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Capítulo 521: Coração da Floresta
Quando Valen correu pela floresta em direção ao caminho que levava ao galpão, ele de repente sentiu uma massa de energia que fez arrepios percorrerem sua pele. Uma palavra apareceu em sua mente: repulsa.
Alguns segundos depois, a massa de energia foi liberada, disparou em alguma direção, e Valen congelou no lugar.
Um grito ecoou em sua cabeça e profundamente em sua alma. O grito e o choro de uma criança; assustada e sozinha.
Foi então que ele percebeu que a massa de energia estava sendo lançada em direção ao galpão.
“Não!” Valen apertou o peito e correu mais rápido. Seus pés estavam ralados e sangrando pelos galhos quebrados e pedras, mas ele não se importava nem um pouco agora.
Mais uma vez, ele sentiu a massa de energia se reunindo em algum lugar na sua frente, e sentiu como se seu coração parasse de bater. Não importava o quão forte o galpão fosse, ele não era indestrutível.
“Jade!”
O pássaro elemental, que agora estava em sua forma verdadeira, bateu suas asas. Uma onda de mana foi incorporada aos pés de Valen com uma rajada de vento, e Valen aumentou sua velocidade na corrida. Ao mesmo tempo, ele espalhou sua mana por todo o corpo, preenchendo seus circuitos até o limite e circulando-a tão rapidamente que o ar ao seu redor começou a ficar estático.
Então ele viu: a enorme massa de energia cortada da mesma força que envolvia a floresta.
Pronta para ser lançada contra seu filho.
“Ignis!”
O pequeno lagarto saltou do ombro de Valen, em chamas. Seu corpo cresceu no ar, e quando as quatro patas pousaram no chão, uma Salamandra completamente desenvolvida abriu sua mandíbula. Um sopro, apenas ligeiramente inferior ao de um dragão, lançou-se em direção à figura encapuzada sob a massa de sombra e os atingiu com força.
“Como ousa!” enquanto o grito saia da boca de Valen, a floresta estremeceu.
A magia do druida não vinha de encantamentos; ela emanava da vontade e emoção do conjurador. O chão tremeu e vinhas perfuraram o ar como espinhos. Raízes de árvores emergiram debaixo da terra, perseguindo as duas figuras sendo lançadas pela tempestade de fogo.
“Como ousa tocar meu filho!”
Valen estava com raiva. Ele nunca havia estado tão bravo antes. Seja quando enfrentou Tsalinade ou quando descobriu a verdade sobre a queda do reino, ele nunca sentiu tanta fúria em seu coração.
A raiva que ele sentiu antes era a raiva pela dor que seus avós queridos sofreram. Mas isso—isso era diferente. Essas pessoas, quem quer que fossem, tentaram machucar sua pequena flor. Seu filho. Sua pequena e assustada Shwa!
Como ousam assustar meu filho!
O Espectro levantou-se cambaleante após o grito; sua própria fúria enrolada em sua língua. “Esse desgraçado!” cuspiram no chão e cortaram o ar com o braço. Uma sombra informe explodiu em direção ao recém-chegado, pronta para devorar.
“Ei, espera—”
Ocla estalou a língua e amaldiçoou o Espectro, que parecia não ter conceito de paciência. Ele olhou para a pessoa que acabava de atacá-los, e amaldiçoou novamente. Embora a pessoa parecesse ridícula vindo até eles vestindo apenas trajes noturnos—nem mesmo usando chinelos—a mana crepitante ao redor dele era alarmante.
De repente, uma lança surgiu do nada e cortou a sombra informe, e uma cauda em chamas dizimou a sombra cortada enquanto uma rajada de vento de mana de um pássaro elemental juvenil espalhou o restante do poder.
“Ei, esse é o humano-druida!” ele gritou para o Espectro, que interrompeu sua raiva por um segundo antes de rir.
“Hah! Ele vem até nós por ele mesmo!” com uma risada sinistra, o Espectro lançou sua sombra, mais forte do que a anterior, em direção ao galpão novamente. “Vamos destruir vocês dois!”
“Não!”
Valen correu em direção ao galpão, embora soubesse que a barreira absorveria o ataque. Não importava—seu filho estava dentro daquele galpão!
Ele estendeu a mão e Alveiya correu para bloquear a sombra novamente. Desta vez, ela não foi quebrada facilmente, então Valen convocou mais poder para mover as vinhas ao redor do galpão, perfurando a sombra persistente. Rajadas de balas d’água voaram das asas batendo de Jade, perseguindo a sombra dispersada que tentou atingir o teto do galpão. Valen agarrou Alveitya e lançou o restante da sombra em direção ao céu encoberto, onde ela colidiu e explodiu acima das árvores.
Com a respiração suspensa, Valen chegou à porta e se virou, protegendo o acesso enquanto afastava as sombras remanescentes. Ele bateu o pé no chão, e pedras pontiagudas irromperam da terra sob o Espectro e Ocla.
“Ei, isso é perigoso!” Ocla gritou enquanto pulava para desviar das pedras. “Esse homem costumava ser chamado de Abatedor de Demônios!”
“Isso é razão para recuar? Seu idiota!” como esperado, o Espectro retrucou. Eles permitiram que uma lança de pedra perfurasse seu ombro, como se não causasse nenhuma lesão. “Você disse que ele está doente!”
O intermediário arregalou os olhos; a barragem de ataques o fez esquecer sobre as informações que ele próprio trouxe. Ele estreitou os olhos e olhou para o humano; entre seu cabelo bagunçado e lábios pálidos, o humano parecia miserável. Ele estava ofegando pesadamente, e os olhos verdes perderam seu brilho; vidrados e desorientados.
Ocla sorriu. Certo—outra chance foi apresentada a eles, para levar os dois tesouros de Ra Natha de uma só vez. “Não o mate,” ele disse. “Precisamos de um espetáculo.”
“Cale a boca! Isso depende de mim!” o Espectro rosnou e avançou. Ocla revirou os olhos de maneira exasperada, mas tanto faz—contanto que aquele Pesadelo sofresse.
Na frente do galpão, a Salamandra agachou e rosnou, batendo suas patas no chão. Que incômodo; ela seria capaz de esmagar aqueles dois se não estivessem numa floresta. Ela precisava ser cautelosa para controlar seu fogo, então usar seu poder total estava fora de questão. Se fosse em planícies abertas…
“Valen…” Ignis rosnou em alerta enquanto os inimigos avançavam novamente. A Salamandra podia sentir que o poder do contratante estava enfraquecendo e a mana diminuindo. As vinhas, que antes se moviam ferozmente, estavam balançando fracamente, e as lanças de pedra haviam parado de surgir.
“Tempo…”
Valen mal conseguia emitir um som. Ele sabia que sua mana estava acabando; seu núcleo instintivamente segurava a mana de sair para mantê-lo vivo, e seus circuitos estavam gritando.
Mas mesmo com o corpo protestando, Valen rangeu os dentes. Não—comparado à dor que ele experimentou todos aqueles anos, isso era nada mais que um leve inconveniente. Acima de tudo, ele nunca poderia abandonar este lugar.
Apenas pelo grito que ouvira antes, ele sabia que os outros guardas também estavam em meio a batalhas. Mas mesmo que conseguissem vencer e viessem até o galpão, julgando pela magia da figura encapuzada, os guardas não conseguiriam fazer nada—nem mesmo Haikal.
Então, não—Valen não poderia recuar.
Ele precisava ganhar tempo, até que Natha chegasse. Porque Natha viria. Sim. Ele sabia que seu marido estava a caminho.
E para ganhar tempo, ele também precisava de… tempo.
“Eu preciso de tempo…”
Ignis sibiliou e lançou uma chuva de flechas flamejantes para afastar as figuras que vinham. “Então, eu vou te dar.”
A Salamandra avançou; cada pisada de suas patas fazia um tremor que atrapalhava os dois inimigos de avançarem. Com uma explosão de fogo ardente, faíscas voaram e pousaram nas capas dos dois inimigos na forma de pequenas lagartixas de fogo, que rastejavam e queimavam tudo em seu caminho.
“Gahh—droga! Droga de Salamandra!” Ocla pulou fora e tentou atingir as lagartixas flamejantes. Mas elas eram rápidas, e seu fogo ardia instantaneamente. Não era tão quente e derretedor como o fogo da Salamandra, mas não era algo trivial também.
Ocla tirou sua capa que estava queimando enquanto amaldiçoava, revelando uma pele azul-escura por baixo. Enquanto isso, o Espectro deixou o fogo consumir sua capa. Sob o capuz, uma máscara cobria seu rosto, e uma sombra parecida com fumaça contorcia-se para formar membros. Nada além da capa foi queimado e, ao invés de se importar com o fogo, eles estavam focados em carregar sua magia.
Mais uma vez, uma massa de energia formou-se acima da mão sombreada do Espectro, maior e mais densa do que antes. Era como se eles estivessem tentando aniquilar o humano-druida e o galpão, ao invés de capturá-los.
Talvez eles estivessem. Os olhos sombrios e sinistros brilhavam com vontade de devorar.
“Tsk—” Ignis bateu suas patas novamente, tentando fazer os inimigos perderem o equilíbrio. Mas enquanto funcionava com o intermediário, o Espectro permaneceu imperturbável. As pernas sombrias apenas se dispersaram e se reformaram depois que o tremor terminou. “Valen!”
Ignis virou sua cabeça flamejante para seu contratante, e pausou. Os brilhantes olhos azuis se arregalaram ligeiramente ao sentir que algo estava mudando dentro de Valen.
Não—algo estava mudando ao redor deles.
O ar crepitava; relâmpagos perfuravam o céu encoberto. As árvores balançavam e contorciam-se como se estivessem vivas. Raízes se arrastavam pelo chão e enrolavam-se nas pernas de Valen. O robe da vestimenta noturna balançava atrás dele enquanto ele erguia-se do chão, ficando de pé sobre um trono feito de rochas e vinhas. Folhas dispersas voavam ao redor, cada uma fina e cortante como uma lâmina, e espinhos emergiam da superfície. Acima dos olhos verdes que brilhavam, repousava uma coroa; uma joia verde profunda embutida em seu centro.
O Coração da Floresta.
Com uma voz que parecia vir de toda a floresta, Valen falou. “Vocês que profanam esta terra, desapareçam!”
E a floresta iniciou um contra-ataque.