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- Capítulo 826 - 826 O Despertar 826 O Despertar A área ao redor das duas
826: O Despertar 826: O Despertar A área ao redor das duas figuras nuas ainda estava carregada de calor e tensão, o ar elétrico com os resquícios do que acabara de acontecer.
O cheiro de suor, desejo e emoções cruas grudava nas frias e antigas paredes de pedra, misturando-se com a aura sempre presente de decadência e mana sombria nas ruínas.
A respiração de Asher estava pesada, seus músculos tensos, sua mente ainda cambaleava com o que acabara de ocorrer. Que diabos ele tinha feito? Ele realmente a beijou?
Ele sempre a viu como menos do que uma escrava e a odiava tanto que nunca quis beijá-la e fazê-la se sentir como uma pessoa.
Ele não sabia por quê, mas logo após o momento em que seus corpos se uniram, foi como uma represa se rompendo.
Toda aquela raiva.
Todo aquele ódio.
Toda aquela frustração contida.
Tudo isso explodiu em algo violento, algo desesperado—algo que nenhum dos dois podia parar.
Rebecca estava igualmente abalada, pois todas as memórias do que disse e fez a atingiam como um martelo. Seu rosto estava vermelho como uma maçã ao lembrar-se das coisas estúpidas e embaraçosas que disse enquanto ele a devastava.
Por que ela disse aquelas coisas e chorou como uma vadia patética?
Será que ele usou alguma magia proibida nela para fazê-la agir como alguém que ela não podia reconhecer?
E agora, enquanto estavam sentados ali, ainda se recuperando da tempestade que desencadearam um no outro, sem saber o que fazer.
De repente, o pesado, tenso silêncio na sala foi despedaçado pela presença de duas figuras em pé atrás deles.
Asher as sentiu antes de vê-las, sua aura fria e sem emoção—uma era meramente uma sombra lançada por um monstro morto-vivo, a outra uma executora silenciosa.
Ele não se virou.
Rebecca, no entanto, estendeu o pescoço.
Seus olhos escuros se arregalaram de choque antes de se estreitarem em fendas.
Ela ofegou, seu rosto esquentando com frustração e vergonha, enquanto imediatamente agarrava seu vestido preto rasgado do chão e o pressionava contra o peito, cobrindo-se enquanto sibilava,
“Vocês dois não têm vergonha?”
Sua voz carregava uma borda de fúria, mas havia algo mais por baixo—vergonha.
Porque, no calor do momento, quando haviam se perdido, ela deixou escapar demais.
Palavras que nunca deveria ter falado.
Emoções que nunca deveria ter reconhecido.
E para piorar, Skully e Valeria testemunharam tudo.
Skully permaneceu imóvel, suas órbitas ocas olhando diretamente à frente.
Mas então ele falou.
E como sempre, sua voz era tão morta quanto sua forma—oca, vazia, insensível.
“Seu corpo agora está suficientemente preparado para o próximo julgamento.”
Suas palavras careciam de qualquer entonação, desprovidas de sarcasmo ou intenção, mas de alguma forma, isso as tornava piores.
O olho de Rebecca tremeu, e ela instintivamente agarrou uma pedra próxima, pronta para arremessá-la nele.
Mas ela se conteve.
Porque essa coisa nem reagiria.
Não se moveria.
Não se importaria.
Isso só a enfureceu ainda mais.
“Desgraçado,” murmurou entre dentes enquanto cerrava os dentes.
Ela desviou o olhar para Valeria, que estava parada como uma estátua, seus olhos carmesim sinistros fixos em Asher.
“Por que você está olhando tanto para ele? Não é como se fosse a primeira vez que o vê nu, hmph!” Rebecca achou irritante vê-la olhar para ele assim, como se ela também quisesse um pedaço daquela carne agora que fizeram isso na frente dela.
Valeria parecia impassível com suas palavras e simplesmente entregou as vestes de Asher embora Rebecca já estivesse perdida em seu próprio mar de pensamentos.
Seus dedos apertaram o tecido de seu vestido com força, sentindo-se frustrada e confusa—não com eles, mas consigo mesma.
Pelo que ela tinha feito.
Pelo que ela tinha dito.
As coisas que havia gritado em seu rosto…
Ela não deveria ter dito nada daquilo.
Asher lentamente se levantou, seu rosto frio e inescrutável mais uma vez.
O momento havia acabado.
O que quer que tenha acontecido—isso não devia significar nada além de um momento de vulnerabilidade em que ele se perdeu devido à agonia física e mental pela qual estava passando.
Pelo menos, era isso que ele dizia a si mesmo.
Sem reconhecer Rebecca, sem olhar para ela nem uma vez, ele se voltou para Valeria e puxou uma carta vermelha escura.
Outra.
Os olhos de Rebecca piscaram em sua direção, sentindo algo afiado torcer em seu peito.
Ela cerrou a mandíbula, mas não disse nada.
Asher estendeu a carta para Valeria.
“Por favor, entregue isso a Rowena,” sua voz era firme, porém baixa.
Mas então, pela primeira vez, ele acrescentou algo mais.
“Mas desta vez, quero que você a entregue pessoalmente.”
Valeria pegou a carta em seus dedos metálicos e fez um aceno silencioso.
Então, sem uma palavra, ela se virou e se afastou, desaparecendo na escuridão.
Rebecca, que tinha assistido toda a troca, bufou baixinho.
“Outra carta de amor para sua rainha?” Seu tom era afiado, mordaz, mas havia algo mais escondido por trás dele.
Asher a ignorou completamente.
Isso a fez se sentir ainda pior.
Ela queria dizer mais.
Ela queria provocá-lo, provocá-lo, qualquer coisa.
Mas nada saiu.
Em vez disso, ela só podia olhar para suas costas, seus lábios pressionados juntos, os punhos cerrados.
Por que diabos ela se sentia assim?
Ele a beijou e ela não vai esquecer isso nem vai deixá-lo. Ele não pode escapar impune.
Asher finalmente se virou para Skully, seus olhos amarelos escuros ardendo com fogo frio.
Ele ainda podia sentir o olhar dela em suas costas, mas ele o ignorou.
Aquilo havia acabado.
Agora, apenas uma coisa importava.
Poder.
Força.
Sem isso, ele não seria nada.
Sem isso, ele falharia.
Sem isso, ele nunca poderia reivindicar o que era seu.
Sem isso, ele não será capaz de se vingar e obliterar seus inimigos.
Sem isso… ele perderá tudo o que lhe importava.
Seus punhos se fecharam em punhos apertados, os leves resquícios de chamas escuras ainda persistindo em sua pele.
“Faça o seu pior.” Sua voz estava firme, controlada.
Inabalável.
Skully apenas inclinou a cabeça ligeiramente, suas órbitas brilhantes sem pestanejar.
“Então, vamos começar.”
Sua mão se ergueu, dedos se curvando, enquanto a escuridão os engolia totalmente.
Assim como todas as vezes antes, Skully o despedaçaria completamente, repetidamente, fazendo Asher instintivamente recorrer à sua força vital para impedir-se de se desintegrar em nada.
Mas toda vez que ele fazia—Skully o privava dela, impedindo-o de se curar.
Ele estava desaparecendo.
Cada vez que isso acontecia, seu corpo murchava, seus membros perdiam a força, e seus olhos ardiam com a pressão do esgotamento.
Toda vez, ele tentava alcançar algo, qualquer coisa, mas sua mana se recusava a retornar.
Toda vez, ele falhava.
E Rebecca estava lá—assistindo tudo.
Ela via os momentos em que ele não conseguia levantar seus próprios braços.
Ela via quando ele era reduzido a uma casca de si mesmo pela milésima vez, seu corpo mal se segurando na existência.
Cada vez que ela via isso, era como se um pedaço de seu coração estivesse sendo arrancado. Parecia semelhante a cada vez que via Oberon se machucando ou em uma situação perigosa.
Seus olhos tremiam em realização, se isso significava que ela realmente… o amava? Não! Isso não pode ser!
Ela não pode amá-lo… ela não pode…
*Thud!*
E então ela o viu colapsar novamente, deitado no chão, arquejando, seu corpo falhando novamente.
Rebecca havia visto e experimentado muitas coisas em sua vida—horrores, tragédias, traições—mas nada a tinha preparado para esse ciclo de tortura que estava acontecendo com outra pessoa e não com ela.
Ela pensou que poderia se acostumar a ver isso, já que não deveria ser novidade para ela.
Mas ver sua figura outrora indomável agora reduzida a ossos mal se segurando na carne murcho, suas chamas verdes escuras mal tremeluzindo, lutando para permanecer vivas, apenas a fez sentir algo estalar dentro dela.
Seus punhos se cerraram.
Seu coração disparou.
Seu fôlego tremeu.
Uma raiva visceral e profunda borbulhou em seu peito.
E antes que pudesse pensar—antes que pudesse se impedir—
“Basta!!”
Sua voz ecoou, crua e feroz, enquanto ela girava para encarar Skully.
“Pare com essa tortura cruel, seu saco de ossos podre!” ela rosnou, olhos ardendo de fúria. “Mate-o logo se está apenas brincando com a vida dele assim!”
Ela estava respirando pesadamente, seu corpo tenso de raiva, suas unhas pontiagudas cravando-se em suas palmas enquanto ela encarava o morto-vivo imóvel.
Mas Skully…
Ele nem sequer vacilou.
Suas órbitas ocas permaneceram fixas no corpo imóvel de Asher.
Então, com aquele mesmo tom frio e sem vida, ele falou.
“Vai parar quando ele acordar.”
As sobrancelhas de Rebecca se franziram, sua frustração borbulhando.
“Acordar?! Ele mal está vivo, seu desgraçado sem coração!”
Skully permaneceu imóvel.
“Ele acordará… quando ouvir o chamado.”
Rebecca piscou, sua respiração trêmula enquanto olhava para Skully em confusão.
“O que… o que diabos isso significa?”
–
Em algum lugar, nas profundezas de sua consciência desvanecente, Asher ouviu algo.
Uma leve ondulação.
Uma energia poderosa e profunda, pulsando pela terra como uma corrente invisível.
Não era mana.
Não era escuridão.
Era algo mais antigo… algo bruto.
Algo condenado.
Quanto mais ele ouvia, mais sentia sua presença permeando tudo.
O ar.
A pedra embaixo dele.
O silêncio que se estendia pelas ruínas.
Estava em todo lugar.
E então—
Um sussurro.
Baixo.
Profundo.
Morto.
E gelado.
“Você se chama Asher. Mas mesmo um nome é uma prisão, forjada para conter o que está por baixo.”
A respiração de Asher prendeu.
Essa voz… ele já a tinha ouvido antes… muito tempo atrás.
“Você é mais do que apenas o Portador da Danação. Você não está acorrentado pelo destino, nem pelo tempo. Você está preso apenas por sua recusa em se lembrar do que você realmente é.”
Lembrar quem ele realmente era? O que ele exatamente deveria se lembrar? Não era como se ele nunca tivesse esquecido nada. Ele não poderia, mesmo que quisesse.
“Eles tentaram quebrá-lo, enterrá-lo sob suas correntes por toda a eternidade. Mas você nunca foi feito para se ajoelhar. Levante-se e reivindique o que sempre foi seu.”
A voz não era nem gentil nem cruel.
Era uma afirmação.
Uma verdade.
Uma ordem.
E algo dentro de Asher respondeu.
Seus dedos se contraíram contra o chão de pedra fria, as últimas sobras de carne mal se agarrando à sua mão. Seus olhos, outrora sem fogo, piscavam.
Pela primeira vez, ele realmente sentiu algo.
Ele estendeu a mão—não com desespero, não com medo—mas com instinto.
E o mundo respondeu.
Uma força mais antiga do que o próprio tempo avançou em sua direção, não como a mana radiante que queimava sua espécie, não como a mana sombria que ele utilizava—isso era algo diferente. Algo primal. Algo que pertencia a ele, mas que estava além de seu alcance até agora.
E agora?
Veio até ele como um velho amigo há muito esquecido.
O chão sob ele estremeceu enquanto sinistras, tendrões verdes escuros de energia se enrolavam em sua direção vindos do próprio ar, das ruínas, das fendas na terra. Uma força que pulsava como um segundo coração o acolheu de volta ao redil.
No momento em que ele permitiu que isso entrasse, seu corpo se incendiou.
Não em chamas.
Mas em poder.
A pele se reconstruiu sobre ossos frágeis, a carne se teceu novamente, camada por camada. Seu sangue—mais escuro, mais rico, mais pesado—começou a fluir por suas veias mais uma vez, bombeando com uma força maior do que qualquer coisa que ele já havia conhecido.
A agonia da fome, da exaustão, da decadência—desapareceu. Substituída por algo infinitamente mais forte.
Rebecca, que havia ficado congelada de horror há momentos, cambaleou para trás, seus lábios se separando em puro espanto enquanto via veias verdes escuras brotar das paredes e do chão para envolver Asher.
Parecia vir de todos os lugares, fazendo seu queixo cair.
“C-Como ele está—” ela arquejou, seus olhos fixos na visão grotescamente bela do corpo de Asher se reformando diante de seus olhos.
Skully, que havia permanecido em silêncio, finalmente falou.
“Ele finalmente ouviu.”
Seu tom oco e sem vida enviou um calafrio pela espinha de Rebecca antes que ela se voltasse para olhar para Asher novamente.
E pela primeira vez, ela sentiu algo dentro dele que realmente a aterrorizava.
Não era o homem que ela sempre odiou.
Não era o monstro que ela temia.
Era algo completamente diferente.
E estava despertando.