- Home
- O Demônio Amaldiçoado
- Capítulo 803 - 803 O Guardião Imortal 803 O Guardião Imortal Luna deu um
803: O Guardião Imortal 803: O Guardião Imortal Luna deu um passo para trás, sua mana crepitando fracamente ao redor dela, sua mente lutando para compreender o que acabara de ser dito.
“Como isso é possível?” ela murmurou, balançando a cabeça em descrença.
“Humanos existindo em um mundo como o nosso? Mana Radiante nem deveria ser capaz de existir aqui.”
Lupus se manteve composto, suas mãos entrelaçadas atrás das costas enquanto ele olhava para as veias pulsantes de energia dentro da torre.
“Você está certa,” ele disse, sua voz calma mas carregando o peso da revelação, “Mas nosso mundo nem sempre foi a terra moribunda que conhecemos agora. A decadência que você vê—os ciclos intermináveis de destruição—nem sempre foi assim. Há centenas de milhões de anos, este mundo era quase perfeito, um paraíso que poderia sustentar mana radiante, e não havia uma partícula de escuridão. Como mais você acha que aqueles humanos imortais conseguiam viver aqui?”
Os olhos de Luna cintilaram com turbulência, seus pensamentos acelerados.
“Você está dizendo que os Primeiros Demônios chegaram milhões de anos depois que eles desapareceram?” ela perguntou, ainda lidando com a enormidade do que ele estava dizendo, “Como seres tão poderosos poderiam apenas… desaparecer sem deixar rastro?”
Lupus exalou lentamente, sua expressão escurecendo, “Eles não desapareceram sem deixar rastro. Seus remanescentes existem, espalhados e esquecidos, escondidos sob o peso do tempo e enterrados em lugares que poucos ousam pisar.”
Ele deu um passo lento para a frente, as linhas de força carmesim do arranjo ritualístico lançando sombras estranhas sobre seu rosto real.
“Na verdade, ainda existe um ser daquela era que ainda existe até hoje.”
Luna endureceu, suas sobrancelhas franzindo, “Um deles ainda está vivo?”
Lupus deu um aceno lento, seus olhos se estreitando levemente, “Não vivo, mas não exatamente morto,” ele corrigiu, “Ele existe como um morto-vivo, um guardião de algo que nenhum de nós realmente compreende.”
A mente de Luna acelerou com as implicações.
“Um morto-vivo com centenas de milhões de anos de idade?” ela murmurou para si mesma, a pura impossibilidade fazendo seu estômago se contrair.
Imortalidade já era um conceito assustador, mas um ser morto-vivo dessa antiguidade?
A mera ideia fez seus instintos gritarem.
“Isso não pode ser possível… a menos que ele fosse verdadeiramente um imortal para começar,” ela sussurrou antes de virar seu olhar penetrante para Lupus, “Quem era ele? E quão forte ele é comparado a você?”
A expressão de Lupus era de reverência absoluta enquanto ele respondia,
“Eu não ousaria me comparar a ele,” ele admitiu, “Ninguém neste mundo, nem mesmo os mais fortes entre nós, pode se equiparar a ele. Se ele quisesse, ele poderia aniquilar todos nós sem esforço.”
O fôlego de Luna foi interrompido em sua garganta.
Ela havia lutado contra os maiores guerreiros deste mundo. Ela havia visto monstros de poder inimaginável—seres cuja própria presença poderia abalar os alicerces de reinos.
E ainda assim, seu avô, o reverenciado Guardião da Lua, um dos seres mais poderosos que ela conhecia—estava dizendo que existia um ser além de sua compreensão? Em seu mundo?
“Você está dizendo que há um morto-vivo imortal forte o suficiente para nos exterminar, e ele tem se escondido em segredo todo esse tempo?” A voz de Luna estava baixa, cautelosa, “Por quê? Como ninguém sabe sobre ele?”
Lupus cruzou os braços, seu olhar se desviando para as linhas de força pulsantes que alimentavam o brilho carmesim do Ceifador do Vácuo.
“Porque não é seu propósito ser conhecido,” Lupus murmurou. “Sua existência só foi lembrada por aqueles que deveriam saber. O Primeiro Guardião da Lua de alguma forma chegou a conhecer sobre sua existência, e esse conhecimento foi passado adiante.”
Luna o encarou, atônita.
“Então o que ele está fazendo? Qual é o propósito dele?”
A expressão de Lupus escureceu levemente.
“Ninguém sabe,” ele admitiu, “Mas as lendas de nossos antepassados o chamam de Guardião Imortal. Dizem que ele permanece sob as ruínas da cidade dos imortais, uma cidade que antecede tudo o que conhecemos. Lá, ele espera… ou talvez, ele vigie.”
Os dedos de Luna se contorceram, uma onda de energia inquieta correndo por ela,
“E o que exatamente ele está esperando por?”
Lupus balançou a cabeça, “Essa é uma pergunta que talvez nunca respondamos. Tudo o que sabemos é que qualquer um que já tropeçou nessas ruínas ou sobre ele… nunca mais voltou.”
A mandíbula de Luna se apertou, “Então ele não gosta de visitantes,” ela murmurou, sua mente ainda lutando para aceitar a gravidade do que acabara de aprender.
Mas algo ainda não estava se encaixando.
Seu olhar se endureceu enquanto ela levantava o queixo.
“Mas o que tudo isso tem a ver com o que você está tentando fazer aqui?” ela exigiu. “Você está canalizando algo através dessa chave—o Ceifador do Vácuo. E eu já sei pelas minhas visões que o que quer que você esteja fazendo vai liberar algo maligno.”
Ela deu um passo mais perto, sua voz caindo em um sussurro mortal, “Por quê?”
Lupus a encarou, silencioso.
Então, lentamente, ele virou seu olhar para o Ceifador do Vácuo, o brilho carmesim da lâmina refletido em seus olhos.
“Digamos apenas… que é um mal necessário por nosso bem.”
Os punhos de Luna se cerraram, “Isso não é uma resposta.”
O olhar de Lupus se aprofundou, mas seu tom permaneceu composto.
“É a única resposta que posso te dar por agora,” ele disse, “Eu te direi tudo quando for a hora. Mas até lá…”
Ele se aproximou, sua presença imponente pairando sobre ela, “Você terá que honrar o acordo que fizemos e me ajudar a completar esse ritual.”
A respiração de Luna veio lenta e constante, mas sua mente estava em fúria.
Ela não gostava. Ela odiava ser mantida no escuro.
E ainda assim…
Ela não tinha escolha.
Seu relâmpago cintilou uma vez, refletindo a turbulência dentro dela, antes de ela dar um aceno lento.
Por enquanto, ela esperaria.
Mas se seu avô estava realmente prestes a liberar algo além de sua compreensão—
Ela estaria pronta.
—
Oberon Drake caminhava pelas ruas mal iluminadas do Reino Nightshade, seu corpo envolto em uma capa preta esfarrapada que ocultava suas feições outrora orgulhosas. Ele mantinha seu capuz baixo, seus passos lentos e deliberados, não querendo ser reconhecido—não que muitos o fariam.
Suas mãos se cerraram em punhos sob o tecido.
“Um traidor.”
Era isso que o chamavam, o que ele tinha que se tornar. E ainda assim, aqui estava ele, caminhando entre as mesmas pessoas cujos olhares uma vez detinham medo e respeito por ele. Agora, se soubessem quem se escondia sob a capa, seus olhos arderiam com ressentimento em vez disso.
Sua mãe queria que ele ficasse aqui até que ela encontrasse um lugar mais seguro, e sua tia, Esther, estava garantindo sua sobrevivência.
Mas sobrevivência para quê?
Seu reino havia desaparecido, seu status arrancado, e o poder que outrora detinha não significava mais nada. Ele não era mais um príncipe nem um homem de valor. Ele estava apenas… aqui. Tudo que ele tinha agora era sua mãe.
À medida que caminhava mais fundo pelas ruas, o cheiro de madeira queimada, corpos sujos e desespero preenchiam o ar. Esta parte do reino se tornara um abrigo para refugiados do Bloodburn, aqueles que haviam perdido suas casas, suas famílias — tudo.
A visão deles o consumia.
Eram seu povo, e vê-los reduzidos a este estado o perturbava mais do que ele jamais esperou. Ele nunca havia se importado com eles antes, então por que estava se sentindo assim?
Seu olhar pousou sobre um garoto pequeno e frágil sentado ao lado de uma mulher cujas pernas eram apenas cotos murchos, cicatrizes e queimaduras marcando os lugares onde antes existia carne. Ela nem era tão velha assim, mas seus olhos estavam ocos e ao mesmo tempo cheios de amor feroz enquanto estendia as mãos trêmulas.
Era óbvio que ela tinha ficado aleijada por causa da guerra.
O garoto, com não mais de sete ou oito anos, estava cuidadosamente alimentando-a com pequenos pedaços de pão velho, com as mãos trêmulas, mas decididas.
Oberon ficou ali, paralisado, a respiração presa na garganta.
A cena era dolorosamente bela e deixou uma fenda em sua já despedaçada alma.
E então—
“Seu pequeno ladrão! Você ousa roubar de mim?!”
Um goblin robusto, de pele verde, atirou-se contra o garoto, agarrando-o pelo colarinho e levantando-o do chão.
A criança soltou um grito de terror, a mãe meio aleijada desesperadamente tentando alcançá-lo.
“P-Por favor!” o garoto arfou, sua voz fina. “Eu só queria alimentar minha mãe! Nós não temos nada —”
“Seu rato imundo! Você ousa roubar de mim?” o goblin rosnou, seus dentes amarelados exibidos em fúria.
A mãe jogou-se aos pés do goblin, seu corpo frágil curvando-se, testa pressionando contra a sujeira.
“Eu imploro a você, senhor bondoso! P-Punam a mim em vez disso, não ao meu filho! Por favor… ele só queria me manter viva —”
Suas palavras foram cortadas quando o goblin a chutou rudemente para longe, fazendo seu frágil corpo se esparramar no chão frio.
A respiração de Oberon se prendeu. Suas mãos tremiam, sua visão escurecendo.
E antes que pudesse sequer pensar—
Ele se moveu.
O som de carne colidindo com carne ecoou no ar enquanto a palma de Oberon atingia o rosto do goblin, mandando-o voando para trás.
O goblin caiu sobre a estrada de pedra, seu corpo quicando uma vez antes de deslizar até parar, tossindo sangue.
Os refugiados em volta congelaram, olhos arregalados, bocas entreabertas enquanto viravam em direção ao estranho encapuzado que acabara de derrubar o assustador goblin com facilidade.
O menino tremia, seus olhos arregalados se movendo de seu salvador para o goblin imóvel. Sua mãe, meio em choque e meio com medo, só podia olhar.
O goblin levantou seu rosto ensanguentado, seus olhos amarelos preenchidos de terror.
“V-Você… Quem diabos é você?” ele arfou.
Oberon não respondeu.
Em vez disso, ele alcançou seu manto, puxou um único cristal de vida e o jogou no chão diante do goblin.
“Pegue. E corra antes que eu mude de ideia.” Sua voz estava fria, final.
Os olhos do goblin se inflamaram com avidez ao ver o cristal. Esse cristal valia pelo menos 1000 vezes mais do que o menino havia roubado!
Sem hesitar, ele se pôs de pé rapidamente, agarrou o cristal e desapareceu beco adentro sem olhar para trás, aceitando o tapa brutal que recebeu como um preço generoso junto ao ganho de um cristal de vida.
Assim que ele se foi, o menino e sua mãe viraram-se para Oberon, suas expressões cheias de admiração e gratidão.
O menino caiu de joelhos, as mãos trêmulas enquanto se curvava profundamente,
“M-Muito obrigado, meu senhor! Obrigado por nos salvar!”
Sua mãe, ainda abalada, forçou-se a curvar-se também, sua voz fraca com emoção. Eles supuseram que esse jovem deveria ser um poderoso jovem senhor ou nobre disfarçado para se livrar daquele goblin com tamanha facilidade e atirar um cristal de vida sem um segundo olhar.
“Que os diabos o protejam, senhor bondoso… pelo que você fez hoje…”
A garganta de Oberon apertou.
Uma dor aguda inchou em seu peito, mas ele a engoliu.
Ele alcançou seu manto mais uma vez, desta vez tirando um pequeno saco, o peso de dúzias de cristais de vida lá dentro.
Ele o estendeu para o menino, colocando-o nas suas pequeninas mãos trêmulas.
Os olhos da criança se arregalaram.
“Pegue isto,” disse Oberon, sua voz firme, porém suave, “Cuide de sua mãe. Nunca faça nada que lhe cause dor. Em vez disso, torne-se mais forte para que você possa protegê-la, não importa o quê.”
O queixo do menino tremia enquanto as lágrimas se acumulavam em seus grandes olhos. Ele lutou para manter suas emoções sob controle em meio à sua gratidão esmagadora,
“S-Sim! Eu juro, meu senhor!”
Oberon se virou antes que pudessem ver as lágrimas escorrendo de seus próprios olhos.
Ele se afastou, suas botas ecoando suavemente contra o chão.
O menino e sua mãe observavam suas costas, suas expressões cheias de admiração e gratidão.
“Quem era aquele homem, Mãe?” o menino sussurrou, ainda agarrando o saco firmemente.
A mulher balançou a cabeça, seu olhar suave, mas ainda em choque de que alguém como ele tinha vindo ajudá-los.
“Um homem bondoso,” ela murmurou. “Um homem que carrega um pesado fardo…”
Eles observaram até sua figura desaparecer nas sombras, sem nunca perceber que haviam acabado de se curvar para o próprio príncipe a quem uma vez serviram.
Um príncipe que não era mais um príncipe.
Um homem que não tinha mais nada—
Exceto a dor que nunca o deixaria.