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- Capítulo 812 - 812 Tornou-se Exatamente Aquilo que Odiava 812 Tornou-se
812: Tornou-se Exatamente Aquilo que Odiava 812: Tornou-se Exatamente Aquilo que Odiava Os ventos secos dos ermos de Zalthor uivavam pelo deserto desolado, girando poeira e areia ao redor deles enquanto Rebecca, ainda tremendo do Olhar da Agonia, de alguma forma se forçou a ficar de pé.
Suas pernas pareciam chumbo, sua respiração era ofegante, mas ela se recusou a desabar. Não na frente dele. Não na frente do homem que ela uma vez viu como nada mais do que uma casca descartada, um brinquedo para as frustrações de seu filho.
E agora?
Agora ele era o único a olhá-la assim.
Como se ela fosse algo frágil. Algo lamentável.
Seus olhos vermelhos arrepiavam de raiva, mesmo quando uma dor profunda e não expressa se enroscava no fundo de seu estômago.
“Não me olhe assim…” Sua voz saia entre dentes cerrados, seus punhos se fechando ao seu lado. “Como se eu fosse algum tipo de criatura lamentável. Eu suportei tudo e cheguei até aqui para que eu pudesse ser a que dá esses olhares. Não o contrário.”
Asher inclinou a cabeça levemente, sua expressão ilegível. Mas seu olhar penetrante a cortava como uma lâmina, pesado e consciente.
Então, sua voz surgiu, calma e cortante, rompendo o ar tenso.
“Então me diga, Rebecca—isto te fez feliz?”
Rebecca endureceu, seus lábios pressionados formando uma linha fina.
Mas Asher não havia terminado.
Ele deu um passo lento e deliberado para a frente, seus olhos se fixando nos dela.
“Tornar-se aquela que dá esses olhares? Como você olhou para mim durante aqueles anos em que seu filho torturava meu eu indefeso?”
Suas palavras atingiram como um soco no estômago.
“Você se tornou exatamente o que você desprezava.”
Sua respiração engasgou.
Seus dentes se cerraram, ela engoliu o nó em sua garganta.
Mas ainda assim—ela se forçou a encará-lo, a manter sua voz firme.
“Talvez eu tenha me tornado aquilo que eu odiava.” Suas mãos tremiam, mas ela as fechou em punhos. “Mas isso me manteve viva. E eu com certeza não iria morrer como uma vítima, especialmente nas mãos de minha Casa.”
Um escárnio amargo saiu de seus lábios, seu tom gotejando de ressentimento.
“Eu provei a eles que não preciso deles ou de ninguém para me tornar mais forte do que eles poderiam imaginar sem seguir seus caminhos estúpidos.”
Asher a estudou por um longo momento antes de estreitar os olhos levemente.
Então, ele falou novamente.
“É por isso que você desesperadamente queria um filho seu?”
Rebecca congelou.
Um tremor suave percorreu sua espinha, mas Asher continuou, sua voz firme, inflexível.
“Alguém que te amaria pelo que você é, e não te olharia da maneira que sua família fazia?”
Os olhos de Rebecca cintilaram com algo indecifrável.
A voz de Asher baixou mais, seu tom impregnado com uma finalidade consciente.
“Porque ele veio de você sozinha, ele é quase como seu gêmeo. Vocês dois se parecem tanto que você estava confiante de que ele seria capaz de se conectar mais com você. Talvez essa seja outra razão pela qual você nunca quis usar um homem para ter um filho.”
Ela soltou um riso cortante—mas sua respiração engasgou pela metade.
Uma rachadura. Uma rachadura leve na máscara que ela usava há anos.
“Tch. E daí se você está certo?” Sua voz não era mais tão afiada, “Isso não muda nada.”
Seus braços cruzaram-se firmemente contra seu peito, como se se protegesse.
“Eu garanti que ele nunca teria que passar pelo que eu passei. É por isso que eu…” Ela engoliu em seco.
E então—
Ela admitiu.
“É por isso que eu deixei ele te torturar.”
O vento do deserto pareceu uivar mais alto, como se reagindo às suas palavras.
“Você era o único obstáculo no caminho dele para realizar todos os nossos desejos. Mas não podíamos nos livrar de você por causa daquele bastardo Zane, que, por alguma razão estranha, deixava as pessoas te torturarem. No entanto, eu queria que Oberon descontasse sua frustração e a minha em você.”
Seus olhos brilhavam com algo frágil—algo quase quebrado.
“Tudo que você fez foi dormir como um príncipe, e mesmo assim você conseguiu tudo que meu filho sempre quis sem mover um dedo. Eu não sabia mais o que fazer para fazer meu filho se sentir melhor. É por isso que eu até considerei ter você assassinado silenciosamente.”
Silêncio.
Um silêncio tão pesado que parecia sufocante.
Por muito tempo, Asher sentia apenas ressentimento fervente sempre que se lembrava dessas memórias—a dor, a impotência, a zombaria, o riso cruel de Oberon, e o sorriso sádico desta mulher enquanto ela assistia a tudo.
Mas agora?
Agora, enquanto ele olhava para ela—ele sentia apenas piedade.
Ele conseguia ver agora.
A maneira como ela lutava, não apenas contra os outros, mas contra si mesma. A maneira como ela viveu sua vida inteira se sentindo não amada, indesejada.
Não valia mais a pena desabafar sua raiva sobre ela.
Sua voz estava quieta, mas carregava um peso que a esmagava mais profundamente do que qualquer lâmina poderia.
“Você passou todo esse tempo garantindo que ele nunca se sentisse fraco, mas no final, a única coisa que você ensinou a ele foi como culpar os outros pelo que ele carecia.”
A garganta de Rebecca apertou.
“E agora?” Asher continuou, seu olhar forte como adagas.
“Ele está mais fraco do que nunca, e por sua causa, ele agora compartilha do vazio e da impotência que você sente.”
Sua respiração tremia.
“Boa sorte vivendo com isso.”
Ele se virou.
E andou.
Rebecca olhava para suas costas, seus olhos tremendo, seu peito se contraindo.
As palavras dele cortaram mais profundamente do que ela pensava ser possível.
Os lábios dela se separaram, como se fosse dizer algo — mas nada saiu.
O peso em seu coração a esmagava por dentro.
Ela sabia.
No fundo, ela sempre soube.
Um suspiro trêmulo escapou de seus lábios enquanto ela cerrava os punhos.
Um sussurro quieto, quase quebrado, escapou de sua garganta.
“…Maldito sejas.”
Ela pretendia parecer zangada.
Ela pretendia parecer desafiadora.
Mas tudo o que ouviu foi derrota.
E isso a aterrorizou.
Ela o viu se afastar, sua figura diminuindo ao longe.
O peito dela estava apertado. Muito apertado.
Por quê?
Por que parecia que, se o deixasse ir agora —
Ela ficaria sozinha de novo?
Os dentes dela cerrados, as unhas cravando nas palmas das mãos.
Ela se forçou a ficar parada.
Para não chamar.
Para não —
Os lábios dela tremiam.
E então —
Ela se desfez.
“Espere! Você prometeu que me deixaria seguir você depois disso!”
Sua voz cortou o vento, quase desesperada, embora ela controlasse no último segundo.
“Eu ainda preciso garantir que você não vai relaxar!”
Asher parou.
Brevemente.
Então —
“Eu nunca te prometi nada.” Sua voz estava calma, indiferente. “Mas eu também não disse para você não me seguir. Mas se você fizer isso… Eu não vou deixar você ir embora até que eu ache conveniente.”
E então ele continuou andando.
Rebecca piscou.
E então — um pequeno suspiro escapou de seus lábios.
Não era muito.
Mas foi o suficiente.
Os pés dela se moveram antes que ela pudesse impedi-los.
Ela respirou fundo —
E seguiu.
Asher sentiu a presença dela seguindo-o, mas ele não a impediu.
Ele sabia que deveria.
Ele sabia que deveria tê-la rejeitado completamente, deixado-a para trás no deserto onde ela poderia se virar sozinha.
Ela era perigosa. Uma mulher como Rebecca nunca poderia ser totalmente confiável.
E ainda assim…
Por algum motivo, ele permitiu.
Seus dedos tremiam levemente, sua mente passando por todas as possibilidades, cada razão pela qual ele não a cortou completamente.
Seria apenas porque ela ainda poderia ser útil?
Essa era a explicação mais lógica.
Ele não podia negar que ela era poderosa, astuta e engenhosa. Ela havia suportado anos de dor e sofrimento, e ainda assim se mantinha de pé, sua força de vontade inabalável.
Mesmo que ele não estivesse tentando matá-la, ela estava disposta e ainda suportava seu Olhar da Agonia — uma façanha que teria deixado a maioria das mentes despedaçadas além do reparo.
Ela era forte. E ele precisava de pessoas fortes, especialmente para o que estava por vir.
Ou…
Ele havia sido movido por algo mais?
Pela maneira como ela havia exposto sua vulnerabilidade e sinceridade para ele, mesmo que apenas por momentos?
Por que ele se sentia mal pelo que aconteceu com ela?
Não.
Esse pensamento o irritava. Ele não era do tipo que simpatizava com alguém como ela.
Ele não tinha motivo para isso.
E ainda assim, lá estava ela, caminhando atrás dele, ainda se recusando a deixar seu lado.
Ele soltou um suspiro silencioso, balançando a cabeça levemente.
Talvez mantê-la por perto fosse a melhor maneira de garantir que ela não o apunhalasse pelas costas.
Ou talvez —
Ele estivesse apenas esperando pelo momento certo para ver o que ela realmente queria.