O Renascimento da Ômega - Capítulo 774
- Home
- O Renascimento da Ômega
- Capítulo 774 - Capítulo 774: Algo Sobrenatural (Ch.775)
Capítulo 774: Algo Sobrenatural (Ch.775)
A faixa prateada pairou por um momento antes de disparar à frente deles, como se esperasse que o seguissem. Ela desapareceu na floresta à frente num piscar de olhos.
“Certo. O que diabos está acontecendo aqui?” Kirgan perguntou em tom baixo. “Por que está…”
“Onde está o corpo de Adrienne? Você a colocou para descansar… não colocou?”
Não era incomum para um Senhor Dragão escolher um local privado, intocado, para colocar sua ligação para descansar. Geralmente, era o mesmo lugar onde ele seria colocado para descansar, se… ou, mais frequentemente, quando a ruptura o alcançasse.
Em seu próprio tempo, antes da morte de um Senhor Dragão, ele então revelaria o local de seu descanso final a alguém de confiança, e após os ritos de honra serem realizados, seus restos seriam levados para aquele local escolhido.
Acreditava-se que somente dessa forma ambos poderiam se reunir no que quer que existisse além disso. Por essa razão, Kirgan não havia procurado saber onde Adrienne fora colocada para descansar.
Na verdade, ele esperava nunca saber. Se Menarx sobrevivesse à ruptura, ele não precisaria.
Mas agora, a pergunta precisava ser feita.
Menarx inspirou bruscamente e exalou de forma trêmula. Em apenas alguns segundos, seus olhos se tornaram ainda mais vazios, seus ombros inclinados sob o peso do luto que repousava sobre ele como um manto imóvel. “Há… nenhum corpo, Kirg.”
Os olhos de Kirgan se arregalaram. “O que você quer dizer…”
As palavras ficaram presas na garganta de Menarx, como se houvesse um espinho muito profundamente embutido, que ele jamais conseguiria engolir, mas ele as forçou a sair.
“Ela foi atingida por magia Arcana. Não apenas a feriu fisicamente, mas atravessou seu núcleo mágico, dilacerando tudo o que a fazia… Fae.” Ele inspirou de forma brusca, com os punhos cerrados firmemente ao lado do corpo.
Falar sobre isso era como reviver toda a agonia novamente. A dor pulsava em suas veias, mais forte a cada respiração. Fazia apenas dias, mas Menarx sentia como se tivesse envelhecido séculos. E desta vez, ele não escapara de seus efeitos.
“A magia de Veah era a única coisa que a mantinha unida. Assim que desapareceu, ela simplesmente…” Menarx deixou a frase morrer, sua voz rouca.
“Dissipar Brasas…” completou Kirgan. Era um termo usado entre os senhores dragões, quando um dos seus passava sem deixar um corpo físico para trás, mas dissipava-se inteiramente em brasas.
Não era inédito, mas raro, e dependia de vários fatores relacionados à natureza da morte.
Um senhor dragão que morresse por meios naturais deixaria um corpo. Enquanto um morto por magia potente, ou um tipo específico de arma (como puro adamantium), atingindo órgãos vitais, poderia fazer com que se dissolvesse.
Para os Fae cujas origens e raízes estavam intrinsecamente entrelaçadas com o Arcano, morrer pelo Arcano forçaria sua essência a se desfazer, retornando à magia da qual foram formados.
Era um fenômeno que não era tão belo quanto parecia, pois essencialmente significava que suas almas não teriam a chance de passar para o pós-vida. Elas simplesmente deixariam de existir…
Uma morte no corpo e na alma.
Considerava-se um destino mais gentil nunca ter nascido.
“Como ela pôde… com a própria irmã?” Kirgan perguntou com desespero.
Menarx balançou a cabeça levemente, piscando para afastar as lágrimas que ardiam em seus olhos. “O ataque era destinado a Veah. Ela provavelmente… reuniu toda a força mágica que pôde.”
Kirgan tentou falar, mas fechou a boca novamente. E somente após mais um momento encontrou as palavras.
“O destino é… algo odioso.” Murmurou Kirgan.
“Perdoe-me.” Ele acrescentou rapidamente, percebendo que havia, mais uma vez, falado fora de hora.
“Você não disse nada errado.” Menarx respondeu, sua voz vazia.
Dor… as palavras eram dolorosas. Até mesmo respirar era doloroso. Ele havia tentado ignorar, mas falar sobre isso agora trouxe a tortura interna de volta ao primeiro plano de sua mente.
O luto estava vivo dentro dele, se curvando e girando, ameaçando sufocá-lo se ele não se segurasse em algo. Agora, estava buscando aquele último fio da magia de Adrienne, um propósito forte o suficiente para mantê-lo são.
Depois disso… o que viria a seguir? Ele precisaria encontrar outro propósito para si mesmo. E depois mais um. Por quanto tempo ele poderia suportar esse ciclo? Até que não restasse nada dele além de uma casca vazia?
“Ela… sabe? A extensão do dano que causou à irmã?” Kirgan perguntou, ainda horrorizado.
“Ela não ficou por perto tempo o suficiente. Quem sabe o que ela sabe ou não sabe?” Murmurou ele. “Adrienne me fez prometer que não iria atrás dela.”
“Você vai… deixá-la viver?” Kirgan já sabia a resposta antes mesmo de ouvi-la.
Os olhos de Menarx endureceram, um brilho assassino neles. “Não.”
Lá estava, já outro propósito esperando ansiosamente que ele o assumisse. E ele o faria… que se danassem as promessas.
Ele sempre fora um homem de palavra. Só agora Menarx percebia que nunca havia enfrentado uma dor grande o suficiente para quebrá-la. Ele não conseguia se sentir culpado… a dor tornava a escolha fácil demais.
“Bom.” Kirgan aprovou. “Devemos nos apressar com seja lá o que for isso. Se Veah colocar as mãos nela primeiro, você não vai querer perder um segundo sequer.”
Menarx não respondeu. O pensamento em Veah agitava calor e luz, e um gosto pela vida era a última coisa que ele queria agora. Ele havia feito as pazes com seu destino. A ruptura estava vindo, e o que quer que ela trouxesse, ele enfrentaria sozinho.
Ele havia falhado em proteger sua verdadeira ligação.
Ele merecia isso… o julgamento do destino.
Menarx seguiu pela floresta, Kirgan seguindo atrás dele.
“Para onde você acha que isso está nos levando?” Kirgan perguntou a Menarx.
“Eu não sei. Mas é o único traço que resta dela. Se há contas a acertar, eu as acertarei. Só então posso… deixá-la descansar.”
______________
A faixa prateada atravessava o ar, serpenteando entre as árvores retorcidas e sem vida do bosque. Nenhum pássaro cantava, nenhuma folha farfalhava. Havia apenas silêncio e o peso sufocante da decadência.
Quanto mais avançavam, a floresta se transformava de um verde colorido e enganoso carregado de plantas venenosas, em mais um cemitério de árvores, com cascas escurecidas como se queimadas por dentro. Uma névoa pairava rente ao chão, uma névoa doentia que se enrolava em torno de seus tornozelos de uma maneira antinatural.
Kirgan envolveu seu manto mais firmemente ao redor do corpo, mas era inútil contra o frio perturbador que se instalava em seus ossos. Não era nem mesmo um frio devido ao clima, era algo mais sinistro. “O próprio ar é um veneno potente,” murmurou, olhando ao redor. “Nem mesmo insetos podem viver aqui.”
Menarx permaneceu em silêncio, seu olhar fixo na faixa prateada que se movia com determinação. Qualquer que fosse a magia que a guiava, ela não era afetada pela paisagem sem vida. Ele cerrou os punhos, forçando-se a avançar. Cada passo alimentava uma sensação crescente de desconforto.
E então, a floresta terminou abruptamente. Ou foi interrompida bem ao meio, de uma maneira tão conspícua que não poderia ser vista do nível do céu por causa da névoa rastejante.
Diante deles, a terra estava rasgada em um cânion monstruoso, largo e circular, como se a própria terra tivesse sido ferida, estendendo-se como um lago cortado no meio da floresta. Um abismo negro fervia abaixo, o ar acima dele espesso com uma névoa ominosa. As profundezas giravam em uma correnteza antinatural, um vazio que parecia respirar, exalando um pavor gélido. Tinha uma semelhança inquietante com o grande cânion e o miasma escuro além da Barreira de Duna.
Como uma versão em miniatura dele.
Kirgan parou abruptamente ao lado de Menarx, sua respiração presa na garganta. “O que em nome dos Antigos…?”
Os olhos de Menarx se estreitaram enquanto ele examinava a cena. As bordas irregulares do cânion pulsavam com um brilho fraco e doentio, traços de magia residual ainda pendiam no ar. O fedor de algo antigo, algo impuro, permanecia no fundo de sua garganta.
Runas, símbolos antigos e retorcidos, estavam gravados profundamente nas rochas ao redor do cânion. Não eram inscrições, mas queimadas na pedra, emanando uma energia sombria que fazia a pele de Menarx formigar.
Kirgan passou a mão sobre um dos símbolos, seus dedos mal tocando a superfície antes de recuar, sacudindo a mão como se tivesse se queimado. “Magia negra,” ele sibilou. “Não é apenas qualquer magia negra. Isto… isto é antigo.”
Menarx exalou bruscamente, sua mandíbula se apertando. “Ele esteve aqui.”
O feiticeiro das trevas. Não havia como confundir. Os resíduos de seu poder ainda permeavam o ar, azedos e sufocantes. Mas o que ele havia feito aqui? E o que significava o abismo?
O olhar de Kirgan disparou para a faixa prateada, que pairava hesitante acima do abismo antes de desaparecer nas sombras além.
“Precisamos de alguém que leia essas runas,” Menarx afirmou, sua voz dura com uma determinação fria. “O que quer que seja isso, não é coincidência termos sido levados até aqui.”