O Destino Cego da Alfa - Capítulo 90

90: Destinados a Destruir Um ao Outro? 90: Destinados a Destruir Um ao Outro? LUA (Na Terra de Ninguém)
O homem que se denominava O Lobo Vermelho observava os passos que se afastavam de Vessira PresaNoturna, a Alfa da Matilha Matriarcal. Ele mesmo ponderava que tinha um destino a cumprir e uma figura a encontrar.

Uma figura muito mais importante do que Vessira ou Freya, a propósito.

Assim, O Lobo Vermelho voltou à sua forma aterrorizante de Supremo Lobo Vermelho, correndo para além das bordas do oceano que lavava a costa e seu pelo. Sua velocidade era rápida demais para olhos comuns o rastrearem, e ele passava veloz como algo sobrenaturalmente ágil.

Sua jornada levou menos de vinte minutos até chegar a uma grande clareira com rochas montanhosas que se erguiam como estruturas descomunais e estranhas, totalmente alheias ao seu entorno árido, quase morto.

Ele voltou à forma humana, com o manto e a máscara intactos, enquanto caminhava em direção ao centro das estruturas rochosas. Bateu três vezes em um ritmo peculiar, e uma voz soou do interior.

“Qual é seu nome, seu propósito e sua forma?” A voz grunhiu como um grito.

“Meu nome não tem forma, meu propósito tem um nome e minha forma não tem propósito.”

A rocha se abriu como uma porta, mas não havia ninguém lá dentro. Nem mesmo o misterioso dono da voz que interrogara o homem. Mas O Lobo Vermelho não se abalou, entrando como se conhecesse bem o lugar e seu traçado labiríntico.

Ele percorreu o interior rochoso até chegar a uma sala grande com uma única árvore ao centro. A árvore era imensa, com galhos sinuosos que se estendiam para todos os cantos da sala. E a sala estava escura, apenas iluminada pelo crescente giboso visível através de seu teto de vidro que envolvia o quarto.

Debaixo da imensa árvore, logo no tronco que tocava o solo, havia uma figura. Seu rosto não estava exposto, mas se movia como uma esfera de algo sobrenatural.

“Você chegou.” A figura sibilou, ainda encoberta.

O Lobo Vermelho inclinou-se. “Mestre, encontrei-me com Vessira e a vidente bruxa enviada a nós.”

“Você tranquilizou a Alfa do Matriarcado?” A voz tornou a zumbir, enquanto o corpo esférico se desenrolava até uma cabeça calva com talvez cinco fios de cabelo ser lentamente exposta. Em seguida, olhos fundos se revelaram, e então lábios rachados também foram expostos.

Ele era algo entre um homem vivo e um morto. Algo entre um homem que viveu séculos e um homem que viu muito pouco sol.

Ele era apenas uma figura, pois seus membros ainda não podiam ser vistos, e a parte inferior do corpo ainda tinha forma de esfera.

“Tranquilizei. Mas Vessira se mostra compreensivelmente avessa ao nosso plano.”

A figura sobrenatural sorriu, exibindo uma escassa arcada dentária. “Em breve, ela acreditará na nossa visão de um lobo mais poderoso do que todos.”

“Ela fala com fervor desse Daemon NorthSteed. Diz temer sua mente.”

“Daemon NorthSteed?” A figura zombou, “o filho da Rainha Luna que governou o Norte?”

“É ele.” O Lobo Vermelho ecoou sombrio.

“Mesmo na morte, Vandessa NorthSteed ainda pretende me assombrar…” a figura arrastou, e então gargalhou como um louco. “Como o filho de Vandessa se tornou agora um obstáculo em meu caminho?”

“Uma segunda chance de laço de companheiro foi concedida a ela e a este Daemon NorthSteed.”

“O laço de companheiro?” A figura questionou, genuinamente confusa.

“Nossa cobaia é mais incomum, Mestre. Não apenas ela tem a habilidade de ver o futuro, como parece ser uma loba normal em todos os aspectos.”

Um brilho de satisfação surgiu nos olhos afundados da figura. “Nossa cobaia de fato supera nossas expectativas. Ela é o que esperávamos depois de ter morrido e ressuscitado; e ao mesmo tempo, ela é o que nunca esperávamos…” Ele parou, como se em profunda reflexão.

“Certamente, este Daemon NorthSteed a rejeitou? Estamos preparados para tal incerteza. É por isso que garantimos que ela compreenda que é a abandonada e assim permanecerá para sempre.”

O Lobo Vermelho se mexeu desconfortavelmente. “Daemon aceitou o laço.”

A cabeça da figura virou para ele tão rápido que quase parecia que ela queria se soltar de seu frágil corpo esférico.

“Ele aceitou a cobaia?”

“Eu mesmo fiquei surpreso. Tentei não demonstrar meu choque a Vessira, mas a maldita vara está falhando.”

A figura esférica saltou, agora expondo apenas dois braços que se estendiam por milhas. Começou a rastejar em direção ao Lobo Vermelho, olhos negros reluzindo.

“Ela foi amaldiçoada pelas sete anciãs das Videntes Bruxas a permanecer sempre sozinha. É por isso que seu primeiro companheiro a rejeitou; é por isso que os Cavaleiros Lobos nunca a amaram de verdade, mesmo sem razão para isso. Tudo o que aconteceu em sua vida, cada tragédia que ocorreu seguiu sua maldição inquebrável; e ainda assim você me diz que seu arqui-inimigo aceitou um laço com ela?”

O Lobo Vermelho caiu de joelhos, sua máscara ainda no lugar. “Irei pesquisar e entender como isso aconteceu.”

“Pesquisa simplesmente não é o suficiente! A cobaia deve ser completamente desalmada, deve ser estigmatizada a tal ponto que, ao voltarmos ela contra os seus, ela não terá razões para se aliar a eles! Você entende?!”

“Sim, Mestre! Mas você não compreende, o laço deles não é exatamente contra nós.”

“O que você quer dizer?”

“A cobaia estará próxima a Daemon NorthSteed, que certamente governará, como ouvimos. Quando o amuleto for ativado e pudermos controlá-la, você não acha que ela poderá nos ajudar a realizar nosso sonho de controlar o Norte?”

A figura hesitou em seus movimentos. “Mesmo assim, ela não pode entregar seu coração.”

“Você acha que ela realmente será capaz de entregar seu coração? Já está tomada pela necessidade de adquirir mais poder do que já possui. Acredito que ela pretenda se tornar uma alta sacerdotisa; com os votos e o ódio que para sempre existirá entre ela e Daemon, você acha que seu coração endurecido se derreterá?”

A figura grunhiu. “Não vou arriscar. Acabe com isso e acabe logo agora.”

“A vidente bruxa já está a caminho. Tenha certeza que Daemon e a cobaia jamais se aproximarão com a vidente bruxa lá. Em dois meses, o amuleto será ativado, e o mal que criamos finalmente mostrará sua face.”

“Não estou convencido, Lobo Vermelho,” a figura rosnou letalmente, “coisas inusitadas já aconteceram, você deve ativar o amuleto em um mês. Não repetirei isso novamente… acabe logo com essa bagunça.”

“Como o Mestre desejar.”

A figura hesitou como se incerta de suas próximas palavras. “Será ela a escolhida?”

“O que quer dizer, Mestre?”

“Aquela que está destinada a ficar ao lado do lobo poderoso?”

O Lobo Vermelho riu. “Mestre, certamente você não acredita em tais coisas.”

“Calcum!” A figura rosnou, e um ser gigantesco apareceu quase imediatamente, parecendo tudo menos o mesmo Deformado que arrastou o corpo da cobaia após sua morte.

Saliva pingava entre seus caninos, e o monstro se erguia como um homem – embora um com a pele acinzentada.

Em uma língua estranha, a figura falou ao Deformado.

“Ra’vokh, tar kreth marga si’ra. Ka morath fyor, kra shen orath gral ith nerag, vel moras gral ith sirag. Mor durvel kreth fyor ra’vokh vel dur ith, ral orath morna orath.”

As palavras literalmente se traduziam para: “Você já matou sua mãe, talvez agora seja hora de outra caçada. Uma profecia diz que ela se erguerá ao seu lado e trará destruição a ele, outra diz que é ele que trará destruição a ela. Agora, basta cumprir a primeira profecia antes que a segunda tenha chance de se realizar.”

O Deformado uivou ferozmente e depois desapareceu como uma rajada de vento.