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- Capítulo 819 - 819 Nós todos temos coisas das quais nos arrependemos. 819
819: Nós todos temos coisas das quais nos arrependemos. 819: Nós todos temos coisas das quais nos arrependemos. Arthur disparou para o céu, sua figura perfurando o vento enquanto ele fechava os olhos, concentrando toda sua energia na única esperança que lhe restava—a Caçadora.
Ela era a única a quem ele podia recorrer por ajuda, já que as mãos de seus avós estavam atadas.
A Convenção dos Malditos e seus membros eram os únicos que ousariam enfrentar Derek.
Sua respiração estabilizou, seus músculos tensionaram, e ele estendeu seus sentidos, assim como Asher lhe ensinara.
Ele empurrou sua mana para fora, espalhando-a mais longe e mais ampla, estendendo sua consciência por todo o planeta em questão de minutos.
O vento rugia ao seu redor, a atmosfera tremia sob o peso absoluto da sua presença.
Mas—
Nada.
Ele não conseguia sentir nada.
Nem mesmo um traço da mana da Caçadora restava.
O coração de Arthur afundou enquanto ele exalava bruscamente, suas mãos se fechando em punhos.
Ele já esperava esse resultado, pois ela devia estar se escondendo, mas isso não tornava menos desanimador.
Com um olhar desolado, ele deixou-se descer de volta à superfície, seus movimentos lentos, pesados. Ele se vestiu com roupas normais, opacas e simples, enquanto caminhava por uma rua vazia e sem vida, as mãos nos bolsos, o olhar distante.
O sol começava a se pôr.
Sua luz desvanecente pintava o céu em tons de carmesim e dourado, belo mas passageiro.
Como a esperança.
Arthur suspirou profundamente, olhando para o céu.
O que ele deveria fazer a seguir?
Como ele deveria corrigir as coisas?
Suas mãos se apertaram dentro dos bolsos, seus ombros tensos enquanto um sentimento avassalador de culpa pousava em seu peito.
Ele não sabia como fazer isso sozinho.
Mas então—
Um rosto surgiu em sua mente.
Asher. Trazedor do Inferno.
A única pessoa que realmente o ensinou, guiou—mesmo que às vezes fosse frio e duro.
Mesmo que ele fosse um demônio.
A testa de Arthur se franziu. Asher lhe disse algo uma vez.
Para ter cuidado com o que acreditava e em quem confiava. Para nunca seguir ninguém cegamente.
Na época, Arthur achou que Asher estava apenas menosprezando-o. Mas agora…
Será que Asher sabia sobre Derek?
Por que ele estava realmente aqui na Terra?
Por que ele estava ajudando as pessoas comuns, destruindo guildas malignas e derrubando aqueles que abusavam de seu poder?
Um demônio—um ser que Arthur foi treinado para acreditar que era puro mal—poderia realmente ser capaz de fazer o bem?
O coração de Arthur se contorceu com conflito.
Tudo o que ele conhecia, tudo em que confiava—estava desmoronando.
E se Derek—um Caçador, um lendário líder, uma figura paterna—era capaz de tal maldade…
Então, não seria possível também que um demônio fosse capaz de fazer o bem?
Seus pensamentos vagaram para Amélia.
Ela estava fugindo agora. Uma fugitiva.
E ainda assim, ela estava trabalhando para Asher esse tempo todo.
Emiko e Yui também.
Arthur trincou a mandíbula.
Ele conhecia Amélia mais do que os outros.
Ela era valente. Honrada. Arriscou tudo pelo que acreditava que era certo.
Se alguém como ela estava do lado de Asher…
Então tinha que haver uma boa razão.
E talvez—só talvez—ele estivesse lutando a guerra errada o tempo todo.
Mas antes que pudesse pensar mais—
Ele sentiu algo.
Os olhos de Arthur se abriram, seu fôlego travado enquanto um traço fraco, quase imperceptível de mana piscava à distância.
Suas sobrancelhas se franziram.
Familiar. Mas fraco.
Sem hesitação, ele a seguiu.
Seus passos aceleraram, seu coração batendo forte enquanto ele seguia a assinatura de energia através de becos sombrios e estreitos, passando por prédios abandonados, até parar na entrada de uma estrutura degradada e decadente.
Mendigos dormiam ao longo do chão, seus sopros rasgados preenchendo o silêncio.
Arthur passou por eles cuidadosamente, seus movimentos precisos, seus sentidos em alerta máximo.
Quanto mais fundo ele ia, mais escuro ficava—sombras subindo pelas paredes, consumindo tudo ao seu alcance.
Então—
Um súbito flash de luz vermelha.
“Ei!”
Arthur mal teve tempo de reagir antes que seu corpo desaparecesse.
Um puxão agudo. Uma onda de calor.
E então—
Um chão empoeirado e áspero encontrou suas costas.
Arthur imediatamente rolou para ficar de pé, seus músculos se tensando enquanto ele se preparava para lutar.
Mas então—
Seus olhos se arregalaram.
Ele não estava sozinho.
Ele estava dentro de uma velha cabana desgastada, o ar denso com tensão.
E, em pé diante dele—
Eram quatro figuras familiares.
Amélia. Grace Eleanor—a Caçadora. Yui. Remy.
Todos eles olhando para ele com olhos ansiosos e esperançosos. Yui e Remy esperavam que o plano de Grace e Amélia para trazê-lo até aqui não saísse pela culatra, já que não tinham certeza se ele ainda estava do lado de Derek.
No entanto, eles estavam esperançosos, já que Grace lhes dissera que Arthur tinha um coração puro e que ele apenas seguiria e faria o que é certo.
Os lábios de Arthur se entreabriram em choque, sua voz saindo rouca, incrédula.
“V-Vocês todos… Me trouxeram aqui?”
Amélia deu um passo à frente, seu rosto preenchido com algo que ele não via há muito tempo.
Arrependimento.
“Bom ver você de novo, garoto,” ela disse, um pequeno e cansado sorriso nos lábios. “Estou feliz por não ter te espancado até a morte naquele dia.”
Arthur piscou, ainda se recuperando de tudo.
Mas então seu sorriso desapareceu, e ela o olhou com uma honestidade dolorosa e crua.
“Sinto muito. Fui longe demais. Perdemos muito. E fiquei com raiva de não poder fazer nada contra os verdadeiros culpados.”
Arthur abaixou o olhar, balançando a cabeça.
“Não… não há nada pelo que você precise se desculpar,” ele murmurou, sua voz carregada de culpa. “Cometi pecados piores. Eu… Não sei se algum dia poderei desfazer o que fiz. Vocês sabiam a verdade o tempo todo… e mesmo assim eu fui tão cego e estúpido para ver isso.”
Uma mão suave pousou em seu ombro.
Ele olhou para cima e viu os olhos de Amélia, cheios de compreensão.
“Agora não é hora de se afogar em culpa, Arthur,” ela disse firmemente. “Todos nós temos coisas das quais nos arrependemos… coisas que nos assombram todos os dias. Desejando poder mudá-las.”
Arthur desviou o olhar, suas mãos tremendo.
Grace deu um passo à frente, os braços cruzados, sua expressão indecifrável.
“Ela está certa,” disse. “Podemos ficar aqui e falar sobre nosso passado o dia todo… ou podemos fazer algo para deter o verdadeiro mal. Aqueles que cometem pecados maiores.”
Arthur engoliu em seco, seu coração acelerado.
O olhar de Grace se fixou no dele, forte, inabalável.
“O que será, Arthur?”
Seguiu-se um longo e pesado silêncio.
Arthur cerrava os punhos.
Arthur cerrava os punhos, sua voz cheia de determinação quando disse: “Claro que temos que fazer algo. E isso começa com reunir o maior número de aliados possível. O que vocês estavam planejando?”
Grace soltou um suspiro cansado, esfregando a ponte do nariz antes de falar. “Gastamos a maior parte de nossos recursos bombardeando a Torre Nexus e ganhando tempo para nosso mestre. Caso você não saiba, ele é quem nos reuniu para derrubar Derek e todos que trabalham para ele. Sem ele, não teríamos chegado tão longe.”
Arthur estreitou os olhos, sua mente correndo. “Então é realmente verdade…” ele murmurou, o peso de tudo pressionando sobre ele.
Mas então uma pergunta mais profunda pairou em seus pensamentos, uma que ele vinha se fazendo desde que suas suspeitas sobre Derek foram confirmadas.
“Mas por que… Por que ele está ajudando nós humanos?” Arthur perguntou, seu olhar vacilando entre eles. “Por que ele faria algo que só voltaria sua própria espécie contra ele e o afetaria também?”
À sua pergunta, o grupo trocou olhares, suas expressões indecifráveis.
Então, após um momento de hesitação, Amélia finalmente falou. “Desculpe, não podemos dizer o motivo por enquanto. É algo que só ele pode decidir contar a você.”
Arthur franziu a testa. “Mas—”
“O que podemos lhe dizer,” Amélia continuou, cortando-o gentilmente, “é que ele é nossa única chance contra Derek. E… ele é o que mais está motivado a vê-lo cair.”
Arthur estudou seus rostos, tentando decifrar qualquer sinal de engano, mas não havia nenhum. Ele respirou fundo, depois lentamente assentiu.
“Ok… Eu vou acreditar em vocês.”
Por enquanto.
Ele ainda tinha muitas perguntas sem resposta, mas não havia tempo para se debruçar sobre elas. Eles tinham assuntos mais urgentes para lidar.
“Nesse meio tempo,” Arthur disse, seu tom crescendo firme, “deveríamos elaborar um plano para resgatar aqueles que Derek manteve reféns—incluindo Rachel, sua mãe e…” Sua voz vacilou ligeiramente, “minha mãe.”
Com suas palavras, Amélia piscou em confusão. “Sua mãe?”
Arthur assentiu, sua expressão séria, “Meu avo—quer dizer, meu avô me contou a verdade. Minha verdadeira mãe sempre foi Aira… que também é o Oráculo.”
Um silêncio pesado caiu sobre a sala.
“O quê?” Grace murmurou, sua expressão normalmente composta se desmoronando enquanto incredulidade enchia seus olhos.
Yui, Amélia e Remy respiraram fundo, suas reações espelhando a de Grace.
Arthur entendia por que eles estavam tão chocados. Não era algo que ele havia processado totalmente ainda.
“Eu sei…” Arthur disse calmamente, seus dedos se curvando contra a palma. “Ainda sinto como se meu mundo estivesse desmoronando após saber a verdade… incluindo o fato de que meu pai era—”
Sua mandíbula se apertou, sua voz tremendo com dor enquanto ele pronunciava o nome que o assombrava desde que descobriu a verdade.
“Cédric.”
Seu fôlego prendeu.
“E foi Derek quem o apunhalou pelas costas e o matou—conspirando contra ele após ele ter matado o Rei Demônio.”
Seus dentes cerraram, todo o seu corpo rígido de raiva e luto.
Com suas palavras, um estranho silêncio preencheu a sala.
Arthur olhou para cima e, para sua confusão, encontrou os outros olhando para ele com expressões amplas e indecifráveis.
“…Não pode ser…” Amélia murmurou, trocando olhares com Grace e os outros.
As sobrancelhas de Arthur se franziram. “O quê? O que há de errado?”
Eles não estavam apenas chocados. Suas expressões eram conflituosas demais, como se estivessem lutando com algo muito mais profundo.
Então Grace soltou um longo suspiro, seus olhos castanhos se fixando em Arthur.
“Arthur…” ela disse cuidadosamente, sua voz carregando um peso que fez seu estômago revirar. “Talvez você deva saber, afinal.”
O coração de Arthur bateu mais rápido. “Saber o quê?”
Grace hesitou por apenas um segundo antes de dizer algo que destruiu completamente o mundo de Arthur.
“Que seu pai está vivo mas… como um demônio que todos conhecem como Trazedor do Inferno.”
O fôlego de Arthur parou.
Todo o seu corpo congelou.
Seus olhos se arregalaram em total descrença, seu coração batendo tão forte que ele podia ouvi-lo em seus ouvidos.