realmente era necessário?
Em cada ocasião, ela nunca se sentia muito diferente do que havia sentido da última vez. A única coisa que mudaria seria a prescrição de Karan.
O tônico nesse ponto era duas vezes mais forte do que quando ela primeiro recuperou a consciência.
Era realmente para a criança? Ou para ela o tempo todo?
Karan deu uma risada baixa, suas mãos tremiam tão levemente. Ele fez uma boa tentativa de esconder isso, mas não escapou do aviso de Neveah.
Ele estava nervoso. Isso, por si só, falava volumes.
“Faça o que quiser.” Neveah deitou-se, seus olhos se fechando.
Karan realizou seu exame usual e, após terminar, ele se afastou.
“Você pode ir embora.” Neveah dispensou. “Deixe o tônico para trás.”
Seu tom era frio e firme, não deixando espaço para contenda.
Karan hesitou por apenas um momento, finalmente ele inclinou a cabeça e se foi em algumas passadas.
Quando a porta se fechou, Neveah levantou-se da cama, dirigindo-se à mesa. Ela pegou a tigela de líquido escuro e verde fumegante, levantando-a mais perto.
O cheiro herbal provocou uma sensação de sufocamento no fundo de sua garganta e seu nariz franziu em desgosto.
Cheirava terrível. Sempre cheirou, mas dessa vez cheirava ainda pior.
“Este está mais forte que o último…” Ela murmurou, zombando baixinho. “O que exatamente há nele?”
Ela não tinha certeza se sequer queria saber. Ela tinha consumido este tônico diariamente pelo último mês, não pulando um dia.
Não porque confiava em Alessio, mas porque não queria desencadear sua cautela até estar certa de que não estava pensando demais nas coisas.
Ela sempre soube, no fundo, que Alessio era um homem a ser temido. E embora inicialmente estivesse certa, seja qual fosse a verdade, ele não a machucaria… ela não sabia mais.
Não depois da noite passada.
Ela dirigiu-se ao banheiro, despejando o tônico na pia. O líquido espesso desceu pelo ralo e ela observou com uma careta até que estivesse tudo desaparecido.
Alessio não havia saído do palácio desde que ela recuperou a consciência. A cerimônia da lua em alguns dias seria a primeira…
E enquanto Neveah sabia que ele estava tendo dúvidas após a noite passada, ela podia dizer que a cerimônia era de uma importância tão grande que ele sequer considerava sair desde o início.
Ela não podia continuar tomando o tônico. Ela não podia jogar seguro.
Essa era talvez a única chance que ela teria… para descobrir a verdade.