O Destino Cego da Alfa - Capítulo 416

Capítulo 416: O Meio-Dia Chegou

Zina deu de ombros com indiferença em resposta.

Rowan riu em descrença, provavelmente pensando que ela estava apenas adiando sua tortura iminente. “Embora eu não saiba como você adquiriu o conhecimento das runas, as Runas da Alcateia podem apenas prolongar sua vida. E daí que sua mãe conseguiu colocar algumas delas dentro de você? Isso dificilmente é suficiente para dissipar a tortura do nirvana.”

Zina riu audaciosamente. “Acredite, isso não é tão maravilhoso quanto o dom da minha visão. Devo mostrar-lhe magia verdadeira agora? Verdadeiro poder? O que significa ver o futuro e prevê-lo com tanta precisão, que arrepios percorreriam seu corpo.”

Ela ouviu Rosa brincar com o chicote que estava destinado ao seu corpo já machucado. Apesar de suas palavras, eles ainda estavam se preparando para torturá-la.

Quão tolos eles eram… porque logo nada disso aconteceria… ou importaria.

“A única verdadeira magia aqui é a ruína que virá para você quando Rosa acabar com você,” Rowan disse com desdém, seus dedos acariciando seu rosto de uma maneira que parecia mil agulhas espetando seu corpo. “Tentar falar para escapar disso não é a maneira de lidar com isso. Sente-se como uma boa menina, porque esta tarde, você e eu estaremos lado a lado em um pódio para que todos vejam onde reside o verdadeiro poder—e isso é conosco, que somos marido e mulher.”

Zina se virou para um bloco de gelo sob seu toque. Mas isso não a impediu de levantar a cabeça para ele. “Esta tarde? Isso é bastante lamentável, porque a noite está chegando e o sol se aposentará prematuramente. Se estivermos naquele pódio, temo que ninguém nos verá claramente.”

O ar congelou, como se vendo a verdade em suas palavras. A tensão girava ao redor deles, mas Zina ainda não havia terminado.

“Antes de me trazer à minha ruína, posso perguntar há quanto tempo esta mansão da caverna permanece erguida assim?”

“Alguns cem anos.” Rowan respondeu secamente, preparando-se para deixar o quarto.

Mas suas próximas palavras o impediram. “Neste caso, é lamentável que a Mansão da Caverna vá cair hoje. Se tivesse existido por mais alguns cem anos, então se transformaria em um patrimônio cultural.” Ela concluiu, sarcasmo escorrendo de suas palavras.

Nada aconteceu por um segundo. Zina não ouviu ele ou Rosa se moverem. Então o sino da Mansão da Caverna foi tocado doze vezes sucessivamente para anunciar que já era meio-dia.

Zina parou por um segundo—se tudo corresse bem, então Seraph deveria muito bem ter retornado, e a Profetisa Ada deveria estar esperando no quarto da prisão de sua mãe onde as Runas da Alcateia também estavam guardadas.

Felizmente, Mestre não conhecia seus verdadeiros poderes, como sua mãe havia explicado a ela. Se ele algum dia chegasse a esse conhecimento, então as runas há muito teriam sido cobiçadas por ele.

Mas ela empurrou esses pensamentos para o fundo de sua mente enquanto ouvia seu ambiente para que suas visões se realizassem—porque tudo o que ela havia planejado dependia disso. Primeiro, a escuridão da tarde que viria. Depois, segundo, a Mansão da Caverna que teria seu fim não natural.

Foi então que ela ouviu…Rosa ofegar levemente como se estivesse presenciando algo verdadeiramente chocante e arrepiante, o que era incomum para a mulher cujas expressões usuais começavam com uma frieza calculada e terminavam com um triunfo sombrio.

“O sol….” Ela disse, a voz distorcida de admiração e pavor ao mesmo tempo ao perceber que as palavras de Zina estavam se realizando exatamente como ela havia falado. “O sol está mudando.”

Zina ouviu Rowan girar nos calcanhares, voltando para o quarto, provavelmente para olhar pela janela alta de onde Rosa observava o fenômeno.

Foi quando Zina se atreveu a tirar a venda. Sua prisão já estava escura também, mal iluminada pelas velas, então não demorou para sua visão se ajustar às sensações. Ela também olhou para a janela alta coberta com um tipo especial de vidro que não permitia a entrada de luz solar no quarto, mas ainda assim tornava possível ver o sol e a lua para avaliar o tempo.

Mas Rosa estava errada em suas previsões. O sol não estava mudando; estava simplesmente encontrando a lua.

“Nossos Leitores do Clima não relataram isso!” Rowan explodiu, os olhos furiosos virando-se para Zina, que apertou o pano da venda em seus punhos.

Ela sabia que a raiva de Rowan dificilmente decorria do fato de ela ter previsto algo que seus Leitores não puderam prever, mas porque a súbita força do desconhecido era mais perturbadora do que a força do conhecido.

Mudanças celestiais como o Eclipse estavam, afinal, ligadas a grandes transformações. Assim como da última vez em que isso aconteceu há meses, então levando ao reinado de Daemon por todo o Norte Ártico. Após isso, era estranho ter outro desses eclipses mal cinco meses depois do último.

“E daí se o sol ficar vermelho?” Rowan explodiu, como se ser agressivo o suficiente apagasse o olhar de triunfo em seu rosto, “nada mudou. Rosa, continue. Vou ver essa mudança celestial sem precedentes como anunciando o momento em que o Oeste dominará Vraga!”

Mas Rowan estava errado. Aquele momento crítico de fato mudou tudo.

E o próximo sinal veio quando o chão sob eles tremeu, como se os trovões dos céus tivessem se infiltrado no subsolo e saído de sua alta morada.

A princípio, os dois tinham expressões confusas, sem saber o que estava acontecendo. E foi necessário o chão entre eles partir-se para Rowan perceber.

“Um terremoto….” Ele murmurou, arregalando os olhos enquanto percebia o significado oculto por trás das palavras dela mais cedo.

Zina olhou entre ele e Rosa—a mulher que estava pronta, com um chicote na mão.

“Se a Mansão da Caverna cair,” Zina falou, a voz carregada de sarcasmo mal dissimulado, “o que aconteceria com o Carvalho Ancestral se ficar enterrado sob as bolhas da sua preciosa mansão?”

Os olhos de Rowan se arregalaram, e sem pensar, ele correu para fora do quarto sem olhar para trás.

A escuridão na sala ficou ainda mais sinistra enquanto Rosa se aproximava dela, ainda com o chicote na mão.

“Você tem talento, Teta,” ela falou, “mas ver o futuro não te salvará das minhas mãos.”

Zina observou enquanto um servo masculino aproximava-se sorrateiramente atrás de Rosa sem que a mulher soubesse. Então o servo, rápido como um raio, colocou uma corda sobre o pescoço dela e começou a estrangulá-la.

O chicote caiu de sua mão, e ela lutou… chutando, batendo, rosnando, os olhos estourando como uma bola enquanto ela encarava Zina como se ela fosse a responsável por seu dilema.

Mas mesmo que Rosa fosse forte, o homem atrás dela era mais forte e mais rápido. Então, segundos depois, a vida deixou seus olhos enquanto ela desabava no chão como poeira.

O servo aproximou-se de Zina sem fazer um único som com os pés e fez uma reverência. “A Profetisa Ada pediu para eu te passar uma mensagem; já que suas visões se concretizaram, você deve se apressar e fazer sua parte.”

Então, sem mais uma palavra, ele deixou Zina sozinha com um cadáver. Tudo aconteceu tão rápido que ela mal podia processar. Mas ela não tinha tempo a perder.

Se ela permanecesse ali, Orquídea e os deuses sabem quem viriam atrás dela. Então ela pegou seu vestido e correu para fora da sala. Indo na direção do túnel de fuga onde Seraph estaria esperando por ela.

Tempo… tudo que ela precisava era tempo e colocaria tudo de volta em seu lugar.