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- Capítulo 808 - 808 Não Um Tolo Mas Alguém Que Sofreu 808 Não Um Tolo Mas
808: Não Um Tolo, Mas Alguém Que Sofreu 808: Não Um Tolo, Mas Alguém Que Sofreu O ar na sala congelou no momento em que Isola terminou de falar.
Um silêncio ensurdecedor se estabeleceu sobre eles como um peso sufocante. Nem mesmo o som da respiração enchia o espaço.
Merina, Silvia e Sabina ficaram ali como se transformadas em pedra, suas expressões uma mistura de descrença, choque e algo que ainda não conseguiam nomear.
As luzes penduradas não tremiam, como se hesitassem em perturbar a imobilidade.
Então—
“Você…”
A voz de Sabina rompeu o silêncio, mas não era seu tom usual, sedutor e provocador.
Era trêmula.
“Você… Você não está blefando, está? Isso é algum tipo de piada para esconder a verdade real? Como espera que acreditemos que um Caçador ocupou o corpo de um demônio sem alma? Como isso seria possível?!” Sabina perguntou com um olhar de descrença, como se não pudesse sequer compreender.
Isola não se abalou.
Ela simplesmente assentiu e disse, “Eu sei quão inacreditável isso soa, mas esta é a verdade. É isso que tem assombrado ele desde que passou a se importar conosco. Ele não podia contar a ninguém, e eu só soube disso por acaso.”
Silvia, que tinha estado olhando para o chão, de repente murmurou.
“Ela… ela está mesmo dizendo a verdade…” Silvia engoliu em seco, sentindo como se não conseguisse respirar.
O peso da revelação afundou em seus ossos.
As mãos de Merina estavam agarradas firmemente nas pontas de sua saia, seus olhos tremiam antes de ela silenciosamente sair, para a surpresa de Sabina e Silvia.
“Merina, para onde você está indo?” as sobrancelhas de Sabina se franziram em confusão.
Silvia se virou também, seus lábios se abrindo, “M-Merina?”
Merina não respondeu.
Seus dedos tremiam, seu aperto ao redor do tecido de sua saia apertava.
Ela não confiava em si mesma para falar.
Porque se o fizesse—
Ela poderia despedaçar-se.
O coração de Isola apertou.
Ela sabia por que Merina estava saindo.
“(Voltarei logo)” Isola disse enquanto seguia a trilha de Merina.
“Ela deve estar chocada demais para saber que seu mestre era um Caçador. Afinal, sua família foi morta por Caçadores. Ela nunca mostra, mas seu ódio pelos humanos é mais profundo do que qualquer um de nós.” Sua voz se suavizou um pouco, embora ela mantivesse os braços cruzados, e um vislumbre de preocupação apareceu em seus olhos.
“Sabina, você… você não está chocada com isso? Que nosso marido era um humano… o próprio Caçador que foi um terror para o nosso mundo? Silvia ainda se lembra do pânico que se seguiu após Príncipe Dourado facilmente reduzir uma de nossas cidades a cinzas durante uma missão. Tantas pessoas morreram. Silvia ouviu os anciãos sussurrando sobre ele… sobre como até mesmo os mais fortes entre nós caíram como moscas diante dele. Naquele dia, percebemos que ele não era apenas mais um Caçador…”
Suas mãos se apertaram ainda mais, seu pequeno corpo tremendo, “Ele era um monstro para todos nós.”
As palavras de Silvia deveriam ter sido repletas de raiva ou nojo.
Mas, em vez disso, sua voz rachou—não com ódio, mas com dor.
Porque ele era aquele monstro.
O homem que a segurou, fez amor com ela, a fez se sentir especial…
O homem que ela amava.
Ela levantou o olhar para Sabina, buscando algum tipo de resposta.
Mas, em vez disso—
“Fufufufu~”
Sabina riu.
Uma risada lenta, sedutora, escura e divertida, deslizando de sua língua como uma melodia feita para provocar.
“Oh, Silvia~” ela riu, inclinando a cabeça com um sorriso divertido, “Por que eu estaria chocada com algo tão delicioso?”
O fôlego de Silvia falhou ao dar um pequeno passo para trás, “D-Delicioso…?” ela ecoou, sua voz mal acima de um sussurro.
O sorriso de Sabina se alargou, suas presas cintilando.
“Nosso poderoso rei alienígena uma vez foi o maior guerreiro deles, sua esperança mais brilhante,” ela riu, seus dedos traçando padrões preguiçosos ao longo de sua clavícula, “E agora?” Seus olhos fantasmagóricos vermelhos brilhavam enquanto ela lambia os lábios, “Agora, ele é nosso.”
Silvia engoliu em seco. Seu coração batia tão rápido que doía.
“Como… como você pode dizer isso tão facilmente?” ela sussurrou, suas mãos pequenas tremendo.
Os olhos de Sabina se estreitaram levemente enquanto ela se aproximava, “Me diga, pequena Silvia” ela murmurou, inclinando o queixo de Silvia para que seus olhos se encontrassem, “Saber disso faz você amá-lo menos?”
Os lábios de Silvia se abriram levemente, mas nenhum som saiu.
Seu corpo congelou.
Porque a resposta deveria ter sido sim.
Mas não foi.
Ela ainda o amava.
Mesmo sabendo o que ele era, o que ele havia feito—seu coração não parava de doer por ele.
Sabina sorriu ao ver a realização nascer nos olhos largos e brilhantes de Silvia.
“Você vê?” ela sussurrou, suas unhas traçando sob o queixo de Silvia, “Não importa o que ele era. Porque ele é nosso agora.”
O fôlego de Silvia tremia, suas emoções em tumulto.
“É assustador,” ela admitiu suavemente, sua voz frágil, “Pensar nisso faz o estômago de Silvia se sentir estranho, e seu peito apertado. Silvia não quer acreditar que ele poderia ter sido aquela pessoa…”
Seus dedos agarravam seu vestido, seu rosto delicado contorcido em angústia.
“Mas mesmo que seja verdade…” ela sussurrou, sua voz tremendo mas resoluta, “S-Silvia ainda a-a-a,” ela sussurrou, sua voz tremendo mas firme, “S-Silvia ainda o a-a-ama.”
O sorriso de Sabina vacilou levemente, como se ela não esperasse que Silvia admitisse isso tão abertamente.
Silvia continuou, sua voz mal acima de um sussurro, “Silvia não quer que ele a deixe…”
Seus delicados caninos mordiam seu lábio inferior, seus olhos vermelho rubi brilhando com algo cru e vulnerável enquanto ela se lembrava de todos os momentos íntimos que havia compartilhado com ele, “Silvia não se importa se ele já foi humano, ou um Caçador, ou mesmo a pessoa mais terrível do mundo. Não é quem ele é agora, como Isola nos disse.”
Ela levantou o olhar, sua expressão determinada apesar da incerteza em seu coração.
“Ele é o Asher de Silvia,” ela disse, voz firme. “E Silvia nunca vai deixá-lo ir.”
Por uma vez, Sabina ficou em silêncio.
Então—seus lábios se curvaram em um sorriso lento e satisfeito.
“Bem, bem~” ela ronronou, diversão piscando em seus olhos. “Parece que minha jovem senhora tem, afinal, uma coluna bastante firme.”
Silvia corou, mas não desviou o olhar.
Sabina soltou uma risada sedutora, jogando o cabelo por cima do ombro. “Eu tenho que admitir, isso foi adorável. Mas não pense muito nisso, doce coisa.”
Ela se inclinou, sussurrando no ouvido de Silvia, “Não importa que tipo de monstro ele era.”
Sua voz era como seda, como veneno.
“Porque, no fim das contas…”
Ela sorriu, presas reluzentes.
“Ele ainda é o monstro que nós amamos.”
–
Merina ficou sozinha, de costas para o mundo, seus dedos enrolados firmemente em suas mangas.
A brisa fresca da noite agitava seus cabelos negros, mas ela não se movia.
Ela não podia.
Seu coração batia violentamente contra suas costelas, suas emoções uma tempestade incontrolável ameaçando transbordar.
A verdade que ela acabara de aprender estava a sufocando.
Seu mestre—o homem a quem ela havia se dedicado a servir, o que ela havia seguido com lealdade inabalável, que ela havia se importado mais do que ela jamais admitira…
Era uma vez um Caçador.
Um inimigo mortal para a sua espécie.
Um homem que uma vez caminhou pela terra como um dos muito seres que tirou tudo dela.
“Merina.”
Uma voz cortou o silêncio, suave mas firme.
Isola.
Merina fechou os olhos, preparando-se.
Ela não se virou enquanto Isola se aproximava, sua presença suave, mas inabalável.
Por um longo momento, nenhuma das duas falou.
Finalmente, Merina exalou agudamente.
“Você não precisa se preocupar comigo. O segredo dele está seguro comigo, pois ainda sou sua escrava,” disse Merina em voz baixa e dolorida.
Isola parou a alguns metros atrás dela.
“Não, nunca me preocupei com isso e não é por isso que estou aqui,” ela respondeu simplesmente.
Merina soltou uma pequena e seca risada, balançando a cabeça.
“É bastante estranho, não é?” ela murmurou.
Ela apertou os punhos com mais força, suas unhas pressionando contra as palmas das mãos.
“Eu costumava pensar que o maior pecado que alguém poderia cometer era trair seu próprio povo.”
Sua voz tremia, crua de emoção.
“E ainda assim, aqui estou eu… percebendo que aquele em quem eu mais confiava… é alguém que eu deveria ter desprezado.”
Isola não respondeu imediatamente.
Ela deixou as palavras se assentarem, afundando profundamente no silêncio.
Então, ela deu um passo à frente.
“Você realmente acredita nisso?” ela perguntou suavemente.
Merina estremeceu.
Seus lábios se entreabriram—pronta para dizer sim.
Para se apegar ao ódio que havia silenciosamente carregado em seu coração.
Mas ela hesitou.
Porque ela não tinha certeza.
Isola suspirou.
“Você o conhece há mais tempo, Merina,” ela continuou, sua voz carregava uma força silenciosa, “Mais do que qualquer outra pessoa aqui.”
“Então pergunte a si mesma—o homem a quem você serviu, alguma vez foi o tipo de Caçador que você odiava?”
A respiração de Merina estremeceu.
“Ele alguma vez olhou para você da maneira que aqueles humanos olharam?”
O corpo de Merina enrijecido.
A memória daqueles rostos cruéis e distorcidos—os humanos que haviam levado sua família, sua casa, tudo—passou diante de seus olhos.
A zombaria.
O desprezo.
O ódio puro e sem filtro.
Mas Asher…
Ele nunca olhou para ela assim.
Nunca.
Em vez disso—
Ela se lembrou de seu calor e bondade quando todos os outros a detestavam.
A suavidade em sua voz quando ele falava o nome dela.
A maneira como ele sempre lhe dava uma escolha e a fazia feliz, mesmo quando detinha poder sobre sua vida.
A maneira como ele a protegia.
Não porque ela era útil.
Não porque era conveniente.
Mas porque ele se importava.
A garganta de Merina apertou.
“Não…” ela sussurrou, quase para si mesma.
Isola deu um passo para mais perto.
“Você não serve a um Caçador,” ela disse gentilmente.
Sua voz carregava uma certeza que Merina não conseguia compreender por si mesma.
“Você serve a Asher. Você se importa com ele e… você o ama.”
Os ombros de Merina tremiam.
Ela cerrava os dentes, tentando suprimir a onda de emoção que a sobrecarregava.
O olhar de Isola se suavizou.
“E ele não é nada como os monstros que levaram tudo de você.”
Aquelas palavras quebraram algo dentro de Merina.
Algo que ela havia se agarrado por tanto tempo.
Um longo e trêmulo suspiro saiu de seus lábios, enquanto ela finalmente—finalmente—se permitia ver a verdade.
Seu mestre nunca foi um deles.
O homem que ela amava e seguia não era seu inimigo.
Ela sabia disso.
Sempre soube.
Lágrimas brotaram na beira de seus olhos azul-escuros, embaçando sua visão enquanto seus lábios tremiam.
Mas então—um sorriso triste, quente e suave curvou seus lábios.
Era uma coisa frágil, repleta de dor e realização ao mesmo tempo.
Seus dedos pressionaram levemente sobre o peito como se tentassem agarrar as emoções que surgiam dentro dela.
Ela deixou escapar um suspiro trêmulo, sua voz mal acima de um sussurro.
“Eu fui uma tola, não fui?” ela murmurou, seus olhos marejando de lágrimas não derramadas. “Por um momento… deixei meu ódio me cegar. Deixei ele me fazer esquecer o tipo de homem que meu mestre realmente é.”
A culpa em sua voz era evidente, crua e sem filtros.
A expressão de Isola se suavizou enquanto ela balançava a cabeça, se aproximando.
“Não, Merina,” ela disse gentilmente. “Você não foi tola. Você é apenas… alguém que sofreu.”
Os lábios de Merina se entreabriram levemente, mas nenhuma palavra saiu.
“É natural,” Isola continuou, sua voz calma e compreensiva.
“Depois de tudo que você passou… depois de tudo que os Caçadores levaram de você, como você não poderia se sentir assim? Ninguém a culparia por isso. Nem mesmo ele.”
Merina deixou escapar uma risada quebradiça, uma mistura de alívio e tristeza, enquanto lentamente concordava com a cabeça.
Lágrimas escorreram por suas pálidas bochechas, resplandecendo como minúsculas gotas de arrependimento.
“Mesmo depois de conhecer a verdade, ainda não consigo parar de chorar,” ela admitiu com uma risada amarga e suave. “Devo parecer patética.”
Mas Isola apenas sorriu enquanto estendia a mão gentilmente, puxando Merina para um abraço confortante e quente.
Merina congelou por um momento, seu corpo rígido—então, lentamente, ela se aconchegou ao abraço, segurando em Isola como se se agarrasse a algo que a ancorava.
“Você não é patética. Você é como uma mãe para mim, e cuidou dele mais do que qualquer um de nós,” Isola sussurrou, segurando-a perto.
Ela podia sentir os respirares silenciosos e trêmulos de Merina contra seu ombro.
“Se fosse por alguma coisa, Asher ficaria emocionado,” ela acrescentou suavemente. “Saber que mesmo depois de conhecer seu passado… você ainda o ama e se preocupa com ele.”
Os dedos de Merina se apertaram levemente contra as costas de Isola, suas lágrimas silenciosas encharcando o tecido de seus trajes.
Porque ela sabia que Isola estava certa.
Não importa o que Asher tenha sido antes—
Ele era o mestre dela agora.
Ele era o mundo dela.
E isso nunca mudaria.