Capítulo 800: Aloria 6 (Cap.801)
Xenon não favorecia a raça Fae. Ele nunca favoreceu, e por um bom motivo. Cada novo encontro com eles o deixava ainda mais convencido de que tal raça maliciosa não precisava existir.
Eles não eram feiticeiros das trevas, mas seus corações eram mais negros que magia negra. Sinistros, enganadores e malignos.
Essas eram as descrições mais agradáveis que ele conseguia pensar enquanto era rodeado por dois imensos espíritos da floresta. Seus chifres pareciam afiados e letais, e seus olhos brilhavam com sede de sangue. Embora ele não tivesse certeza de cujo sangue eles achavam que conseguiriam.
Como ele acabou nessa posição, alguém pode se perguntar?
Era bastante simples. Ele havia seguido a voz de Neveah… ou o que ele achava ser a voz dela na época. Apenas para enfrentar uma árvore feia que, por algum motivo, tinha a habilidade de imitar vozes.
O que era pior, ele sabia que também era uma armadilha. Mas era uma chance que ele estava disposto a correr.
Esta floresta era lar de algumas das coisas mais estranhas, e isso dizendo muito vindo dele. E agora, ele estava cercado por todos os lados por espíritos da floresta.
Tudo o que ele queria era voltar para Neveah. Ele não achava que nada disso fosse necessário.
Xenon não se moveu quando outro galho rangeu atrás dele. Sua pegada na lâmina era fácil, casual, como se tivesse esquecido que ela estava lá. Mas sua postura dizia o contrário. Ele já se preparava para o ataque.
Um batimento cardíaco depois, aconteceu.
O espírito da floresta investiu, a terra tremeu. Xenon manteve sua posição até que estivesse quase em cima dele e então se torceu para trás, deslizando para baixo para passar por baixo. Sua lâmina voou para cima, rasgando direto a suave barriga da besta.
Seu movimento foi mais rápido do que o espírito da floresta conseguia compreender. Em apenas uma respiração, estava morto atrás dele e não havia sinal de sangue nas vestes de Xenon.
Mas esse era apenas um e ele ainda tinha boa companhia.
Das copas das árvores, um borrão de movimento desceu como um predador solto do céu. Penas escuras. Garras. Olhos da cor de cobre derretido. A criatura era enorme, parte mulher, parte pássaro. Com braços garras e asas que desintegravam as folhas enquanto batiam nelas. Uma harpia.
Eram as guardiãs preciosas de Aloria, espíritos da floresta não enviados para a batalha.
Xenon se sentiu honrado.
Ele se moveu rapidamente, desviando de sua primeira investida. Ela silvou, circulando de volta, gritando. Mais duas caíram das árvores acima. Uma pousou atrás dele, outra à sua esquerda. Ele não hesitou.
Sua lâmina encontrou a primeira harpia na barriga, cortando penas grossas e algo que parecia osso. Ela gritou e caiu, mas a segunda já estava em movimento. Ela investiu contra ele com dedos ganchudos, mirando seu pescoço. Xenon desviou de sua investida, batendo o cabo da lâmina em seu maxilar. Um estalo nauseante ecoou.
A terceira harpia finalmente fez seu movimento, lançando-se de uma árvore com velocidade incrível. Ele não teve tempo para golpear. Então ele se virou, agarrou-a em pleno voo pelo pescoço e a jogou ao chão. Suas asas se debateram violentamente, levantando terra e folhas, mas ele não a soltou até que a luta saísse de seus membros.
O silêncio foi restaurado novamente.
Restava mais um espírito da floresta, a segunda besta com chifres. Xenon olhou para ela por um momento, desafiando-a a atacar. Ela não o fez.
A besta se agachou, expondo o pescoço.
“Na verdade, eu precisava de uma carona.” Xenon murmurou, limpando sua lâmina.
_______
Quando Xenon virou a esquina. Ele avistou algo que o fez avançar sem pensar duas vezes.
Em um momento, ele estava sobre as costas do espírito da floresta e no outro, suas garras estavam sufocando a vida do Senhor de batalha Fae.
“Xenon… deixe-o ir, por favor.” Neveah não parecia surpresa com a aparição dele. Ela estendeu a mão, colocando-a em suas costas em um gesto apaziguador.
“Deixe-o ir. Ele não ia me machucar.” Neveah garantiu a Xenon.
Xenon lançou-lhe um olhar incerto, mas ela assentiu uma vez, o olhar suave e persuasivo, e ele não pôde dizer não.
Estalando o pulso como se estivesse retirando sujeira, Xenon lançou o senhor de batalha longe e nem mesmo olhou para ver seu pouso difícil.
“Estive procurando por você em todos os lugares.” Ele murmurou, inclinando a cabeça de Neveah para inspecionar adequadamente seu rosto e garantir que ela não havia sido ferida de forma alguma.
Havia manchas de sangue seco na bochecha dela, e em sua armadura, mas Xenon sabia que nada disso era dela.
Ela parecia ter destruído alguns homens. Xenon não duvidava que ela tivesse. Ele estava simplesmente aliviado em vê-la ilesa e fazendo o dano.
“Sua pequena ameaça.” Ele murmurou, embora seu tom traísse uma satisfação completa.
Neveah sorriu levemente. Olhando ao redor dele para o espírito da floresta dócil espreitando a uma boa distância.
“Você é um para falar. Ficamos separados por quanto tempo? Algumas horas? Você encontrou companhia.” Neveah apontou.
“Melhor companhia que a sua.” Xenon resmungou baixo, lançando um olhar furioso ao Senhor de batalha Fae.
“O que você está fazendo com ele?” Xenon perguntou, franzindo a testa. “Ele é de Diandre.”
Neveah deu de ombros casualmente. “Ele conhece os caminhos de Aloria e parece determinado a ganhar redenção.”
“Não acredito que os Fae saibam algo sobre isso.” Xenon não estava convencido.
Neveah não discutiu, ela olhou para o Senhor João, que já havia se levantado e agora os observava em silêncio.
Ele estava visivelmente descontente com o ataque de Xenon, mas Xenon não se importou. Não era como se ele pudesse fazer algo a respeito.
Não se ele ainda valorizasse sua vida.
“O que você pode fazer por nós?” Xenon perguntou ao senhor de batalha friamente. “Você sabe onde Meu Senhor está?”
Senhor João assentiu. “Não tenho certeza onde ele está, mas sei onde ele vai estar. E se não chegarmos a tempo… pode ser tarde demais.”
“Não há ninguém nesta Floresta capaz de enfrentar Meu Senhor.” O tom de Xenon ficou sombrio com as palavras que soaram muito próximas de uma ameaça em seus ouvidos.
“Não diretamente, não.” Senhor João admitiu. “Mas quem disse algo sobre enfrentá-lo? Em Aloria, temos… alguns meios.”
Isso não soou bem. Xenon trocou um olhar com Neveah que também estava visivelmente preocupada, embora mantivesse uma expressão séria.
Ele podia dizer lendo o olhar dela.
Antes que Xenon pudesse dizer algo mais, uma dor aguda explodiu ao redor de sua coxa. Sua mão moveu-se para o local, com os olhos semicerrados um pouco.
Ele sabia que aquela dor não era dele.
“É…” Neveah começou a perguntar, já adivinhando.
“Ele está ferido.” Xenon confirmou em um tom baixo.
Nada mais precisava ser dito.
“Podemos encontrá-lo sozinhos. Você… encontre aquele marcador e se livre dele. Se você não pode nem mesmo fazer isso, então não tem direitos de buscar trégua.” Neveah disse ao Senhor João antes de disparar.