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- Capítulo 822 - 822 Desamparado e Perdido 822 Desamparado e Perdido A cela
822: Desamparado e Perdido 822: Desamparado e Perdido A cela era pequena, mal o suficiente para uma cama e uma cadeira, ainda assim suas paredes irradiavam sufocamento.
Construída com uma liga densa e fortalecida com mana, foi feita para conter os seres mais perigosos. Contudo, lá dentro, a prisioneira parecia tudo menos perigosa.
Anna estava sentada encostada na parede, com os braços frouxos sobre os joelhos. O brilho tênue do colar de metal em torno de seu pescoço piscava fracamente, sua luz azul projetando sombras sobre sua pele pálida.
Seu olhar outrora afiado e indomado tinha se apagado em um abismo de desespero e exaustão.
Ela não sabia quanto tempo tinha passado—dias, semanas? Tudo se misturava em um ciclo interminável de dor e silêncio.
Ela nem sabia por que havia sido temporariamente aliviada daqueles experimentos malignos e trazida para esta cela.
Os únicos sons que ouvia eram os murmúrios distantes dos guardas, as risadas zombeteiras ocasionais daqueles que passavam por sua cela, e seus próprios pensamentos sussurrando verdades cruéis das quais não conseguia escapar.
Quando essa tortura iria acabar?
Ela sequer merecia escapar deste inferno?
Seus pensamentos vagaram para a última conversa que teve com ele—o jeito como Arthur a olhou. Como sua raiva queimou em seus olhos, como sua voz tremeu de dor, como seu ser inteiro desmoronou.
E o pior de tudo—
Ela nem podia culpá-lo.
Ela tinha mentido para ele.
Ela traiu sua confiança.
Seu corpo tremeu enquanto cerrava a mandíbula, lutando contra a dor em seu peito.
Ela pensou em Cila e seus amigos… Eles estavam bem? Ou foram mortos porque ela falhou em obedecer aos monstros?
Seus dedos se fecharam em punhos. Ela precisava saber se eles ainda estavam vivos.
Mesmo que ela não merecesse liberdade, eles mereciam.
Então de repente—
Uma sensação.
Uma sensação diferente de todos os olhares odiosos aos quais ela estava acostumada.
Um calor familiar tocou seus sentidos—um olhar.
Lentamente, ela ergueu a cabeça, seus olhos vazios se arregalando.
Arthur estava fora de sua cela.
Seu armadura dourada cintilava mesmo sob as luzes brilhantes, sua capa branca fluía suavemente atrás dele.
Mas sua expressão—fez o coração dela se torcer.
Seus lábios se entreabriram, como se ele quisesse falar, mas nenhuma palavra veio.
Ela podia ver a tempestade em seus olhos. Dor. Confusão. Conflito.
“…A-Arthur…” A voz de Anna saiu fraca, quase um sussurro, enquanto ela se ergueu levemente.
Arthur se enrijeceu. Seus dedos se curvaram em suas palmas.
Ele queria falar.
Dizer algo—qualquer coisa.
Mas as palavras morreram em sua garganta.
O que ele deveria dizer?
Que ainda se importava?
Que estava com raiva?
Que não sabia o que fazer?
Ele veio aqui pensando que poderia encontrar algumas respostas, mas agora, parado diante dela, vendo como ela parecia frágil e fraca, vendo o dispositivo em torno de seu pescoço—
Parecia errado.
Parecia que ele era o que estava se quebrando.
Mas antes que pudesse reunir seus pensamentos—
Uma voz soou atrás dele, irritantemente animada.
“Ei, Príncipe Estelar! Que surpresa ver você aqui, amiguinho.”
As sobrancelhas de Arthur se contraíram em irritação antes que ele pudesse mudar sua expressão de volta à neutralidade.
Virando-se, ele viu um homem se aproximando com um sorriso torto, uma bengala de metal na mão.
Lenny.
Mas algo estava errado.
Os olhos de Arthur estreitaram-se ligeiramente enquanto o observava.
Lenny não parecia mais jovem.
Seu cabelo outrora sedoso estava grisalho, calvo no topo, sua pele pálida e enrugada como a de um homem de sessenta anos em vez de quarenta. Mas mais do que isso—
Os olhos de Arthur se fixaram na placa de metal embutida no peito de Lenny, brilhando com uma luz verde radiante, fios se estendendo em seu corpo.
“O que aconteceu com você?” Arthur perguntou, fingindo uma curiosidade leve, “Achei que você tinha sido preso.”
Lenny riu, balançando a cabeça. “Heh, é isso que todos aqueles bastardos pensaram. Mas adivinhe?” Ele sorriu ainda mais. “Meu antigo amigo Derek sabia que ainda precisava de mim e me trouxe aqui. Disse que eu poderia fazer um ‘serviço humanitário’ para compensar meus crimes.”
Arthur cerrou os dentes, o nojo subindo em seu estômago.
Derek tinha libertado esse monstro.
Lenny sorriu enquanto continuava, “A única desvantagem é que fui designado para trabalhar sob aquela estúpida doutora vadia, Lila. Como se ela fosse melhor do que eu. Mas sabe o quê? Eu fui o mentor por trás do Eternum. E adivinhe?”
Seus dedos tocaram a placa de metal em seu peito.
“Eu até dei o passo nobre de testá-lo em mim mesmo. E olha o que consegui por isso!”
Arthur não disse nada, embora seus punhos se cerrassem atrás de suas costas.
Lenny de repente inclinou-se mais perto, abaixando a voz. “Eu nunca gostei de você antes, garoto, mas agora?” Lenny lambeu os lábios enquanto acrescentava, “Eu sinto que gosto muito de você.” Seu olhar tinha algo de assustador e estranho que fez Arthur se sentir ainda mais desconfortável.
Ele simplesmente olhou friamente, não respondendo às suas bobagens.
O sorriso de Lenny se alargou antes de seus olhos se voltarem para a cela.
“Ohhh, entendi,” ele riu sombriamente. “Você veio aqui para ver essa vadia demoníaca, não foi? Aquela que partiu seu coração?”
Arthur não vacilou, mas Lenny continuou, “Você sabia? Ela podia induzir sentimentos de amor só com o toque? A maioria das pessoas não faz ideia de que sua velocidade não era a única coisa perigosa sobre ela.”
Os olhos de Arthur piscaram ligeiramente.
Seu peito se sentiu apertado.
Ele tinha sido manipulado? Quantas pessoas ao seu redor estavam o enganando?
Anna não podia ouvir o que Lenny disse, mas sentiu a mudança súbita em Arthur.
Ela viu a dor, a dúvida, a decepção nublando seus olhos cor de avelã.
Sua respiração ficou presa na garganta.
“Eu aposto que você quer vê-la sendo punida, não é?” Lenny disse, um brilho sinistro nos olhos.
Arthur já tinha o suficiente dele e estava prestes a dizer algo—
Mas Lenny simplesmente sorriu e pressionou um botão em sua tela de pulso.
“A primeira rodada é por minha conta!”
Um brilho vermelho ofuscante surgiu do colar de metal em torno do pescoço de Anna.
Então—
“AAAHHH!!”
O corpo de Anna se sacudiu violentamente enquanto uma dor excruciante explodia por ela.
Ela colapsou no chão, seus membros espasmando incontrolavelmente enquanto a luz em seu colar se tornava vermelho-sangue.
Seus gritos de agonia, apesar de abafados pelas paredes frias, as atravessaram.
O corpo inteiro de Arthur ficou rígido de horror.
Todos os sentimentos, a dúvida, a confusão—desapareceram. Em vez disso, o que o preencheu foi dor e raiva.
“Ei! Pare com isso!” Arthur virou-se para Lenny com fúria contida, “Você não pode matar uma prisioneira!” Arthur sempre teve a sensação de que Lenny era doente, mas por que ele parecia tão mais perturbado do que nunca?
Lenny suspirou como se Arthur estivesse exagerando, embora seus olhos se estreitassem sutilmente, como se estivesse observando Arthur.
“Relaxa, amiguinho.” Ele sorriu, “Obviamente, eu não vou matá-la. Apenas injetando no corpo dela alguns sopros de mana radiante, garantindo que circule adequadamente.”
Anna gritou novamente, seu corpo se contorcendo.
O coração de Arthur apertou.
Lenny adicionou com uma risada, “Nós vamos consertá-la antes que ela morra. Isso é apenas um favorzinho para você. Você pode me agradecer depois com uma boa bebida.”
O corpo inteiro de Arthur tremia de raiva.
Isso era pior do que demônios.
Isso era monstruoso.
Os punhos de Arthur se cerraram tão fortemente que suas unhas se cravaram em suas palmas, seu corpo inteiro gritando para acabar com Lenny ali e agora.
Um golpe.
Isso é tudo que seria necessário.
Ele poderia parar o sofrimento de Anna.
Ele poderia silenciar para sempre a voz zombeteira desse homem nojento.
Mas então—
Através da torrente pura de agonia, ele a viu.
Anna, quase inconsciente, seus olhos cinza-escuros úmidos e trêmulos, conseguiu erguer a cabeça o suficiente para encontrar seu olhar.
Não.
Sua expressão—frágil, mas firme—falava mais alto do que palavras.
Ela sabia o que ele estava pensando.
Mesmo através da dor, através do tormento que lentamente a consumia, ela podia lê-lo tão facilmente quanto sempre leu.
Ela podia ver sua raiva, sua culpa, seu desespero para fazer algo. Ele era o tipo de homem que nunca ficaria parado enquanto alguém sofre.
E apesar de tudo, ela não queria que ele o fizesse.
Ela ainda se importava com ele.
E ela estava com medo.
Não por ela mesma.
Por ele.
Ela mordeu o lábio com força, suprimindo a dor insuportável, recusando-se a dar a esse monstro feio mais satisfação e não deixar que afetasse Arthur.
Sangue escorreu pelo canto de seus lábios.
O coração de Arthur apertou.
“Uau,” Lenny riu, divertido, mexendo distraidamente em seu dispositivo de pulso. “Ela tem uma resistência à dor louca, você não acha? Talvez devesse haver mais configurações para brincar.”
O corpo inteiro de Arthur tremia, sua respiração ofegante.
Ele queria despedaçá-lo.
Ele queria fazê-lo sofrer.
Mas—
Ele não podia.
Não ainda.
Não agora.
Ele podia ver o que Anna estava tentando lhe dizer silenciosamente.
Lentamente, seus punhos se desenrolaram.
Seu ser inteiro gritava para lutar, mas ele se forçou a expirar.
Se ele lutasse agora—
Ele não apenas perderia contra Derek.
Ele condenaria Anna e todos os outros.
Sua expressão escureceu, seus olhos ficando frios.
“Eu terminei aqui,” Arthur disse, seu tom desprovido de emoção, “Isso foi uma perda de tempo.”
Então, sem olhar para trás, ele se virou e foi embora.
“Ei, já está indo embora?” Lenny chamou atrás dele, desapontamento zombeteiro em sua voz. “Mas estávamos apenas chegando à melhor parte!”
Arthur o ignorou.
Ele continuou andando.
E a cada passo, ele enterrava sua raiva mais fundo.
A cada respiração, ele se forçava a não se virar.
Porque se o fizesse—
Ele não conseguiria se controlar.
Mas os gritos dela ainda ecoavam em sua cabeça.
E ele se odiava por ter ido embora.
–
Arthur caminhava pelos corredores brilhantes da instalação, seus movimentos mecânicos, sua mente um turbilhão interminável de emoções.
Frustração.
Dor.
Impotência.
Seu coração estava batendo forte.
Não de batalha, não de esforço—
De contenção.
Ele nunca se sentiu tão impotente.
Anna estava sofrendo—bem ali.
E ele não fez nada.
Ele teve que cerrar os dentes para se impedir de gritar de frustração.
Quantas vezes ela já passou por isso?
Quanta dor ela suportou sozinha enquanto ele—ele, o tolo que uma vez se achou justo—estava no lado errado?
Mesmo se ela realmente o manipulou a amá-la… ele não se importava mais com isso.
Um gosto amargo encheu sua boca.
Ela nunca teve escolha.
Ela foi criada na escuridão, controlada e moldada em uma arma.
E ainda assim, mesmo assim—ela ainda tinha algo de bom nela.
Ele podia sentir isso.
Ele tinha visto isso.
Isso não pode ser falso.
Mas o que ele poderia fazer?
Seus avós estavam sob vigilância de Derek.
Seus aliados—Grace, Amélia, Yui e Remy—foram capturados.
E seu pai—Cédric, o Príncipe Dourado, Trazedor do Inferno—se foi.
Arthur se sentia perdido.
Pela primeira vez em sua vida, ele não sabia o que fazer.
Mas enquanto caminhava pelos corredores, sua mente acelerada, ele foi subitamente puxado de volta à realidade.
Um som suave ecoou de um pequeno dispositivo de comunicação em seu pulso.
Ele parou.
Uma voz chamou por ele.
“Senhor, o Juiz deseja falar com você.”
Arthur voltou seu olhar para o assistente que se aproximou dele.
Sua mente girava.
O Juiz?
As sobrancelhas de Arthur se franziram ligeiramente antes de dar um aceno lento.
“…Certo,” ele disse, sua voz firme.
O Juiz nunca tinha o chamado pessoalmente antes.
Isso significava—
Arthur exalou.
Talvez ainda houvesse esperança.