Capítulo 479: Naquela vez que vi meu amigo fazer um contrato com o demônio

“B…b-b-ba-aaah…”

Não, esse não era o som de Jade aprendendo a pronunciar as coisas corretamente; era o som de Zarfa abrindo e fechando a boca em gaguejo depois que eu terminei de contar a ela sobre a coisa da concepção. Eu tentei contar sobre a Semente Primordial, mas ela foi censurada dessa vez, então eu tive que contornar a explicação na manhã seguinte, depois que os ouvidos dela pararam de zumbir.

E essa foi a reação dela.

“V-v-você…você…” Ela começou a respirar pesado e a se abanar, levantando-se abruptamente e andando de um lado para o outro na frente do sofá. “V-v-você…oh…oh Deusa…oh…”

Caraca–ela parecia que ia ter um ataque cardíaco. Foi muito choque? Ela nem reagiu assim quando me encontrou neste mundo, ou quando descobriu a forma humana de Jade, ou…realmente, qualquer outra coisa.

Certamente, deveria haver algo mais chocante do que conceber um bebê neste mundo de fantasia, certo?

…certo?

Eu estendi a mão e dei tapinhas gentis nas costas dela. “Você está bem? Calma, garota–quer que eu pegue um pouco de água?”

Ela balançou a cabeça fortemente e começou a tomar uma respiração profunda–ou pelo menos tentou. Ela ainda arfou por um bom tempo, e eu só podia observá-la com preocupação e confusão. Felizmente, sua respiração ficou mais estável gradualmente, e ela parou de se abanar.

Em vez disso, ela me olhou em silêncio, sem piscar, por quase um minuto–antes de pular para me abraçar apertadamente. Eu poderia muito bem chamar de um ataque, dado que a força do abraço dela nos fez cair no sofá.

“Oof…”

Eu teria rido se não fosse pelo som de tremores nas costas dela e o som de choro no meu ombro. Ela apertou minhas costas firmemente e começou a soluçar, deixando-me ainda mais confusa.

“P-por que você está chorando?”

“Porque…” Ela se afastou lentamente, gaguejando e com grandes lágrimas escorrendo dos olhos. “V-você…eu…eu sei que você–nggh–eu sei que você…quando você…quando você olha para aquelas crianças no hospital e…e…quando você fica toda t-triste porq-porque sabe que não p-pode t-tê-las…nggh…” Ela levantou as mãos e tentou enxugar as lágrimas, mas seus esforços foram em vão, já que mais lágrimas continuaram vindo. “Eu…eu sei que…que…você tem querido isso o tempo todo e…e…hwaaa…”

E então ela começou a chorar de verdade, assim como fez quando descobriu que eu tinha sido transmigrada para este mundo com certeza.

“Oh, Ceci…não chore,” eu acariciei o lado da cabeça dela, e isso só a fez chorar ainda mais. “Quero dizer…eu também já tenho Jade, então–”

“Mas é diferente!” Ela limpou o nariz e respirou com dificuldade. “Isso…isso terá seus genes!”

“Tecnicamente, Jade também tem meus genes–”

“É diferente!” Ela argumentou, batendo as mãos no sofá como uma garotinha fazendo birra. “Eles terão seus genes, e os genes do Doc, e não apenas sua mana, mas tudo!”

“O-oh…você tem razão,” eu sorri timidamente, sentindo-me constrangida por algum motivo. A ideia de ter alguém, um ser vivo, com os genes tanto meus quanto de Natha era…

Hehe…eu não pude evitar dar uma risada.

E isso abriu outra enxurrada de lágrimas.

“Hwaa…eu…eu estou tão feliz…” Ela se jogou em mim novamente. “Eu estou tão feliz que você finalmente vai ter o que quer…”

“Então pare de chorar e ria ao invés disso!” Eu a repreendi, mas também comecei a ter lágrimas nos olhos. Ugh–era tudo por causa dela! “Não sou apenas eu; não somos todos nós que conseguimos o que queremos?”

Zarfa assentiu contra meu ombro. “Eu não me importo em ter um filho, mas eu tenho muito dinheiro como sempre quis…”

Pfft–eu ri, chorei e ri de novo, e nós éramos um caos na manhã, tanto que eu nem percebi que outras pessoas tinham entrado na sala.

“Natha, por que Papai e Zarfa choram mas riem também?”

“Por que você acha?”

“Hmm…rir é quando estamos felizes, então…eles choram porque estão felizes?”

“Mmm, isso se chama lágrimas de alegria.”

“Lágrimas de alegria!” Jade riu, e enquanto eu olhava para eles rindo, ele apontou para mim. “Jade não chora, mas Jade pode ganhar um abraço também?”

Natha riu e colocou Jade entre mim e Zarfa, e tivemos uma festa de abraços enquanto esfregávamos nossos rostos nos bochechinhas fofas de Jade, deixando-as molhadas.

“Aaah! Jade não quer molhado!”

Isso só nos fez esfregar ainda mais, apertando o pequeno garoto entre nós em meio ao protesto de gritos, enquanto Natha se servia da bandeja de café da manhã que o mordomo de Zarfa havia trazido para a sala.

Só paramos quando Jade agarrou minha lapela e afundou o rosto no meu peito, inflando as bochechas com irritação. Eu ri alegremente, mas Zarfa mexeu na borda da camisa de Jade e olhou nervosamente para Natha.

“Hum…você…você pretende voltar hoje?” Ela perguntou cuidadosamente.

Ah, sim…já que nós já terminamos nossos negócios–e até um desenvolvimento surpreendente com Tsalinade–não havia razão para nós ficarmos no Reino Humano por mais tempo. Mas havíamos chegado aqui há menos de vinte e quatro horas, e, além da conversa desta manhã sobre meu plano de conceber no futuro, eu ainda não tinha passado tempo com esta amiga minha.

Bem…eu poderia pedir para ficar aqui por um tempo mesmo enquanto Natha voltasse sozinho, mas…

“Nat?”

“Podemos ficar se você quiser,” Natha respondeu casualmente, surpreendentemente, enquanto se apoiava no peitoril da janela.

‘Nós’? Não apenas eu? Eu olhei para ele surpresa e ele continuou.

“Eu estava preparado para sair por alguns dias, já que pensei que precisaríamos de um tempo para decidir a data,” ele deu de ombros. “Como conseguimos resolver isso rapidamente, podemos usar o tempo para umas pequenas férias.”

Zarfa imediatamente animou e pegou minhas mãos, balançando-as no ar. “Fique! Fique! Vamos brincar mais! Podemos chamar Aina também e passar o dia fora!” Ela disse energicamente. “Vamos fazer compras e visitar cafés! Vamos comprar várias roupas para Jade e deixá-lo experimentar todas elas!”

Ouvindo seu nome ser mencionado, Jade virou ligeiramente a cabeça. “Doce também?”

“Doce também! Chocolate também!”

“Uau…”

Finalmente, o pequeno garoto parou de ficar emburrado e deixou Zarfa abraçá-lo. Bem, tudo bem, mas…não parecia um plano que alguém como Natha toparia.

“Você vai também?” Eu perguntei a ele, que parecia preferir aproveitar a vista do jardim e da cidade além.

“Não, vá e divirta-se,” ele disse, e então acrescentou com um riso. “Eu deixo você falar de mim, se quiser.”

Ah, ele nos conhecia tão bem. Eu ri e me encostei no encosto do sofá para aproveitar a vista de sua figura banhada pelo sol. Eu ainda preferia sua aparência de demônio de pele azul, mas ele era bonito de qualquer forma.

“O que você vai fazer então?” Perguntei curiosa. “Só relaxar tomando sol?”

“Vou visitar a associação de comerciantes e ver se consigo levar meu negócio para cá.”

Férias…pequenas férias, ele disse?

“Uau, tão ousado…” Zarfa cobriu a boca brincalhona. “Você está dizendo isso assim na minha frente?”

“Competição é uma receita para uma economia saudável,” Natha respondeu despreocupado antes de beber seu café. “Além disso, temos empreendimentos diferentes, de qualquer forma.”

“Oh?” Zarfa levantou a sobrancelha. “Ah, entendi–você está na área financeira, né? Está querendo trazer seu banco para cá?”

Ah, verdade. Natha era o pai do investimento no Reino dos Demônios. Ele não tinha muitos empreendimentos no Reino Humano, mas tinha alguns para facilitar seus espiões e coleta de informações.

Olhando para meu marido e minha melhor amiga, fiz uma leve sugestão. “Hmm…por que você não investe em Midas?”

Ambos, Natha e Zarfa, me olharam–Jade também, mas com uma expressão vazia. “Midas não é um negócio de família? Eu não sei sobre isso…” Natha olhou para Zarfa.

Surpreendentemente, minha amiga estreitou os olhos em contemplação séria, antes de finalmente dar uma resposta. “Não para Midas, mas…e se investir em mim?” Ela se virou para Natha.

“Você está indo independente? Ou uma subsidiária?” Natha abaixou sua xícara e cruzou os braços–um sinal de que ele também tinha ficado sério.

“Ambos,” ela disse. “Vou criar uma subsidiária que estará completamente sob meu controle– ainda preciso do nome de Midas para me dar um impulso, né? Eu…” Ela olhou para mim. “Estou planejando fazer deste lugar uma base para expandir um negócio para o nordeste.”

“Nordeste?” Natha inclinou a cabeça, mas eu imediatamente soube do que ela estava falando.

“O principado?!” Meus olhos se arregalaram.

Na borda do Reino Humano, na região nordeste, havia o lago com uma pequena ilha no meio e uma área que costumava ser o reino druida.

Meu reino.

“Bem, você mesma disse,” ela deu de ombros; seu tom era casual, mas eu pude ver o brilho nos olhos dela. “Em vez de destruí-lo, deveríamos tomá-lo, garantindo que eles não possam viver sem nós. Então vou fazer exatamente isso,” ela levantou a cabeça com orgulho e confiança que sempre fizeram parte dela até em sua vida anterior. “Vou garantir que até os nobres e o príncipe terão que implorar aos meus pés se quiserem algo.”

Uau, garota…isso era algo de outro nível que você estava planejando.

“Não sei quanto tempo vou precisar para conseguir isso, mas…” Ela olhou para Natha com os lábios curvados. “Bem…acho que provavelmente vai ser mais rápido se eu tiver um grande, grande investidor ao meu lado, não acha?”

“Quanta astúcia, usando meu adorável marido como isca,” Natha riu. Mas ele caminhou até o sofá e estendeu a mão. “Muito bem; vamos fazer um contrato.”

…uau.