O Destino Cego da Alfa - Capítulo 98

98: Eclipse Lunar da Tarde 98: Eclipse Lunar da Tarde ZINA
O tempo do acerto de contas verdadeiramente havia chegado.

Enquanto Zina ouvia o burburinho de todos, ela notou uma coisa… que enquanto os Alfas e Betas das cinco matilhas de alta patente não compartilhavam abertamente o mesmo sentimento que ela, o povo comum, por outro lado, ousava mostrar sua traição.

A semente que Zina plantara à noite finalmente tinha enraizado. Sejam os contos do contador de histórias, ou os cartazes retratando as pinturas traiçoeiras que ela espalhara, as pessoas estavam ouvindo. E agora, elas audaciosamente proclamavam o nome do proibido.

Seria o Príncipe Banido?

A grande fera que varrerá as cinco regiões?

Certamente, ele não é o DireWolf profetizado?

Não apenas o DireWolf, ele é o Lobo Fera de todos!

Zina permitiu que o crescente burburinho e animosidade fervilhassem. Até que fortes objeções alcançaram seus ouvidos.

“Theta Zina!” O Theta da Matilha Uivante gritou com uma voz trêmula que capturou a atenção de todos na praça. A praça foi criada de tal maneira que as palavras do pavilhão facilmente ecoavam por todo o lugar, então poder-se-ia dizer que era uma arena natural de amplificação de voz.

Zina inclinou a cabeça para o lado da velha mulher, desfrutando demais do caos à sua maneira.

“Você está cometendo blasfêmia e traição! O Alfa Rei ainda vive, então, como ousa proclamar outro!”

Houve, mais uma vez, um silêncio atônito antes da multidão se romper em um miragem de opiniões dissidentes sussurradas.

“Ainda vive?” Zina repetiu, agindo confusa, enquanto mais uma vez, o manto do silêncio descia sobre a praça. Ela riu maliciosamente, como se tivesse escutado a coisa mais ridícula. “Mesmo que ele ainda viva, você sugere que devemos ridicularizar a reencarnação do Grande Lobo Fera apenas por causa dele?”

“Você… você…!” A velha Theta gaguejou indignada. “Você foi a mesma que o declarou o verdadeiro Alfa Rei! Como ousa….”

“Você não ouviu….!” Zina interrompeu a mulher, em um tom sonoro o suficiente que restaurava silêncio na praça mais uma vez. “…que é a deusa quem eleva um homem e o derruba.”

Ela podia ver mesmo sem poder ver. Como o rosto da velha Theta deve ter ficado roxo de raiva e como ela lutava com suas palavras.

“Você pretende se exibir agora como a reencarnação da deusa da lua.” A voz do Alfa da Matilha Uivante falou em vez de sua Theta.

Zina simplesmente se voltou para a multidão justamente quando o relógio marcava doze e trinta, ansiosa para dar um fim em tudo.

“Muito em breve,” ela falou com uma voz sombria que soava como se estivesse anunciando a própria desgraça. “Vocês verão a prova que a deusa da lua usou nos dias do passado para mostrar seu servo mais fiel.”

Agora ela enlouqueceu.

Haverá um fim para isso?!

Que prova agora?

Os Alfas e Betas resmungaram, ainda que muitos deles, exceto a Matilha Uivante, foram prudentes o suficiente para não chamar atenção. Era como um perigoso jogo de apostas onde as chances estavam incertas como um monte de cartas sobre uma base falha.

Com um vencedor indeciso, nenhum deles estava ansioso para atrair a ira de Eldric, caso ele sobrevivesse a esta provação. Nem a ira de Daemon, caso ele vencesse.

“Nas histórias que nos foram contadas sobre a deusa da lua,” Audrey falou com uma voz que pingava intelecto, “diz-se que sempre que a deusa queria mostrar onde seu servo mais fiel estava, ela fazia a lua aparecer no lugar do sol. Theta Zina, você ostenta a lua de sangue hoje. Você quer nos dizer que haverá um eclipse lunar da tarde hoje?”

Se fosse possível, a multidão ficou ainda mais tumultuada ao ponto de Zina não ter certeza se alguém estava ouvindo acima do outro. A indignação pintava a atmosfera enquanto muitos quase alegavam que mesmo se Zina tivesse previsto a grande fome, prever algo que nunca havia acontecido em séculos era muito incomum.

Para ser honesta, Zina mesma não estava confiante naquela visão. Era uma coisa dizer que um eclipse solar ou lunar aconteceria. Mas era um negócio totalmente diferente dizer que a lua tomaria o lugar do sol à tarde. E que um eclipse lunar ocorreria por cima disso!

Verdadeiramente, Zina estava tendo dúvidas. Mas ela tinha que lembrar-se constantemente de que ela não era uma pessoa comum. Não, ela era Zina. A mulher que previu a gravidez deformada de Luna Selvagem, a mulher que viu Daemon mesmo antes de realmente encontrá-lo, a mulher que viu a grande fome… ela tinha que ter mais confiança em si mesma.

Da mesma forma que ela fez no mesmo dia em que condenou Daemon, Zina ergueu seu cajado e apontou-o para a multidão. “Eu vos digo agora, toda Vraga….” Ela começou, e embora a multidão à sua frente agora estivesse relutante e descrente dela, eles ainda ouviam porque não podiam se ajudar.

Diante do silêncio que a desafiava a continuar em seu caminho sombrio, Zina continuou. “Eu, a deusa da lua, vos enviarei a lua em vez do sol quando ele estiver no céu para abrir caminho para o meu servo. E quando virem esse sinal, o homem que estará diante de vocês será a própria Grandeza, e seu lobo os resgatará quando o tempo de carnificina correr pelo vosso mundo pintando-o de vermelho.”

Zina estava respirando um pouco pesado quando terminou o curto discurso. Sempre que ela proferia palavras assim, por vezes sentia como se estivesse escavando fundo em seu cérebro, alcançando um lugar onde permitia que um ser de outro mundo falasse em seu lugar.

Antes que a multidão ou Zina, por essa matéria, pudessem se recuperar do silêncio de mau agouro que havia se apoderado da praça, Zina ouviu um rosnado que certamente não soava como um shifter comum.

O rosnado era extraordinariamente poderoso, golpeando-a nas entranhas enquanto ela sentia seu lobo esticar-se em submissão, e geralmente tirando seu fôlego. Ela sentiu a multidão se mover desconfortavelmente, e ela podia sentir muitos se acovardando diante de quem era.

Mas o mais importante, a marca em seu pescoço formigava e ela sabia quem era sem dúvidas. Ela podia imaginá-lo, caminhando em sua direção com despreocupação enquanto capturava o coração e alma de todos que o olhavam… isso se conseguissem erguer os olhos para vê-lo.

Ele sempre teve aquilo sobre ele. Aquilo que dizia eu posso dominar o mundo se eu escolher, e ainda assim não faço pelo simples fato de que é entediante.

Aquilo que dizia, eu poderia descansar por uma eternidade e não ser perturbado por meros mortais como vocês, mas escolho não fazer pelo simples fato de que acharia excessivamente entediante.

Clique.

Clack.

Ele estava subindo o pavilhão, e Zina realmente desejava que ela não estivesse com sua venda.

O silêncio estava a engolindo inteira, e ela se perguntava o que era que todos viam que os deixara cativos e enraizados no lugar. Cada um, com medo de respirar alto demais com o receio de interromper o espetáculo diante deles.

Clique.

Clack.

Os passos pararam diante dela. Zina ainda tinha seu cajado estendido, apontando para a multidão, pois ela não sabia mais o que fazer com as mãos.

A mera presença dele, e seu corpo estava em chamas como se estivesse em uma fornalha ardente sem meios para escapar da chama que lambia.

A mera proximidade dele, e Zina queria se inclinar em tudo o que ele era e entregar sua mente e alma para ele.

Mais uma vez, ela se perguntou; seria uma jornada de tolo acreditar que ela poderia resistir a tal homem?

Mas então, o sussurro sinistro dele chegou até ela.

“Contando uma visão falsa mais uma vez, estamos?”